Publicado em 03/10/2011 e atualizado em 03/10/2011 - geral - Assessoria
Prestes a completar 12 anos de existência, o Grupo de Teatro Boca de Cena de Muzambinho demonstra maioridade artística com “Orquestra de Senhoritas”. Uma das mais agradáveis surpresas deste início de primavera, a encenação do texto de Jean Anouilh, em que o diretor Fábio Anderson se empenhou por mais de três meses de puxados ensaios, resultou num espetáculo bem acabado, profissionalmente correto e que, promete fazer o público poços caldense rir muito. O texto contém uma visão amarga do ridículo da vida, do outono de pessoas simples, mais do que caricaturas, seres humanos que provocam ternura e emoção no espectador sensível. A primeira vista a idéia é grotesca: homens interpretando velhas musicistas que tocam num café-concerto, numa estação de águas na França em 1947.
A idéia de atores transvertidos foi utilizada em Paris, quando “L Orchestre” estreou no início dos anos 60, foi repetida na montagem em São Paulo, em 1975, dando ao ator Paulo Goulart, no papel de Madame Hortense, o troféu Moliére. O admirável texto de Jean Anouilh (Bordeaux, 1910), dramaturgo francês, autor de peças como “A Cotovia” (1953) e “L’invitation au chateau” (1947), sustenta, sem dúvida, o espetáculo e na montagem que Poços de Caldas assiste agora, o Boca de Cena procurou manter-se fiel ao autor, impedindo que em nome da suposta “criatividade” retirasse do espetáculo o que ele tem de mais importante: a crônica triste de um grupo de pessoas solitárias, enganando-se a si mesmas. O ambiente e os personagens sugerem toques de Fellini, que aliás em seu “8 1/2" fazia algumas sequências num café-concerto onde se exibia uma orquestra de senhoritas.
Sem aprofundar-se nesta linha de visão do espetáculo, o grupo promete, entretanto, momentos de imensa ternura, como o cortante diálogo entre Suzanne e Léon, interpretados por Evandro Souza e pela atriz Robênia Ribeiro, que engraçadamente faz o único papel masculino da peça. Aparentemente cômico, chega a ser trágico certos momentos que provocarão gargalhadas na platéia. Por exemplo, o longo diálogo entre Patrícia (Érika Evangelista) e Pamela (Silas Navarro), nas escatológicas revelações mãe-filha. O humor fino e inteligente de certas passagens não evidencia certos os palavrões, todos, aliás, dentro do espírito do espetáculo e cuja manutenção felizmente foi mantida, já que está no texto original.
A criação do espaço teatral em Muzambinho
Muzambinho é uma das únicas cidades do sul de Minas a não ter um espaço teatral. E, por mais de 12 anos o Boca de Cena lutou na esperança de convencer o poder público da importância de se valorizar a cultura e a educação através de um meio artístico tão abrangente e que fala a tanta gente como o teatro. Em vão. Por sucessivas administrações o teatro foi esnobado e deixado para trás como algo “menor”, na visão político-partidária tão brasileira. Mas agora o Boca de Cena resolver “embirrar” e criar o seu próprio espaço teatral. E já está em plena campanha para arrecadar dinheiro e ajuda para criar o seu Teatro da Barra, em Muzambinho. Esta apresentação mesmo é uma das maneiras de colocar o barco para andar e erguer paredes, como dizem em Minas Gerais. O grupo está empenhado em conseguir apoio, patrocínio e ajuda de todos os amigos interessados na cultura de nossa gente. Se você é um desses obstinados, colabore com o grupo que estará depois das apresentações com um Livro Ouro na saída do teatro. E se souber de alguém ou alguma empresa que queira cooperar com a arte, entre em contato com os integrantes do Boca de Cena. “Somos órgão de utilidade pública de Minas Gerais, um dos poucos grupos culturais com 12 anos em Minas, temos 90% dos nossos atores profissionalizados, somos uma empresa constituída que é uma entidade sem fins lucrativos, respeitados e amados pelo público e pela crítica, mas nem por isso conseguimos convencer o poder público a providenciar um teatro para Muzambinho. É triste”, diz o diretor Fábio Anderson. “Vamos em frente, vamos produzir mais e mais espetáculos”, reitera o ator Fábio Ribeiro.
Portanto, o Boca de Cena pensa ter conseguido realizar um espetáculo decente - que diverte não só aqueles que só buscam passatempo no teatro, mas também faz pensar e emociona aos mais sensíveis. Como num filme de Fellini.
No sábado (1º), o grupo muzambinhense apresentou com sucesso a “ORQUESTRA DE SENHORITAS”, de Jean Anouilh, com direção de Fábio Anderson no Teatro URCA em Poços de Caldas. A peça teve como elenco : Fábio Ribeiro – Madame Hortense; Evandro Souza – Suzane Delícias; Érika Evangelista – Patrícia; Silas Navarro – Pâmela; Márcio Costa – Leona; Daniel Gobbo – Ermelinda; Robênia Ribeiro – Léon; Som e Luz – Thúlio Marques e Letícia de Lélis; Contra-regras: Doni Costa, Andressa Feliciano.