“Câmara do Café é nossa única saída”, desabafa produtor

Publicado em 17/04/2014 - geral - Da Redação

Suplente de deputado estadual pelo PT do B, o produtor rural Emidinho Madeira (Nova Resende) vem desenvolvendo uma grande luta em prol da cafeicultura. Ao longo dos anos, o setor enfrenta uma grave crise com a falta de preço adequado para a saca. Para agravar a situação, nos últimos meses a seca prolongada vem comprometendo a produção e qualidade do café.

Emidinho Madeira, presidente de uma Comissão Regional do Café, é direto ao relatar a gravidade da crise enfrentada: “A situação do cafeicultor é muito delicada porque não tem representante. Nos últimos anos, é cobra comendo cobra”. Mesmo com o aumento no preço da saca, poucos produtores tem café para vender, sendo que a maioria vendeu a R$ 250,00. Sobre a seca prolongada, todos sabiam, mas não falavam. Por sua vez, foi criticado por funcionário de cooperativa por anunciar que seriam necessárias 20 ou 30 medidas para beneficiar 1 saca. Entende que pesquisa do IBGE gerou um grande prejuízo ao cafeicultor, o mesmo ocorrendo com a previsão de safra da CONAB. Até porque a estimativa de 60 milhões de sacas não se confirma, não devendo chegar a 40 milhões. Para o produtor, é mais viável divulgar uma pesquisa do estoque mundial e não do café a ser colhido.

A liderança lembra que, quando a saca do café chegou a R$ 500,00, surgiu um grande boato de que seria necessário um período de cinco anos para repor o estoque mundial. Com isso, o produtor não vendeu, gerando agora grande prejuízo. Criticou também as cooperativas e empresas cafeeiras que blindam seus negócios, sem defender verdadeiramente o cafeicultor.

No ano passado, Emidinho participou de onze audiências em Brasília/DF reivindicando preço justo para o café e renegociação das dívidas. Entende que o governo estadual não faz nada pelo cafeicultor, enquanto que o governo federal faz muito pouco. Por outro lado, argumenta que a cafeicultura ajuda todos os setores da economia. Reclamou da falta de apoio das cooperativas quando apresentou uma perda significativa na produção e qualidade devido ao período de seca. A liderança relatou que, numa propriedade na cidade de Guapé, estão sendo necessárias 26 medidas para conseguir uma saca de café beneficiado e sem qualidade. Considerando o preço da saca a R$ 200,00 e o custo de R$ 6,00 por medida, é possível observar uma perda de 100%. Com o andamento da colheita, a estimativa é de um custo entre 8 e 10 reais por medida. Portanto, o prejuízo será muito grande para o produtor.

CÂMARA DO CAFÉ - Emidinho anunciou que estará montando uma Câmara do Café do Sul de Minas Gerais, contando com a participação de quinze cafeicultores da região. Assim, as reivindicações serão apresentadas pelos próprios produtores, sem interferência de cooperativas. Defende ainda a montagem de salas de provas pelos municípios e associações. Com isso, o produtor terá garantias da qualidade do café a ser vendido.

Quanto ao futuro, a liderança declarou que observa soluções para o setor. Mas defende que o produtor deve participar de cursos sobre o custo de produção, acompanhando o mercado para vender o seu produto no momento certo. A própria Câmara do Café deverá acompanhar as informações corretas, passando diretamente para o produtor. “A nossa situação é difícil porque não temos representantes. A Câmara do Café é a nossa única saída”, voltou a argumentar.

SAFRAS COMPROMETIDAS - O produtor foi direto ao afirmar que a safra deste ano está comprometida. O café novo (5 e 6 anos) sofreu muito com a seca e não tem raíz suficiente para alcançar a umidade. O café mais velho sofreu menos, mas o produtor não fez a adubação correta das lavouras. “Quando não tem crescimento de vara e vigor de folha, não tem produção”, explicou. Acrescentou que a produção de 2015 também está comprometida na sua quantidade e qualidade.

GOVERNO ERRA - Emidinho também criticou o governo federal pela falta de criação de uma política para a cafeicultura. Entende que o governo deveria investir num instituto independente para apresentar uma pesquisa do estoque mundial e mostrar a realidade, orientando diretamente o produtor. Além disso, criticou o fato do governo não investir no marketing do café brasileiro no exterior. Sugere, inclusive, o marketing do café brasileiro nos estádios da Copa do Mundo do Brasil, aproveitando este momento. Também criticou o governo estadual pela falta de ações em prol do setor. Segundo ele, foi uma comissão do café, e não cooperativas ou empresas, que conseguiram a prorrogação das dívidas dos cafeicultores. “Quem conseguiu foi a Comissão dos Cafeicultores do Sul de Minas e o ofício está no nosso nome”, disse.