Publicado em 07/02/2018 - geral - Da Redação
Trabalhadores em
condição análoga à de escravo foram resgatados nesta terça-feira (6) em 15
municípios de Minas Gerais, São Paulo e Bahia. Em
uma avaliação preliminar da Polícia Federal, haveria cerca de 900 pessoas
trabalhando de forma irregular. Como a ação ainda está em andamento, o número
deve sofrer alteração. Foi uma das maiores operações de resgate já realizadas no país nos
últimos anos. Pelo menos 22 pessoas foram presas.
Batizada de Operação
Canaã – A Colheita Final, a ação envolveu 58
auditores-fiscais do Ministério do Trabalho integrantes do Grupo
Especial de Fiscalização Móvel e das superintendências dos três estados, mais 220 policiais federais. O grupo cumpriu 22 mandados de
prisão preventiva, 17 de interdição de estabelecimento comercial e 42 de busca
e apreensão.
O nome da Operação é uma
referência bíblica à terra prometida, já que os trabalhadores teriam sido
aliciados por dirigentes de uma seita religiosa conhecida como Comunidade Evangélica Jesus, a verdade que marca. Eles teriam
sido abordados na sede da igreja na capital paulistana, onde teriam sido
convencidos a doar os bens para as associações controladas pela organização e
convencidos a mudar-se para uma comunidade, onde todos os bens móveis e imóveis
seriam compartilhados.
Após serem induzidos, os
fiéis doutrinados foram levados para zonas rurais e urbanas em Minas Gerais
(Contagem, Caxambu, Betim, Andrelândia, Minduri, Madre de Deus, São Vicente de
Minas, Pouso Alegre e Poços de Caldas), na Bahia (Ibotirama, Luiz Eduardo
Magalhães, Wanderley e Barra) e em São Paulo (capital). Eles trabalhavam
em lavouras e em estabelecimentos comerciais como oficinas mecânicas,
postos de gasolina, pastelarias, confecções e restaurantes, todos comandados
pelos líderes da seita.
Investigação
O chefe
do Grupo Especial de Fiscalização Móvel do Ministério do Trabalho, Maurício
Krepsky Fagundes, explica que a operação desta terça foi resultado de uma
investigação conduzida pela Polícia Federal. Um dos itens que mais chamou à
atenção dos policiais foi o crescimento do patrimônio pessoal dos líderes da
seita e o aumento dos fiéis agregados nos últimos cinco anos.
“Desde
2013, tem sido feito um trabalho de inteligência para achar os locais onde os
aliciados trabalhavam, as fraudes praticadas pela organização criminosa e,
principalmente, a caracterização do crime de tráfico de pessoas”, destaca
Maurício.
O chefe
da equipe de fiscalização do Ministério espera que a operação contribua para o
fim das operações da seita. As atividades comerciais de estabelecimentos
pertencentes ao grupo já foram encerradas. E os auditores-fiscais do MTb seguem
ouvindo todos os trabalhadores encontrados durante a operação para saber
detalhes do que ocorria com cada um deles nas áreas onde foram encontradas as
irregularidades.
Nos
casos onde for confirmado o trabalho escravo, serão feitos os cálculos dos
direitos trabalhistas, que deverão ser pagos pelas empresas criadas pela seita
retroativamente desde a data em que os trabalhadores começaram a prestar os
serviços. Os trabalhadores também serão encaminhados ao Programa de
Seguro-Desemprego para Resgatados.
Histórico
A
Operação Canaã teve origem em 2013, quando ocorreu o resgate de 348
trabalhadores na União Agropecuária Novo Horizonte S.A. e em empresas urbanas.
O relatório dessa ação fiscal gerou uma ação penal do Ministério Público
Federal (MPF), que determinou o retorno dos auditores-fiscais e dos agentes da
PF aos locais investigados para averiguar a situação atual.
Na
Polícia Federal, a investigação teve início quando a seita estava migrando de
São Paulo para Minas Gerais. Em 2015, foi desencadeada sua segunda fase: “De
volta para Canaã”, quando foram presos temporariamente cinco dos líderes da
seita.
A deflagração desta
terça-feira representa a terceira fase da operação, com a prisão preventiva de
22 líderes da seita que, segundo a Polícia Federal, poderão cumprir até
42 anos de prisão, se condenados. O líder da seita, conhecido como Pastor
Cícero, está foragido.
Ministério do Trabalho - Assessoria de Imprensa