ARTIGO ESPECIAL: “Se eu fosse você”

Publicado em 27/02/2013 - geral - Da Redação

Por mais que nos esforcemos a não influenciar as pessoas, acabamos por pronunciar algumas expressões que, de tão usadas, se tornaram célebres: “Se eu fosse você...”, “Se eu estivesse no seu lugar...”. Pois bem. Como é que uma pessoa pode ser outra pessoa? Podem me chamar de intolerante, mas essa história de “se fosse comigo”, “se tivesse sido de outro jeito”... Pare! A vida é o que é. Nada poderia ter sido diferente do que foi. Ninguém tem o poder de voltar atrás e mudar os fatos. É pura perda de tempo ficar pensando em coisas que já passaram e nada que se faça pode mudar o rumo dos fatos: Já foi!

Vale lembrar que problemas, fases e momentos difíceis, todos têm. Todos nós enfrentamos intempéries em algum momento da vida. Ninguém está livre disso. É impossível um se colocar no lugar do outro. Ninguém pode passar, no meu lugar, aquilo que eu preciso passar. Tudo faz parte de um crescimento gradativo, a partir do enfrentamento das situações. Eu sei que muitos pais, por exemplo, se colocariam facilmente no lugar de seus filhos para poupá-los das situações complicadas e até de risco. A isso chamamos Amor. Mas as coisas não funcionam dessa forma. A dor não dá procuração.

Quanto aos conselhos e palpites, faz-se necessário traçar uma distinção entre os dois. O conselho, entre outros significados, é a ação de opinar, aconselhar sob um ponto de vista qualquer. Diferentemente, palpite, é a ação de pressentir, opinião sem fundamento e que depende, muitas vezes, até da questão sorte. Assim, fica mais fácil saber se o que estamos fazendo é dar palpites ou dar conselhos. A verdade é que aconselhar, palpitar ou, até mesmo, direcionar o pensamento de alguém, é um ato de extrema responsabilidade, já que estamos falando de vidas. Qualquer palavra fora do lugar pode, num momento de extrema ansiedade, acarretar problemas irreversíveis a outrem.

Confessemos! Somos campeões em dar palpites, tomar decisões e até mesmo tentar conduzir o pensamento alheio. Mentira? Não. Infelizmente. São pais tentando controlar a vida dos filhos, mesmo depois de adultos; marido opressor que não permite que sua esposa trabalhe fora de casa; líderes religiosos tentando manipular seus fiéis a viverem de acordo com um determinado padrão de conduta, etc, etc, etc... Então, Cuide da sua saúde, porque, da sua vida, tem quem cuide. O dito é popular, mas extremamente sábio.

Grande parte das pessoas que se atreve a dar conselhos, peca pelo fato de olhar apenas um lado da questão, ou seja, de ver apenas o que está aparente aos olhos, quando tudo, na verdade, depende do ponto de vista. É do teólogo e escritor brasileiro, Leonardo Boff, a frase: Todo ponto de vista é a vista de um ponto. Aquilo que é fácil para nós, muitas vezes, para outras pessoas, é mais complicado do parece. Temos a mania de generalizar as coisas e, com isso, acabamos generalizando, também, as pessoas e seus problemas. E, para que possamos errar menos na hora de dar conselhos, é preciso ouvir mais. Afinal, ninguém nasceu com dois ouvidos e uma boca à toa, não é mesmo?

Saber ouvir é mesmo uma arte. Porém, entender essa necessidade é quase que um milagre. De quantos aborrecimentos poderíamos ser poupados se, antes de dar nossos preciosos conselhos, tivéssemos mais disponibilidade e paciência para ouvir as pessoas? Saber ouvir, mais do que uma arte, é uma necessidade. Mas deveria mesmo é ser um preceito moral, algo intrínseco ao ser humano. Por natureza ou com a velha desculpa da falta de tempo, não cultivamos o ouvir antes de falar. Essa é a mais pura verdade. Com isso, emitimos nossas opiniões de uma forma errada e, até mesmo, cheia de “pré-conceitos”, pois, às vezes, não temos conhecimento daquilo que estamos opinando.

O fato de não saber ouvir, além de caracterizar um mau hábito, coloca-nos numa situação de impaciência e intolerância. Saber ouvir é, também, um ato de caridade. As pessoas estão adoecendo porque não encontram quem as ouçam e, muitas vezes, o que muitos querem não é nem mesmo um conselho, mas um amigo que possa escutá-las, acolhê-las e, até mesmo enxugar-lhes as lágrimas se preciso for.

E nós? Nós que, inúmeras vezes, já recebemos tantos conselhos errados, uma chuva de palpites desnecessários, que só serviram de combustível para aumentar nosso problema, ainda assim fazemos a mesma coisa. Ofertamos os nossos conselhos a partir da nossa própria experiência, ou, até mesmo, o que é muito comum, alimentamos nossa vaidade de, simplesmente, querer ter a solução para o problema do outro.

Diante dessas situações inerentes ao ser humano, prefiro comungar daquele velho ditado que diz que Muito ajuda quem não atrapalha. Precisamos, o quanto antes, tomar consciência de que não temos o poder de decidir pelo outro. Pensemos! Se até mesmo Deus, na sua infinita misericórdia e bondade, concede-nos o poder de decisão, através do livre arbítrio, quem somos nós para querer decidir alguma coisa por alguém?

Luciano Bueno Marques  / buenomarques@yahoo.com.br