Publicado em 15/03/2018 - geral - Da Redação
O objetivo da missão é compartilhar experiências e conhecimento em
relação às políticas públicas voltadas para a agricultura familiar e para a
extensão rural
Uma
delegação de Moçambique visitou a sede da Agência Nacional de Assistência
Técnica e Extensão Rural (Anater) nesta quarta-feira (14), para conhecer mais
sobre os projetos que a agência vem desenvolvendo junto aos produtores rurais.
A
missão africana faz parte de um acordo de cooperação entre Moçambique e o
Governo Federal brasileiro, através da Secretaria Especial de Agricultura
Familiar e do Desenvolvimento Agrário (Sead), para compartilhar experiências e
conhecimento em relação às políticas públicas voltadas para a agricultura
familiar e para a extensão rural.
Durante
a reunião, o presidente Valmisoney Moreira Jardim apresentou como a Anater se estruturou
para fazer a gestão do sistema nacional de Ater. “Apesar de estar no início de
sua operacionalização, a Anater possui uma proposta inovadora de gestão de
Ater, com instrumentos robustos para efetivar seus projetos. Em algumas regiões
do Brasil, como o Semiárido e Norte do país, o desafio dos extensionistas é bem
parecido com a realidade vivenciada pelo setor em Moçambique, em vários
aspectos, então, é uma honra e, ao mesmo tempo, uma grande responsabilidade
para nós compartilhar nossa experiência e servir de inspiração para essa
missão”.
O
assessor internacional da Sead, Ricardo Garcia França, explica que a missão faz
parte e um projeto regional que a Sead mantém com um conjunto de países da
África. “Mas como Moçambique é o país africano que mais tem cooperação com o
Brasil, e, em certa medida, é uma porta de entrada para a África, resolvemos
fazer um projeto nacional, com troca de conhecimentos e experiências, para que
eles vejam um pouco da experiência brasileira e possam adaptar ou se inspirar para
construir o processo deles”.
Segundo
Ricardo Garcia, a Ater é o tema central da cooperação. “A Ater é a grande
questão sobre a qual Moçambique queria dialogar, no conjunto dos seus aspectos,
inclusive no cadastro de entidades prestadoras de Ater. Esse diálogo também
inclui temas gerais da agricultura familiar e as políticas públicas voltadas
para o setor, em especial, um instrumento de identificação, parecido com a
nossa Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP), e a criação de um conceito
nacional, nos mesmos moldes da lei brasileira que define a agricultura
familiar. Além das visitas ao Brasil, a delegação tem realizado em Moçambique
uma série de seminários, com participação de técnicos da Sead, para debater o
tema agricultura familiar, e, agora, está aprofundando um pouco mais no tema
extensão rural”.
MÚTUA
COOPERAÇÃO
Ricardo
observa que nessa missão ao Brasil, realizada de 12 a 16 de março, a delegação,
de forma especial, tem uma diversidade na equipe, com representação não apenas
dos órgãos do governo, mas também dos camponeses. “A cooperação técnica entre
os dois países tem algumas questões que são mais práticas e outras mais sutis.
Para alguns temas, como políticas para a agricultura familiar e Ater, o Brasil
é um dos países mais avançados do mundo, então, em certa medida, Moçambique se
beneficia. Mas quando se vai a Moçambique, é possível ver que a realidade é
muito semelhante à de algumas regiões do Brasil, e eles encontraram soluções
interessantes para trabalhar isso, com metodologias como a das Escolas na
Machamba do Camponês, onde a assistência técnica ocorre de forma participativa
e orientada, sendo compartilhada entre os camponeses”.
O
assessor da Sead destaca que quanto mais se dialoga com outros países sobre
agricultura familiar e extensão rural, mais se fortalece a ideia de que existe
uma agricultura diferente da outra, e que para essa agricultura é preciso de
políticas específicas, de órgãos específicos para trabalhar com ela, tendo o
agricultor familiar como um importante agente econômico, produtivo.
O
diretor de Documentação e Informação Agrária do Ministério da Agricultura e
Segurança Alimentar, Germano Amado, explica que a Ater em Moçambique é
realizada pelo Estado em quase todos os distritos (mesmo conceito de município
no Brasil). Além de atender ao produtor, os serviços distritais de atividades
econômicas também desempenham o papel social e interlocução com pessoas vulneráveis,
divulgando ações como campanhas de vacinação, por exemplo.
Segundo
o diretor, Moçambique tem cerca de 4 milhões de produtores familiares e a
cobertura de Ater é de cerca de 17%. “Moçambique está atualizando seu Plano
Diretor de Extensão Rural que prevê que um extensionista atenda anualmente até
250 produtores. A cooperação técnica com o Brasil está sendo muito proveitosa,
estamos a ver aqui novas experiências, um modelo de agricultura diferente do
nosso, donde queremos tirar algumas ilações no sentido de fazermos a gestão da
agricultura de nosso país”.
Atualmente,
cada extensionista chega a acompanhar 600 produtores por ano no país.
RESULTADOS
Bartolomeu
Antônio, da União Nacional dos Camponeses (UNAC), que representa os produtores
familiares na missão, diz que participar dessa cooperação é um ganho para os
camponeses. “Estamos a discutir as políticas agrárias do nosso país e estamos
inseridos nesse debate. Não só aqui. Em Moçambique tivemos uma reunião nacional
com a delegação, em que participaram todos os presidentes das Uniões de
Províncias de Camponeses. Depois, a missão foi às regiões e lá estiveram também
camponeses a discutir. Isso foi um avanço importante para nós.
Outro
ponto que achei importante é a conexão entre as entidades governamentais e a
sociedade civil. Graças a essa interação, as políticas agrárias respondem às
necessidades dos camponeses brasileiros. A sociedade civil está envolvida e dá
sua contribuição”, avalia.
Para
Bartolomeu Antônio, conhecer o processo de credenciamento da Anater foi
importante para o trabalho que a Unac está desenvolvendo. “Moçambique possui cerca de 2.600
associações, com um universo de 51 mil membros cada, sendo 56% mulheres, e
estamos no processo de cadastramento dessas organizações. Como movimento, nosso
primeiro trabalho é mobilizar os camponeses em grupos organizados, incentivar
em relação às políticas agrárias, para que tenham acesso e saibam como melhor
utilizá-las. Atualmente, essas organizações se sustentam por contribuições, e
isso não é tão fácil porque viemos de uma economia socialista. Quando nos
tornamos independentes o Estado era o “pai de todos”, até 1987, quando as
políticas mudaram para o capitalismo. É aí que está o desafio. Dizer que vamos
pagar cotas para nosso sustento parece uma coisa do outro mundo. Mas com o
desenvolvimento das políticas agrárias, temos a esperança de que a agricultura
familiar e a extensão rural se fortaleçam em nosso país, que os camponeses
possam ater maior acesso à assistência técnica, que possamos ter infraestrutura
para escoamento da produção, com boas estradas, armazéns ou celeiros, e que
haja uma maior proteção da produção local para inserção no mercado”.
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Jerúsia Arruda
Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural
(Anater)
Assessoria de Comunicação