Brasileiros devem R$ 1 trilhão a bancos

Publicado em 28/09/2012 - geral - Da Redação

Com dívida trilionária, calote continua alto e preocupa. Mas juros recuam e taxa média é a menor desde 1994

O brasileiro já deve mais de R$ 1 trilhão e, se depender da postura agressiva assumida pelos bancos públicos, essa cifra pode crescer ainda mais. Pelas previsões do Banco Central, enquanto nas instituições privadas o crédito deve avançar entre 10% e 13% em 2012, nas estatais o incremento será de 24% – antes a projeção era de 21%. Para especialistas, a diferença entre os bancos é “gritante”, mas está de acordo com a ordem do Ministério da Fazenda de impulsionar a economia por meio de financiamentos baratos. A preocupação de analistas, no entanto, é com a inadimplência, que mesmo com a queda dos juros em quase 10 pontos percentuais entre fevereiro e agosto, persiste em nível elevado, 7,9%.
Segundo o Banco Central, os indícios são de que o calote das famílias deve diminuir nos próximos meses. “Nosso cenário é de acomodação e recuo até o fim do ano”, disse Túlio Maciel, chefe do Departamento Econômico do BC. “Com o emprego e renda em alta, temos as condições que ajudam a reduzir essa inadimplência”, afirmou. Maciel destacou que a queda dos juros médios para os consumidores – que eram de 45,4% ao ano em fevereiro e caíram para 35,6% em agosto –, deve contribuir também para a melhora dos níveis de inadimplência. Pelos números da instituição, porém, os calotes permanecem estáveis há dois meses.
A taxa de juros para as pessoas físicas, ainda de acordo com o economista, é a menor desde 1994, recuou 0,6 ponto percentual em agosto e, no acumulado de 12 meses, 10,6 pontos. “Essa redução dos juros, nessa magnitude, nunca aconteceu antes. A inadimplência está em patamar elevado, mas temos indícios de que renegociações têm ocorrido em função dessas taxas mais baixas e contribuído para a moderação desse indicador”, disse Maciel.
Entre as operações de crédito, a que tem maior saldo ou a que concentra a maior parte das dívidas dos brasileiros é a de financiamento imobiliário: um segmento que acumulou R$ 250 bilhões até agosto, mas que não preocupa o governo, pelas características de longo prazo e em função dos custos, que estão entre os menores.

Preocupação - A preocupação da equipe econômica da presidente Dilma Rousseff está em outras operações de custos classificados por especialistas como “exorbitantes”. No cartão de crédito, por exemplo, que chega a cobrar mais de 200% de juros ao ano, as famílias deviam, até agosto, R$ 37,4 bilhões. No cheque especial, que tem taxa de 148% ao ano, essa fatura chega a R$ 21 bilhões. Com modalidades de crédito tão caras, se tornou comum ao brasileiro, principalmente o que ingressou mais recentemente ao mercado de consumo, ter o nome negativado em bancos de dados.
Com isso, segundo João Augusto Salles, economista da consultoria Lopes Filho, os bancos ficaram mais restritivos na concessão de crédito, e isso deve ajudar na melhora das taxas de inadimplência. “Enquanto os bancos públicos estão puxando o crédito, os privados estão preocupados com o dinamismo da economia, que não é pujante, e com a questão da inadimplência”, observou. Luiz Miguel Santacreu, analista da gestora de risco Austin Rating, considera que o efeito da aceleração dos bancos públicos só poderá ser medido do ponto de vista da inadimplência ao fim do ano. “Essas coisas demoram para fazer efeito, porém os dados dos bancos públicos mostram que eles tem inadimplência menor que os privados”, explicou.

Fonte: Estado de Minas, por Victor Martins, 27/09/2012, Seção Economia