À Luz do verdadeiro Espírito de Natal

Publicado em 24/12/2013 - geral - Luciano Marques

Escapa-nos, diariamente, pelos vãos dos dedos, diversas oportunidades que, aproveitadas, serviriam de alicerce, mais tarde. Mas, infelizmente, frente às dificuldades do dia a dia, - dificuldades que, muitas vezes, nos impomos através de nossas escolhas -, deixamos de preocupar com o futuro, já que mal encontramos tempo para pensar no hoje, quiçá no amanhã. E, motivados pela correria diária, - que para muitos já se tornou um estilo de vida -, acabamos nos deprimindo e limitando nosso campo de visão acerca daquilo que nos deixa realmente felizes.  

À medida que nos contentamos apenas em sobreviver, que nos acostumamos com muito menos do que merecemos, sentimos a vida apenas superficialmente, engolindo as horas sem degustá-las, perdendo a capacidade de sentir o gosto que ela tem. Por que nos contentarmos com tão pouco se podemos almejar sempre mais e melhor? Mas será que sabemos o que melhor para nós?

A vida é um grande teatro, caro leitor. No palco, uns atuam, procurando, através da arte, a melhor maneira de evoluir; na plateia, porém, outros, apenas assistem. A verdade é que sobram muitos lugares nesse palco; muitos atores estão acumulando papeis. Cada vez mais, as pessoas limitam-se, apenas, em assistir a própria vida.

Assim vamos vivendo: “correndo atrás”, como muitos dizem.  Correndo atrás das promessas do réveillon passado: as metas, os planos; renegociar dívidas antigas, fazer dívidas novas, vender os sonhos para pagar os pesadelos, comprar novos sonhos, devê-los, perdê-los; ganhar, emprestar e pegar emprestado. Enfim, a vida se tornou um grande jogo de números e cifras.

Deslumbrados, imaginamos que a felicidade esteja bem escondida ou à espera, no jardim de uma casa nova, sentada no banco do carona de um carro novo ou impregnada na pele e nos músculos de um corpo perfeito. Pensando assim, sob a ilusão da materialidade e da jovialidade, vamos galgando os degraus da escada dos sonhos, como quem escala um monte em busca do ponto mais alto. Mas será que a felicidade está, realmente, à venda, ou à espera, num lugar tão alto e tão longe de nós? Ou será que, distraídos, passamos por ela, diariamente, e nem percebemos?

E mais um ano vai terminando... Eis que chega dezembro, com todo o seu glamour e cheiro de Natal. Com ele, chega, também, a época de montar as árvores, iluminar as praças, os jardins, as casas e as lojas; hora de organizar as festas, comprar novas roupas, pensar na ceia, nas bebidas, na lista de presentes, nos brindes, nas confraternizações e nas promessas de ano novo, aquelas que sobraram do ano passado.

Mas e o espírito natalino? Infelizmente, esse, tem perdido espaço nas ações e nas intenções. Pode até ser muito divulgado nas mídias, compartilhado por milhares de pessoas nas redes sociais, mas de uma forma estritamente temática e superficial. Fala-se muito sobre o Natal, mas vivemos pouco o seu real Espírito. É como ir a uma festa de aniversário e se esquecer daquele que é o grande motivo da comemoração: o aniversariante.

Aos poucos, o Natal vai deixando de ser uma festa Cristã e vai se transformando num negócio, um negócio bastante lucrativo. Assim, o verdadeiro Espírito Natalino, aquele que inspira nas pessoas o forte desejo de diminuir as diferenças sociais, por exemplo, vai sendo engolido por um espírito profano, consumista e cada vez mais individualista.

Outra questão: por que a caridade, a indulgência, a empatia e a solidariedade, - virtudes tão comentadas e enaltecidas nesta época -, não podem ser cultivadas no decorrer de todo o ano, em todos os meses, e não só em dezembro, como sempre acontece? Sinceramente, acredito que, se alguém tivesse essa resposta, com toda a certeza, já a teria vendido.

Por que não estender os votos de “feliz natal!”, as boas ações e os gestos nobres durante todos os dias do ano? Será que as pessoas necessitam de ajuda somente no mês de dezembro? Afinal, “quem tem fome tem pressa”, já dizia o sociólogo Betinho. Mas, essa fome, seria somente do corpo ou, também, da alma, da mente? Lembremos, então, das palavras do Mestre Jesus: “não só de pão viverá o homem, mas de toda a Palavra que sai da boca de Deus”.

Dessa forma, caro leitor, à Luz do Verdadeiro Espírito de Natal, desejo, realmente, que todos nós possamos cultivar em nossos corações, em todos os momentos, as melhores ações, intenções e palavras! Que a felicidade seja notada nos pequenos gestos gratuitos! Que o Amor, o Amor Fraternal, seja sempre o maior motivo e a maior inspiração para continuarmos convivendo como irmãos, irmãos que somos! Que assim seja!

Luciano Marques - Muzambinho