Manuais idiotas do novo milênio

Publicado em 28/11/2012 - geral - Da Redação

No dicionário das empresas despejadoras de penduricalhos tecnológicos no mercado, consumidor é um idiota, com dinheiro no bolso, vontade de comprar  e uma enorme paciência para ser espezinhado!

O primeiro mandamento de todo marqueteiro é  o respeito ao consumidor. E esta regra é relegada a um plano muito secundário, por parte dos fabricantes.

Você que me honra com sua leitura já deve forçosamente ter adquirido uma traquitana eletrônica qualquer e sofrido muito com a total ausência de instruções claras, precisas, do Manual que acompanha a maquineta. Ou dos famigerados “helps” e “faqs” do site da empresa na Internet.

Então vamos lá saber se você e eu  temos razão em nosso descontentamento com o descaso com que somos tratados.

A grande maioria dos Manuais são assim chamados porque você fica horas e horas com o dito-cujo na mão sem entender direito o que fazer para ligar aquela titica.

Vou citar um exemplo, meu.

Comprei uma TV LED Full HD, paguei uma fortuna, corri pra casa para instalá-la. O Manual possui um desenho da cacunda da televisão com nove instruções, todas do gênero “entrada VIDEO/COMPONENT ½. Já não entendi. O que é video component?  É a entrada de vídeo da televisão? Eu vou plugar o quê naquele buraco? Ou é o DVD? E porque ½? Paguei tudo por inteiro e só vou receber metade?

No desenho há dez buraquinhos para conectar os plugs. Marcados com Y,Pb,Pr,L e R. Deduzo, sherloquianamente, que Y é para amarelo, em inglês. Mas Pb,Pr significam o que? L é “left”? R é “right”?

E por vai o Manual. Saída  VARIABLE/AUDIO; entrada de AUDIO RGB/IN; entrada HDMI; AV/OUT...

Das nove instruções eu entendi, muito claramente “entrada para antena” e “entrada para o cabo de força”. A partir daí  já estava começando a entender muito de eletrônica.

Ligo para a mocinha do SAC. Ou para a velha, sei lá. Me atende um indivíduo do sexo feminino, com uma voz muito antipática. Peço instruções para instalar minha televisão  com todas as polegadas conquistadas pela moderna tecnologia. Quando escuta a palavra televisão a atendente pergunta: —” Monitor, celular, drive óptico, áudio, vídeo, eletrônicos ou notebook?”

Aí eu não entendo mais nada: tudo isso não faz parte da tribo dos eletrônicos? Repito: quero instalar meu aparelho de televisão.

—”Senhor, leia o Manual de Instruções”.

—”Já li, meu anjo, mas não estou entendendo nada. Por exemplo: os plugs Pb e Pr significam o que?

—São as cores dos plugs, Senhor”.

—”Tá, eu deduzi isso. Mas Pb é que cor? E Pr”?

—”É só o Senhor olhar a cor dos plugs, Senhor”.

Desisto.

—Você tem o telefone da assistência técnica de vocês em Belo Horizonte para que eu possa pagar para alguém instalar esse aparelho na minha casa?

A moça me dá o telefone. Ligo quatro vezes, com intervalos de meia hora. Ninguém. Finalmente me atende um cidadão. Cobram R$300,00 para instalar o aparelho, já que isso não está na garantia. Acho um roubo e um desaforo. Faço questão de recitar-lhe o Manual do Carroceiro , manifestando assim  o juízo que faço dele e da profissão da mãe dele. E desligo o telefone.

Resolvo apelar para a ignorância e a exploração do próximo, coisas que faço de maneira diuturna ( nunca olhei esta palavra no dicionário mas me deu vontade de botá-la aqui para dar um cunho literário ao meu esculacho).

Por cima do muro da minha piscina, berro o vizinho, que é engenheiro. Ele batalha durante uns quinze minutos e sai triunfalmente do meu apartamento com a TV funcionando e uma garrafa de  excelente vinho  no sovaco. E eu me refestelo para ver “Kung Fu Contra o Dragão Chinês”, um gênero de filme que muito me atrai, depois que fiquei velho e burro.

Coluna do Sindijori do publicitário Mario AlcantaraSINDIJORI

Sindicato dos Proprietários de Jornais, Revistas e Similares do Estado de Minas Gerais

Filiado a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais – Fiemg