Publicado em 10/06/2015 - geral - Da Redação
Não é um reboot, quando uma franquia é retomada a partir de suas origens, mas “Jurassic World” - com estreia nesta quinta-feira (11) nos cinemas - traz a mesma estrutura dramática do primeiro filme, lançado em 1993, carregado de críticas à ciência capitalista, se assim podemos definir um tipo de progresso associado ao retorno financeiro e que deixa a ética em segundo plano.
Com outros atores e com efeitos especiais mais desenvolvidos, que possibilitam maior interação entre elenco e dinossauros, o quarto filme da série reprisa os três atos de “Jurassic Park”: a apresentação do “paraíso” (o parque) e seus “pecadores” (cientistas e funcionários), a punição por quererem se igualar a Deus e a destruição que separa o joio do trigo.
Nesses filmes sobre cientistas e homens megalômanos, que usam a tecnologia para desviar o curso natural da vida, principalmente através da ressurreição (tema presente de “Frankenstein” a androides), o aspecto religioso é sempre invocado, ainda que de maneira sutil, como um alerta para os perigos que rondam esse tipo de afronta às leis divinas.
No caso de “Jurassic World”, porém, podemos incluir um outro “demônio” nessa conta: a globalização. A começar pela troca da palavra “Park”, mais restritiva, por “World” (mundo, em português). Aqui estão alguns pilares desse novo sistema de coisas, como a transnacionalização e a privatização das instituições.
Não se trata mais, como já vimos em várias tramas de ação, de reunir pessoas de diferentes grupos étnicos, sociais e religiosos. Em “Independence Day”, por exemplo, havia um cientista judeu, um militar negro e um presidente metido a herói. No final de tudo, estava a certeza de que o Estado era fundamental para regular essas relações.
Agora vemos brancos, negros, indianos e chineses completamente integrados a esse objetivo comercial, como se fosse uma linguagem universal. O dono do parque já não é mais um aristocrata inteligente, mas sim um indiano aventureiro, enquanto o cientista-mor deixa de ser um nerd ou louco para se transformar num chinês sem preocupação moral.
Dessas duas economias que emergiram no cenário econômico mundial, nascem o temor dos americanos de hoje em relação à nova ordem, confusa e ambígua, representa pelo novo monstro - um dinossauro manipulado geneticamente. O governo e os militares estão completamente ausentes, com a segurança privatizada como no futuro desenhado por “Robocop”.
“Jurassic World” é uma espécie de “Tubarão” globalizado. Dirigido por Steven Spielberg, que assina a produção do filme de dinossauros, esse suspense aquático mostrava um governo municipal que, a despeito dos vários avisos, opta por não fechar as suas praias em pleno verão, para não perder os recursos oriundos do turismo.
Essa atitude se repete em “Jurassic World”, em que os proprietários do parque tentam conter um predador gigantesco sem tirar os visitantes da ilha. Mudam-se os protagonistas, passando à iniciativa privada, mas o resultado é idêntico, inclusive na construção da “personalidade” do bicho assassino, que é inteligente e vingativo.
O xerife de Roy Scheider dá lugar a um autônomo (Chris Pratt), que não está vinculado a nada aparentemente. Podemos defini-lo como uma espécie de Indiana Jones moderno, corajoso e cínico. Necessário naquele momento em que todos os protocolos de contenção (eufemismo repetido à exaustão no filme) não têm êxito.
Mas a ação-chave vem de uma funcionária do parque (Bryce Dallas Howard), chata e workaholic, com pouco tempo para se dedicar à família, que durante a história vai, simbolicamente, tirando e rasgando as suas roupas até ter a grande ideia: soltar um velho monstro, que, em outros tempos, provocou bons estragos, mas não tantos como esse novo modelo, híbrido e dúbio.
Fonte: Hoje em Dia