Publicado em 25/07/2019 - geral - Da Redação
Madeira que seria descartada é transformada em móveis e brinquedos aliando ressocialização, profissionalização e ação social
Uma nova
oficina de marcenaria instalada na Penitenciária de Três Corações está dando
oportunidade de trabalho e profissionalização para dez custodiados. O
projeto Mobiliando Sorrisos, desenvolvido pela Diretoria de
Trabalho e Produção, da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança
Pública (Sejusp), garante que o trabalho de internos do sistema prisional
beneficie a comunidade local por meio da doação de brinquedos e mobiliários
fabricados com madeiras que seriam descartadas.
Os paletes de madeira
utilizados na fabricação dos móveis são doados pela empresa Mellita do Brasil.
Todo esse material, que antes virava lixo e era descartado, está se
transformando em móveis como cadeiras, mesas, bancos e espreguiçadeiras e
serão doados para Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), do
município de Três Corações.
Desde a inauguração da oficina, mais de cem mobiliários já
foram produzidos pelas mãos dos presos que se empenham em criar peças que sejam
além de bonitas, confortáveis. A expectativa da direção-geral da unidade
prisional é que, ainda este mês, brinquedos também feitos de madeira
comecem a ser produzidos. O destino são instituições carentes que
atendem o público infantil e também bibliotecas e espaços públicos.
Os internos que trabalham na oficina foram selecionados pela Comissão Técnica
de Classificação (CTC), responsável por avaliar requisitos como segurança,
comportamento, situação processual e interesse dos custodiados. Alguns presos
selecionados já haviam trabalhado com madeira antes da prisão. Tudo funciona
numa rede de multiplicação de conhecimento: aqueles que dominam as técnicas
ensinam os que ainda não têm tanta experiência. Pelo trabalho eles receberão
remição de pena, em que a cada três dias trabalhados, um é remido da sentença.
Para Sandro Coelho Braziel, 44 anos, que era metalúrgico antes de
ser preso, lidar com a madeira é um universo completamente diferente e novo.
“Eu estou gostando muito. Já aprendi tantas coisas novas, estou desenvolvendo
outras habilidades e ocupando a minha mente. Está sendo gratificante aprender
algo novo e conhecer as ferramentas. Vejo isso como uma possibilidade de
trabalho autônomo quando eu sair daqui, pode ser um bom meio de ganhar a vida”.
Mobiliando sorrisos
O projeto teve início no Complexo Penitenciário Nelson Hungria, em Contagem. Na
unidade da Região Metropolitana de Belo Horizonte a produção acontece em
parceria com a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável (Semad), que doa madeira de demolição ou
ilegal apreendidas. Para a superintendente de Humanização do Atendimento,
Louise Bernardes Leite, boas ideias devem ser multiplicadas e replicadas em
outras unidades prisionais do Estado.
“Essa madeira proveniente
de desmatamento irregular e de empresas que não iriam usar mais o material
deixa de ficar deteriorando no tempo. O material vem para a secretaria, que
encaminha para a unidade prisional, onde são produzidos os móveis que doamos para
instituições filantrópicas. Isso é excelente porque ao mesmo tempo em que
estamos profissionalizando os presos, estamos dando um novo destino para um
material que seria descartado. Ainda, ajudamos as instituições de caridade”,
diz a superintendente.
A Penitenciária de Três Corações passou recentemente por uma revitalização. As
obras duraram cinco meses e contaram com a mão de obra de oito presos. O
telhado e a pintura interna e externa dos três prédios administrativos foram
revitalizados; o encanamento do esgoto dos cinco pavilhões foi trocado e a
pintura do corredor e dos pátios de banho de sol também foram realizadas.
Além disso, a unidade ganhou calçamento de 600 metros entre o anexo e entrada
da penitenciária. A parte elétrica dos pavilhões 1 e 2 foi refeita e houve
reformas das celas íntimas de cada pavilhão. As salas de aula ganharam nova
iluminação e está em construção um novo parlatório para atendimento jurídico.