
Durante a abertura do Curso de Capacitação de Agentes Multiplicadores na Prevenção ao Uso de Drogas realizado pela administração de Muzambinho entre os dias 06 e 10 de junho, nossa reportagem ouviu o delegado do DENARC – Departamento de Investigação Sobre Narcóticos da Polícia Civil de São Paulo, Dr. Reinaldo Correa. Com 38 anos de experiência e considerada uma das mais importantes autoridades na área no Brasil, o delegado valorizou a iniciativa do poder público de Muzambinho. Principalmente, diante da necessidade de informação aos pais sobre as drogas nos dias atuais. Considerou a internet uma aliada dos usuários de drogas, sendo que os pais não acompanham esta evolução.
ORIENTAÇÃO AOS PAIS - Dr. Reinaldo Correa afirma que a primeira observação se refere ao álcool, que é uma droga lícita. Entende que os adolescentes estão abusando no uso da bebida alcoólica. Neste sentido, cabe aos pais frear este ímpeto da juventude porque o álcool é a droga de entrada das demais. “Através da bebida, cai por terra o freio moral colocado na cabeça dos filhos”, disse. Mediante a oferta de um amigo e sob efeito da bebida, o jovem aceita a droga, se tornando dependentes em pouco tempo. A partir de então, fazem uso da droga mais pesada, mesmo sem o álcool.
O pai também deve ficar atento quanto à mudança de comportamento do filho dentro de casa. Devem ser observadas atitudes como isolamento no quarto, armário fechado, ausência de casa por períodos maiores que o normal, perda de peso, etc. “Desconfie e mantenha o diálogo com o seu filho. Através do amor é possível trazer o filho de volta”, falou.
COMBATE EFETIVO - O combate ao tráfico cresce na mesma proporção da incidência da droga no Brasil? Respondendo a esta pergunta, a autoridade informou que nunca foram feitas tantas prisões e apreendido tanto volume de drogas como nos dois últimos anos. Revelou que o tráfico de drogas é o responsável por mais de um terço dos adolescentes recolhidos na Fundação Casa, em São Paulo. São mais de 2.800 adolescentes com envolvimento com o tráfico. Também nas penitenciárias paulistas quase 50% do seu efetivo se deve ao tráfico de entorpecentes. Pelo mesmo motivo, quase 40% dos processos que estão nas varas criminais de São Paulo se referem a este tipo de crime. “A polícia tem feito o seu trabalho. O que ocorre é que a cada dia cresce o número de usuários”, disse. Acrescentou que a droga representa é um comércio, com oferta e procura. Quanto maior a procura, maior também a oferta. Assim, sem usuários, o traficante deixaria de existir.
MUDANÇA NA LEGISLAÇÃO - Indagado sobre a necessidade de mudança na legislação, Dr. Reinaldo Correa comentou que a nova lei de 2006, nº. 11.343, acabou sendo um pouco “permissiva”. Ou seja, alterou a legislação no tocante ao usuário, que antes tinha uma pena privativa de “liberdade”. Hoje, tem uma pena privativa de “direito”. Depois desta lei o usuário não se esconde mais e usa a droga em qualquer lugar. Na visão da autoridade, a lei precisaria ser alterada advertindo o usuário na primeira apreensão. Na segunda apreensão, que seja feito o encaminhamento para tratamento. Caso não aceite o tratamento, o usuário deveria ser passível de uma pena instrutiva de liberdade. “Acho que estes são pontos a serem tratados no Congresso’, disse.
DESSERVIÇO AO BRASIL - No final da entrevista, foi questionado o posicionamento do delegado do DENAC sobre as campanhas pela liberação da maconha no país. Confira a resposta na íntegra: “Somos totalmente contrários. Achamos que é um desserviço que o ex-presidente Fernando Henrique tem feito em defender a liberação da maconha. E também de muitas outras pessoas que um certo nome na imprensa se manifestando à favor da discriminalização da maconha. Primeiro, o Brasil é signatário de um tratado da ONU e não pode liberar uma coisa e desrespeitar este tratado. Outra coisa, eles apontam Portugal como território livre e que é liberado. Não é liberado. Portugal trata da mesma forma que nós tratamos: o usuário não tem pena, mas o usuário é passível de ser encaminhado a tratamento e de tomar multas pecuniárias e até prestação de serviços à comunidade. Isto não é uma liberação. Também na Holanda tem restrições. Só é possível consumir em determinados locais. O estrangeiro já não pode entrar na Holanda e consumir drogas. O Parlamento, há quinze dias, proibiu isto. Veja, todo mundo endurecendo a legislação e aqui no Brasil se prega pela liberação”.