Publicado em 19/03/2021 - marco-regis-de-almeida-lima - Da Redação
Passado mais de um ano em
que uma nova e devastadora doença se espalhou pelo nosso mundo, o embaraço no
seu combate continua a perdurar, mormente num país extenso e complexo como o
Brasil. O alastramento incontido do vírus Novo Corona vai causando impactos
físicos, econômicos e o que deveria ser mais considerado, emocionais, porquanto
mortes, desemprego e fome convergem em alterações psíquicas. Esta situação não
seria somente brasileira, mas, o quadro atual enfrentado pelo país nos coloca
no olho do furacão. Principalmente, porque alguns países obtiveram resultados
amplamente positivos no controle da epidemia, enquanto o Brasil patina no
desastre.
Podemos
observar que as medidas preventivas preconizadas pelas autoridades sanitárias
são as mesmas em quaisquer dos lugares do mundo: o uso de máscaras faciais, o
distanciamento social e a higiene pessoal, especialmente a lavagem frequente e
constante das mãos, e, recentemente, a vacinação da população. O que tem variado mesmo é o distanciamento
social. Neste mês de março, por exemplo, diversos países da Europa chegaram às
extremas medidas do “lockdown” ou do toque de recolher nos períodos noturnos.
Coincidentemente, as duas nações a liderarem as estatísticas ruins, Estados
Unidos da América – EUA – e Brasil têm em comum problemas como o federalismo e
o negacionismo governamental. Nos EUA, o negacionismo dos governantes foi
trocado por atitudes consensuais positivas adotadas por países civilizados,
desde que o Presidente Donald Trump foi substituído por Joe Biden, através de
eleições democráticas. Apesar da cultura constitucional de um federalismo
arraigado, neste momento isto não parece que seja um entrave por lá,
principalmente porque a aplicação de vacinas segue a todo vapor. Todavia, no Brasil, tanto persistem os
conflitos federativos, muito mais por divergências político partidárias e
ideológicas entre o Presidente da República e alguns governadores estaduais.
Além do mais, o governo central vai na contramão da Ciência e da Organização
Mundial da Saúde – OMS – insistindo em tratamentos precoces considerados
ineficazes pelas mesmas, bem como na indiferença ao uso de máscaras e na
radical oposição do fechamento de Municípios e Estados em face da Economia
nacional.
No meio
desta semana, tendo como fonte a Wikipedia, o número de infectados em todo o
planeta registra mais de 120 milhões de pessoas, com o número de mortes
atingindo 2.682.660 delas. Desses números globais, os EUA é a nação a liderar
essas tristes e más estatísticas com quase 30 milhões de casos de infectados e
538.826 mortos, seguindo-se o Brasil com quase 12 milhões contagiados e 287.423
vidas perdidas. A Índia, com mais de um bilhão de habitantes, surge em terceiro
lugar com 11,5 milhões de contaminados e 159.388 mortos. Na faixa de mais de 4
milhões de contágios, Rússia e Reino Unido ocupam até o quinto lugar, sendo que
os britânicos contabilizaram 125.972 mortos, enquanto que os russos 92.235.
No momento, o Brasil vem
sendo considerado pela imprensa, bem como pela própria OMS, como o epicentro
mundial da CoViD-19. Várias situações demonstram esta situação: faz vinte dias
que o Brasil vem apresentando uma média móvel crescente de mortes, que está
hoje na faixa de 2.000 mortos diários em consequência dessa virose; o também
crescente número de contágio, que vem sendo atribuído às novas variantes do
CoViD-19, pertencentes às linhagens P1 e P2, que acometem faixas de idades mais
novas da população; as filas de
pacientes nos prontos-socorros, aguardando vagas em enfermarias e UTIs –
unidades de tratamento intensivos – só têm crescido e já contabilizam mortes
sem que esse socorro adequado chegue às pessoas doentes; não têm sido raros os
óbitos domiciliares pelas mesmas deficiências de atendimento; em alguns centros
começam a escassear oxigênio e medicamentos necessários aos procedimentos de
entubação e manutenção do tratamento nos CTIs – centros de tratamento
intensivos; os profissionais da saúde já sentem exaustão física e psíquica com
o assolamento desta segunda onda, sendo que associações profissionais de
medicina e enfermagem contabilizam a morte de mais de 500 profissionais de cada
categoria, no Brasil, desde o início da epidemia nacional; finalmente deve-se
apontar não somente a carência de leitos hospitalares, mas a também carência de
equipes profissionais preparadas para a prestação de uma assistência
especializada.
Em que pese a mudança de
atitude do Presidente da República, Jair Bolsonaro, no sentido da melhor
aceitação das vacinas contra o SARS-COV-2 e o maior empenho de aquisição das
mesmas por parte do Ministério da Saúde, anunciadas antes da saída do General
Eduardo Pazuello do comando desse ministério, a retórica do Presidente e suas
atitudes em relação à Pandemia têm sido negativas como exemplos para o povo
brasileiro. Para pessoas, como nós, que temos tratado com condescendência esses
posicionamentos do Presidente Bolsonaro, sua responsabilização pelo agravamento
da nossa crise sanitária passa a ser inevitável. O conjunto da obra se agrava
pela total falta de sensibilidade e respeito dele diante da luta dos
profissionais da saúde e das dificuldades e dor por que passam pacientes e seus
familiares, até pelo desrespeito aos milhares de mortos.
Nesse diapasão
tudo se agrava. Atualmente já são 108 países fechando suas fronteiras para
brasileiros. Dentro do país, Presidente, Governadores e Prefeitos tomam
atitudes e medidas preventivas diferentes e dessincronizadas, produzindo poucos
resultados na transmissão da doença e danos cada vez mais desastrosos na
Economia. Escassez de remédios hospitalares, incapacidade de fornecimento cada
vez maior de oxigênio por parte de fabricantes e distribuidores, exaustão e
falta de profissionais de saúde e caos no atendimento aos doentes são
indicativos que escorregamos para o abismo. Deus nos acuda.
*Marco Regis é médico, foi prefeito de Muzambinho-MG (1989/92; 2005/08) e deputado estadual-MG (1995/98; 1999/2003)