Publicado em 01/03/2013 - geral - Marco Regis de Almeida Lima
Durante uma semana acompanhamos o farto noticiário da passagem pelo Brasil de uma cubana, Yoani Sanchez, dentro de um roteiro internacional a ser percorrido por ela, num período estimado de oitenta dias. Um “privilégio” para nós brasileiros que a hospedamos por tantos dias, enquanto ela não pode dedicar horas sequer a outros irmãos sulamericanos como Argentina, Uruguai, Venezuela, Bolívia ou Equador. Seriam tais povos mais hostis? Ou o convencimento de um país de maior população, de imprensa “totalmente livre” e de liderança continental daria a suficiente ressonância nas vizinhanças?
Mas ficou claro, até para os mais desatentos, que a franzina, desalinhada e “inofensiva” blogueira caribenha foi badalada por seus invisíveis anfitriões, recebendo atenção maior do que muitos governantes ou beneméritos mundiais que nos tem visitado nos últimos anos. Ela ocupou espaços preciosos em nossos principais telejornais, foi a entrevistada de bons programas como o Canal Livre, da Band, do Roda Viva, da TV Cultura, estampada na VEJA como “A guerreira” e exaltada por todos como a tenaz dissidente do regime comunista cubano. Houve, ainda, quem a apadrinhasse claramente com o fito de obter vantagem política, como foi o caso da oposição PSDB, DEM e PPS, levando-a ao nosso Congresso Nacional. Por todos, foi utilizado o fajuto argumento, levantado da maior trincheira dessa Oposição – a revista Veja -, que o Governo teria fomentado as inúmeras manifestações contrárias a ela, em Recife, Salvador, Feira de Santana e São Paulo, em articulação proveniente da Embaixada de Cuba, em Brasília. Tudo especulação, pois bem sei se ela viesse aqui na nossa região, receberia vaias de muita gente que conheço, inclusive minhas, sem que fôssemos petistas ou influenciados pelo Governo.
O que todos nós precisaríamos interpretar é a verdade dos fatos e a filtragem das informações que recebemos. Exceto na internet, onde há espaços alternativos que nos permitem confrontar essas informações, somente em jornais abertos, como este ou outros que circulam pelo nosso interior, nos é dada a oportunidade de expressar nossos pensamentos, porque não estão vinculados aos grandes interesses econômicos. Sobre isso, diz o filósofo, escritor e cientista político, Emir Sader: “Até quando vamos ter que agüentar a apropriação da ideia de ‘liberdade de imprensa’, de ‘liberdade de expressão’ da grande mídia mercantil – os Frias, os Marinhos, os Mesquitas, os Civitas -, que as definem como sua a liberdade de dizer o que acham e de designar quem ocupa os espaços escritos, falados e vistos, para reproduzir o mesmo discurso, o pensamento único dos monopólios privados?”
A propósito, sempre é bom repetir, que não escrevemos com o intuito de dono da verdade. Na revista virtual Parâmetro, blog do mestre e doutor pela USP – Universidade de S.Paulo -, Prof.Sidnei Vares, que discute cultura, política, a sociedade e a própria condição humana encontramos um trecho de texto que diz: “apesar de que o termo ‘parâmetro’ batize o nosso blog, não pretendemos nos tornar parâmetro de ninguém, mas, muito pelo contrário, visamos quebrar os usuais parâmetros de análise, instigando os leitores a dialogar conosco. Afinal, o pensamento não se reduz a nenhum tipo de modelo previamente estabelecido ou imposto”.
Yoani Sanchez denuncia a censura existente em Cuba, e acredito eu. Mas ela exagera e sonega informações. Por exemplo, a permissão que tem ela de possuir celular, laptop e de utilizar a banda larga, coisa que muitos compatriotas dela, submissos e até adeptos do regime não têm. Um jornalista francês, Salim Lamrani, que a entrevistou num saguão de hotel, no centro de Havana, em 2010, disse que fez contato com ela e menos de três horas depois essa entrevista já acontecia, com duração de duas horas, demonstrando a relativa liberdade que a mesma tem, apesar de que fale em medo e na Lei da Mordaça. Esta seria a Lei 88/1996, adotada pelo regime castrista como resposta à Lei Helms Burton, norteamericana, tendo a finalidade de punir cubanos que forneçam informações a Washington sobre investidores estrangeiros em Cuba. Tais investidores acabam denunciados em tribunais dos Estados Unidos por transgredirem o embargo expresso na Helms Burton. Dentre outros questionamentos, feitos a Yoani Sanches pelo jornalista francês, um foi sobre o acesso dos cubanos ao blog por ela criado em 2007, o “Generación Y”, onde ela respondeu que é bloqueado, tendo o jornalista lhe afirmado que o acessara normalmente pela manhã e ela, meio desapontada, falou: “es possible, mas queda bloqueado la mayor parte del tiempo”. Ela ainda se queixou que a imprensa cubana nada publica sobre ela E NÓS PERGUNTAMOS DAQUI: por que a Veja ou a Folha de S.Paulo e outros nem no espaço de cartas dos leitores publicam certas opiniões da gente, em contrário? Também não se tem notícia que o governo cubano confisque as boas quantias em dinheiro que, disfarçadamente, americanos e espanhóis lhe deram como prêmios jornalísticos e que lhe permitem uma vida bem melhor que o seu povo, onde o salário mínimo fica ao redor de 20 dólares, mais moradia, alimentação, educação e saúde. Ela, também, recebe como correspondente de jornais estrangeiros, tipo El País, de Madrid. Enfim, há muitas dúvidas sobre quem a financia e, sabe-se, que o Wikileaks já vazou alguns documentos da diplomacia americana registrando reuniões da dissidente com a SINA – Serviço de Interesses Norteamericanos.
Sempre se soube que a censura anda atrelada com a propaganda. Na Roma antiga já existia a figura do Censor. Regimes autoritários censuram e fazem muita propaganda. O melhor exemplo disso fica por conta da Alemanha nazista, onde censura era sinônimo de terror. Mas a propaganda nazista era uma teoria bem elaborada e celebrizou o Ministro da Propaganda e Cultura, Paul Joseph Goebbels. No Brasil, tivemos a aplicação desse binômio no Estado Novo / Ditadura Vargas (1937/45) e na Ditadura Militar (1964/84)
Não vamos de todo contestar a blogueira cubana, porque desconheceríamos a História e a Política se afirmássemos que Cuba é uma democracia. Nem vamos lhe tirar o direito que tem de andar e falar pelo nosso País. Mas, também, considerem o nosso direito de vaiar a Sra. Yoani, claro a sra. porque ela é casada com o cubano Escobar e, também o foi com um alemão, quando saiu de Cuba em 2002, indo viver na Suiça até 2004 e, curiosamente, retornando ao “inferno” do país que critica, por livre e espontânea vontade. Vejo-a no mesmo binômio da censura e da propaganda, com a diferença que a censura a qual ela está atrelada é ferozmente manipuladora - a da poderosa mídia mercantil dos países que a patrocinam como garota-propaganda. Se ela é tão convicta do infortúnio do seu país, tão corajosa, tão inteligente, que tente sublevar o seu povo, porque armamentos e dinheiro para financiar uma revolução devem estar a sua disposição por parte dos Estados Unidos da América.
*Marco Regis de Almeida Lima é médico, havendo sido prefeito de Muzambinho-MG (1989/92; 2005/08) e deputado estadual-MG. (1995/98; 1999/2003)