Desfile de carreiros resgata tradição em Monte Belo

Publicado em 21/02/2011 - geral -

No domingo, 06/02, montebelenses e visitantes tiveram o prazer de prestigiar na cidade, um dos mais belos desfiles de carros de bois de sua história. Organizado pelo ex-vereador conhecido como Luis Carlos “do Dotti” e pelos amigos, Luis Paulo Caldas, “Mané do Benedito”, “Zezinho Joaquim”, Miguel Beraldo, e Miguel Martiniliano, o evento contou com cerca de 118 carros de boi, representando  em média 20 municípios distintos do Sul e Sudoeste mineiro, como Muzambinho, Areado, Cabo Verde, Alterosa, Jacuí, Bom Jesus da Penha, Jacuí, Juruaia, Nova Resende, por exemplo. Além disso, cidades como Ilicínea, Poço Fundo e Poços de Caldas, também marcaram presença, mas estas, somente prestigiando o acontecimento.
Jovens, crianças, adultos e idosos participaram da festa e colaboraram, divulgando no cenário urbano, a cultura vista e protagonizada pelos sertanejos de todo o Brasil.
O desfile ocorreu no último dia dos festejos realizados em louvor a São Sebastião, iniciados no dia 14 de janeiro deste ano.
O encontro começou com almoço e muita música caipira no antigo parque de exposição da cidade, “Celino” (localizado na rodovia que liga a cidade ao distrito de Juréia), no domingo às dez da manhã. Aproximadamente 500 pessoas saborearam da comida mineira caipira no sábado, enquanto no domingo, com a presença dos familiares e amigos dos carreiros, 1200 pessoas compareceram na prévia dos festejos. Carreiros adultos e mirins seguiram ao centro da cidade, mais propriamente à avenida Francisco Wenceslau dos Anjos ao meio-dia, onde desfilaram junto de seus animais. A beleza e criatividade visto nos carros de bois encantaram a população, que compareceu em grande número à praça para aplaudir e admirar a cultura resgatada e transmitida na alegria, no olhar e na emoção de cada sertanejo.
A locução do encontro ficou por conta do já conhecido “Tidi Carreiro” (Vital de Souza), de Nova Resende e do anfitrião “Gauchinho”.
Promoções deste tipo engrandecem e valorizam a riqueza dos povos, que por muitas vezes esquecem suas origens para dar atenção às modernidades e outras falsas riquezas que estão cada vez mais presentes em nosso cotidiano.

“Boi de carro” - O carro de boi
Pode ser carro e carreta, a diferença é que a carreta não “canta”.
O carro de boi foi o principal meio de transporte no período colonial, no império e até mesmo no início da república. O veículo é, visto de qualquer ângulo, uma condução simples de duas rodas, feito de madeira e ferro. Na traseira do carro, há o argolão de ferro, que serve para engatar os bois para puxar o carro para trás, quando encalha, e para encangar os bois de retranca, quando a descida é muito forte.  Para proteger a carga, usa-se couro curtido inteiro de boi . Quatro deles cobrem um carro

As Madeiras - As madeiras empregadas para fabricar carros de boi são, em geral, sucupira, óleo vermelho, ipê, tabaco, garapa, cipó, jacarandá da Bahia, pitangueira, tambu, canela sebosa, leiteiro, figueira sangra dágua, bico de pato, caviúna, sapuva(saperetê), jacarandazinho, peroba, cada uma delas, colabora para a fabricação de uma das partes do veículo (mesa, chedas, eixo, arreias, tornos ou pinos, fueiros, cavilha, pigarro, cocões, chumaço, canga, canzil...)  

O boi - Em geral, os carros podem comportar até dezesseis bois, caso a carga seja muito pesada para dois, quatro, seis, oito... Boi de cabeçalho ou de coice é a denominação para aquele animal de força, arrasto firme, geralmente eles são os primeiros depois do carro. Na ponta podem ser colocados os menores, mais sabidos e, no meio, os mais bravos, já que no meio dos outros não causarão problemas. Boi gordo perde a força, não tem mais serventia.
Os nomes dado às criações são os mais variados, eles revelam a proximidade e o íntimo existente entre carreiro e boiada. É o sentimento presente na palavra, a aproximação entre homem e animal. Veja alguns exemplos, “Fumaça, Melindroso, Coração, Dourado, Maneiro, Faceiro, Formoso, Espadilha, Sete de Ouro. Estrela, Malhado, Turuna, Namorado, Pitanga, Corumbá, Maravilha, Limoeiro. Montanha, Brioso, Barroso, Moreno, Mulato, Ponteiro, Caruaru, Cravinho, Cruzeiro, Caprichoso”, entre outros tantos...

Homenagens - Várias músicas foram elaboradas em homenagem a essa tradição que está no sangue e no coração do brasileiro, algumas das mais conhecidas foram relatadas na voz de duplas sertanejas como Tonico e Tinoco, por exemplo. Veja alguns dos títulos mais conhecidos e seus autores, “Boi de Carro” (Tonico e Tinoco; e  Anacleto Rosas Jr.), “Carreiro Sebastião” (Carreirinho), “João Carreiro” (Raul Torres), “Carro de Boi” (Tonico), “Boi Amarelinho” (Raul Torres) e “Velho Carreiro” (Tonico e Zé Paioça).