Se pensarmos bem, quase todos nós somos corruptos!

Publicado em 09/07/2015 - geral - Amir Alem de Aquino

Se pensarmos bem, quase todos nós somos corruptos!

Qual é a cara que nós queremos para o nosso Brasil? Qual é o legado que nós vamos deixar para as novas gerações, para nossos filhos e netos daqui a trinta , quarenta anos? Qual é a história que vai estar escrita sobre a nossa geração, da nossa passagem por ela? Que respostas as gerações futuras vão encontrar nos livros de história para essas mazelas todas que nós vemos por aí?

O universo e o mundo todo estão vendo tanta coisa acontecendo, que enxergar uma luz no fim do túnel está ficando cada dia mais difícil e se tornando quase uma utopia. Mas quando percebemos que existe uma energia, uma sede e uma vontade de que as coisas mudem e que a gente volte a cumprir o propósito divino de viver o amor na sua intensidade e essência, essa luz reaparece e brilha com grande intensidade. Se todos nós queremos, por que não agimos? Todos nós sabemos o que está acontecendo, mas então o que é que não está permitindo que a gente faça com que as coisas mudem? A mídia e o povo em geral só falam em corrupção; mas o Brasil não é privilegiado por isso: corrupção sempre existiu na história da humanidade, nos governos anteriores e está acontecendo também no atual. Só que, talvez pela pressão popular, está se investigando com mais profundidade e rigor, o que faz com que culpados apareçam em maiores quantidades; até porque, culpado neste país é o que não falta.

É triste, mas é verdade: a corrupção começa nas nossas próprias casas, nas nossas atitudes, nos  exemplos que damos para os nossos filhos e para os nossos amigos. Existe no seio da população uma tendência de falar mal dos políticos e atribuir-lhes toda essa onda de corrupção que assola o país. Não que eles não mereçam essas atribuições, porque a integridade de grande parte dos políticos que são eleitos para nos representar é extremamente duvidosa, para não dizer que ela não existe. Nossos representantes, principalmente nos altos escalões são quase todos integrantes do universo da safadeza, da canalhice e da desonestidade. E, lamentavelmente, boa parte do nosso povo age de maneira igual a eles. Senão, vejamos: na maioria das empresas quando sai venda com nota, sai meia nota. Os acadêmicos vão às ruas em passeatas para protestarem contra o governo e contra políticos corruptos e, quando se aproxima o horário do jantar eles gritam bem alto – “mãe, não me espere para o jantar; nós estamos ocupados mudando o Brasil”. No dia seguinte vão para as universidades e, além de colarem na prova, ainda pagam alguém para fazer o trabalho que deveria ser em grupo. O motorista imprudente e distraído que praticou infrações no trânsito tenta escapar das multas e das perdas de pontos nas carteiras oferecendo propinas para o policial que o abordou, e este, por sua vez, em alguns casos aceita. E os espertinhos, que tudo fazem para furar as filas, sejam de que repartições forem: até pedir uma criança de colo emprestada chegam a fazer para satisfazerem seus ímpetos corruptivos. É assim que a banda toca e se formos enumerar as tentativas em levar vantagens  que rolam por aí, ficaremos aqui enchendo páginas e páginas por muito tempo. Diante destas verdades você, caro leitor, ainda acha que corruptos são apenas os políticos? Chegou o momento de pararmos de apontar para os outros e, conscientemente, assumir o nosso dever cívico de localizar e deletar, através de uma profunda análise introspectiva, a veia corrupta que porventura possa existir dentro de cada um, mesmo que essa veia seja constituída apenas por essas pequenas coisas. Cada pessoa praticando a ação “formiguinha”, torna-se luz no lugar onde vive e, consequentemente, faz sua parte para mudar a história desse país muito mais rápido do que se imagina.

A corrupção só existe porque nós estamos sendo omissos e covardes em assumir o nosso papel enquanto cidadãos e este papel deve começar com essas novas atitudes proativas.  Temos muitos discursos, muitas propostas e discussões. As redes sociais estão cheias de ataques para todos os lados. Mas o que está faltando é que nós tenhamos individual e coletivamente um pacto social em nosso país. O que a gente quer é levar a   todos um sentimento de cidadania que não obriga ninguém a fazer nada porque a lei manda ou não manda. Existe uma palavra que resume tudo isso e que se chama consciência. Todos nós temos consciência do que é certo e do que é errado; mas todos temos também que ter a consciência do nosso papel. Todos nós queremos que mudanças aconteçam e elas só irão acontecer se estivermos unidos. Então, a proposta deste texto é que se faça um pacto social pelo Brasil, onde cada um de nós, individualmente e sem precisar registrar em cartório, assuma seu papel para que as coisas comecem a mudar a partir de nossa casa e dos nossos exemplos. Nós devemos seguir atrás do pacto global, cujo princípio é todos trabalhando no combate à corrupção. Acabar ela não vai, mas pode cair a níveis bem inferiores dos que hoje predominam.

A corrupção hoje está tão institucionalizada que até demos uma retroagida no tempo para relembrar uma figura que ficou famosa na história do Brasil: Joaquim Silvério dos Reis, inconfidente delator, que foi quem informou ao reino de Portugal que por aqui estava havendo um movimento “subversivo” que visava  tornar o Brasil independente. Isto foi lá pelos idos de 1789. Nos tempos de hoje, até uma nova figura jurídica já foi criada – a da “Delação Premiada”, que acabou até sendo inserida na Constituição Brasileira. Nela, o delator, oriundo do sub mundo da sujeira, do crime e da corrupção é premiado com redução de pena se cooperar com dados relevantes que auxiliem nas investigações que buscam identificar os demais integrantes de uma quadrilha. Assim como fez Joaquim Silvério dos Reis, que buscou com sua delação receber o perdão das altas dívidas que tinha com o governo, todas decorrentes de impostos não pagos, os delatores modernos, que são membros efetivos e atuantes desse sub mundo visam livrar-se de penas maiores que a justiça lhes reserva. Com esta volta ao passado, utilizada para comparações com o presente e servindo como sinal de alerta para o futuro, chegamos à triste conclusão de que a corrupção no Brasil existe há pelos menos 226 anos.

Então, se não houver uma mobilização nacional contra a prática da corrupção e uma mudança de comportamento e de mentalidade do povo, dificilmente ela será vencida. Se existe há pelo menos 226 anos, o ato de levar vantagens em tudo a qualquer preço já está devidamente estruturado e com bases sólidas para lhe garantir a permanência por outros quase três séculos. Não existe Ministério Público, Polícia Federal e Magistrados das mais altas cortes que possam dar conta de condenar e de levar tanta gente assim para as cadeias, até porque teríamos que construir presídios “Padrão FIFA” em cada bairro das grandes cidades e outros tantos em todas as cidades espalhadas pelo Brasil.                                               

Existe uma frase em latim – “alea jacta est” que, traduzida para o português significa “a sorte está lançada”. Isto quer dizer que, dependendo das ações e das iniciativas que cada um de nós vier a tomar, poderemos estar lançando uma onda de otimismo capaz de contagiar nossa família, nosso vizinho, nossa cidade, nosso estado e até o nosso país e uma multidão inflamada, mesmo sem violência e sem pegar em armas, consegue seus objetivos com muito mais facilidade.  E, na mesma linha de raciocínio, a  falta dessas ações manterá as coisas do mesmo jeito em que estão, fortalecendo ainda mais a ideia e tornando verdadeiro o desagradável título desta matéria: “se pensarmos bem, quase todos nós somos corruptos”, e nesse estado, infelizmente permaneceremos.

Amir Alem de Aquino - aquinoamir@yahoo.com.br