Servidores em greve respondem entrevista do Prefeito Ivan de Muzambinho

Publicado em 22/08/2015 e atualizado em 22/08/2015 - geral - Da Redação

Servidores em greve respondem entrevista do Prefeito Ivan de Muzambinho

Para que não se repita...

É própria do regime democrático a manifestação de opiniões sobre qualquer tema. Quando uma figura pública se manifesta, sua opinião ganha maior notoriedade, o que aumenta a responsabilidade sobre o que é dito. Quando a fala não se balizar em dados da realidade corre-se o risco de confundir a população, reforçando preconceitos e prejudicando a busca pelo bem comum. Em nossa opinião, foi esse o efeito da fala do Excelentíssimo Prefeito de Muzambinho, Ivan de Freitas, publicada na edição 1257 de A Folha Regional (Greve no IFSULDEMINAS criticada “Ganhamos dez vezes mais”).

Vossa Excelência argumenta que “(...) as pessoas tem que deixar os interesses pessoais de lado para pensar no Brasil. Se não resolvermos o problema do Brasil, vamos estar em greve frequentemente com vários outros problemas.” Tal fala mostra desinformação sobre os motivos da nossa greve, expostos em vários veículos da imprensa local e regional, como programas de rádio, jornais impressos e no portal de notícias da cidade. Sugere que nosso movimento luta exclusivamente pela questão salarial, o que não é verdade. Nossa greve repudia o corte de verbas da educação que coloca em risco o funcionamento de nossa escola; defende a democratização dos Institutos Federais, ainda marcados por extrema concentração de poder e reivindica recomposição salarial, visto que o acordo assinado em 2012 com o governo federal se encerrou em 2015. A pauta detalhada pode ser consultada no link http://www.sinasefe.org.br/v3/popup_pauta.htm. Sobre o último ponto cabe esclarecer que o governo federal, entre 2010 e 2015, recompôs os salários de docentes e técnicos em 15,8%, mas a inflação oficial foi de 42%. Portanto, a ampliação do acesso à educação pública ocorrida nos últimos anos se deu à custa da redução do poder de compra do servidor público federal. Neste mesmo período banqueiros tiveram lucros estratosféricos, montadoras ganharam subsídios bilionários e empreiteiras refestelaram-se com recursos públicos, através de ações patrocinadas pelo governo federal. Agora, em período de crise econômica e com inflação em alta, pede para esquecermos as perdas do passado e que aceitemos as perdas futuras. Definitivamente, a conta da crise não pode ser paga pelos servidores públicos federais e demais trabalhadores, como define as medidas aprovadas pelo legislativo, especialmente as Medidas Provisórias 664 e 665.

Também nos chama a atenção a afirmação de que “(...) é preciso que coloquemos a mão na consciência, pois ganhamos dez vezes mais que os professores estaduais”. A informação carece de veracidade. Qualquer docente e servidor técnico administrativo é essencial para o desenvolvimento do país, independente se atua nas redes municipal, estadual ou federal.  No entanto, convém ressaltar que as carreiras docentes e técnicas federais são marcadas por jornadas e atribuições diferentes das demais.  Docentes federais são contratados, em sua maioria, em regime de dedicação exclusiva (40 horas de dedicação à instituição na qual trabalha, sem poder oferecer seus serviços a outro empregador). Docentes nesse regime atuam em cursos técnicos e superiores e coordenam projetos de pesquisa e extensão. A remuneração varia de acordo com a titulação docente (de graduado a doutor). Um graduado em início de carreira tem hoje vencimento bruto de R$ 3.804,00. As tabelas podem ser visualizadas em http://sinasefe.org.br/v3/index.php/component/docman/doc_download/1043-tabela-de-remuneracao-docente-2014.

Não podemos deixar de destacar os baixos salários dos Técnicos Administrativos em Educação dos Institutos e Universidades Federais, carreira com menor vencimento entre todos os poderes da União. Dentre as 24 carreiras do executivo federal, a dos docentes das universidades e institutos federais está em 20° lugar em termos de remuneração; a dos técnicos administrativos é a menos remunerada. Existem cargos em que a escolaridade exigida é o ensino médio completo nos quais o salário é maior do que o de um professor doutor.

Somos solidários aos trabalhadores da educação básica estadual e municipal, submetidos a condições de trabalho e vencimentos vexatórios. Na luta, eles sempre contarão com nosso apoio contra a opressão dos governos estaduais e municipais que relegam aos docentes papéis subalternos. O professor da rede estadual tem como atribuições as atividades de ensino e jornadas de trabalho de 24 horas, compostas por 16 horas de docência e 8 horas de planejamento de atividades, atuando no magistério do ensino fundamental e médio. O salário de um docente estadual graduado, em início de carreira, é de R$ 1.635,30, somado o abono que será incorporado ao salário. Se a jornada fosse de 40 horas, o salário seria de R$ 2.725,50.

Assim, consideramos a comparação vazia de conteúdo e parâmetros fiáveis, não contribuindo para a união dos trabalhadores da educação em tão nobre causa. Tal visão não nos causa estranhamento, pois infelizmente reverbera vossa opção, como semelhante a da maioria dos governantes deste país.

Por fim, daremos o benefício da má interpretação à fala de vossa senhoria quando afirma “(...) Até porque, segundo ele, a greve não vai dar em nada”. Não fazemos exercício de futurologia quanto aos desdobramentos do movimento. A história é dinâmica, feita por seres humanos. Não é coisa abstrata, feita por iluminados, em lugares indefinidos. Não podemos prometer vitória em nossos pleitos, mas não teremos a vergonha de não ter lutado. Aliás, o país será vitorioso se não permitir cortes em áreas tão importantes quanto à educação, saúde, habitação etc; o que não podemos fazer é assistir impassíveis ao boicote à “Pátria Educadora”. Esperamos que nossa luta evite que nossa escola passe por momentos constrangedores, como num passado não muito distante, quando a Escola Agrotécnica Federal de Muzambinho teve que pedir aos estudantes que fossem para casa, pois não havia comida para alimentá-los. Talvez estejamos ainda distantes dessa triste realidade, mas evitar que se repita é nossa obrigação, como educadores e cidadãos comprometidos com nosso país.

 

Assinam esta carta: Comando Local de

 Greve do Campus Muzambinho

Sinasefe ? Seção Sindical Muzambinho