Publicado em 26/04/2021 - geral - Da Redação
Antônio e Jurema tiveram dois
filhos e os criaram na simplicidade da vidinha que levavam na roça. Durante
toda vida de casados, e isso já eram trinta e cinco anos, Antônio e Jurema
nunca fizeram longas viagens, a não ser duas vezes que foram em excursão para
Aparecida do Norte.
Antônio estava se gabando naquela
tarde no boteco do Rosalino.
- Esse fim de semana vou pra praia!
Os companheiros de copo, que assim
como Antônio nunca haviam estado numa praia, caçoavam.
- Toma cuidado Tonho, esses
lugares estão cheios de tubarões.
- E eu tenho medo de tubarão? Se
fizer graça frito o bicho ali mesmo!
Finalmente chegou o dia da viagem
e o casal de matutos seguiram juntamente com o filho mais novo e a nora para o
encontro com o mar.
- Olha Jurema que mundão de água!
Deve ter um monte de peixe aí dentro!
Antônio vestindo um bermudão
Tactel marrom observava fascinado o mar, enquanto Jurema dentro de um maiô
florido comprado pela nora olhava encabulada para as outras pessoas.
- Tonho, tá todo mundo olhando pra
mim. Estou morrendo de vergonha!
- Ah Jurema olha! Tem um monte de
mulher que nem você aqui.
- Tô com vergonha das minhas
pernas brancas e desse meu barrigão!
- Para de ser boba mulher, por
isso mesmo que ninguém vai ficar olhando ocê!
Jurema ficou irritada, mas não
teve tempo de xingar Antônio que corria em direção ao mar. Para não ficar
sozinha na areia, ela correu atrás do marido.
- Olha jurema! É rasinho. -
Antônio foi entrando cada vez mais para dentro do mar, enquanto Jurema apenas
molhava os pés na espuma das marolas.
Antônio estava com a água na
altura do peito quando uma onda repentina o encobriu e ele foi jogado para o
fundo. Jurema desesperada gritava pelo marido. Pessoas se aproximaram.
Alguns segundos depois Antônio
aparece cambaleando e tossindo. Ao sair da água sentou na areia e ficou
tossindo com ânsia de vômito, deve ter tomado mais de um litro de água salgada.
Depois desse incidente, Antônio não entrou mais na água e acabou os outros dois
dias de praia ao lado de Jurema, sentados na areia debaixo de um guarda-sol.
Ao retornarem para o interior foi
ao boteco do Rosalino contar as novidades e tomar cachaça. Os amigos já sabiam
do acontecido e não perdoavam.
- Ficamos sabendo que você quase
morreu afogado. Bebeu um mundo de água e depois disso não saiu de perto da
Jurema!
Antônio não se deixava abater.
- Eu bebi água pra ver se era
salgada mesmo e fiquei perto da Jurema porque tinha uns caboclos mal
intencionados olhando pras pernas dela!
Rodrigo Alves de Carvalho nasceu em Jacutinga
(MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários
estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas.
Em 2018 lançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora
Clube de Autores.