Publicado em 05/10/2018 e atualizado em 10/10/2018 - marco-regis-de-almeida-lima - Da Redação
Sentia-me mais feliz nos tempos
em que diziam que somente os adivinhos seriam capazes de prever o futuro. Até
porque, nunca havendo tido contato com esses vaticinadores, nunca me
sensibilizei com tais prenúncios, principalmente aqueles que até hoje são
feitos nas viradas de ano e divulgados em certos meios de comunicação. Antes da
aceleração do processo de urbanização brasileiro, pouco mais de meio século
atrás, um ditado popular era incontestável: “Da cabeça de juiz, da barriga de
mulher grávida e da urna eleitoral saem grandes surpresas”.
Entretanto, o processo
evolutivo humano é dinâmico, havendo soterrado civilizações e impérios que à época
pareciam indestrutíveis. Também o tal ditado começou a perder prestígio. Até pouco
tempo depois que me graduei em medicina, as gestantes preparavam duplos
enxovais para os incógnitos bebês que nasceriam, azuis para meninos e rosa para
meninas. Eis que surge o diagnóstico ultrassonográfico, oriundo do antigo sonar
de navios e submarinos, que vai antecipar a revelação do sexo dos
recém-nascidos, acabando com essa expectativa no nascimento e diminuindo os
gastos das mães na confecção dos enxovais.
No campo eleitoral, até a
década de 1960, as urnas recebiam os chamados “votos de marmita”, ou seja, um
conjunto de cédulas impressas, relativas aos cargos em votação e produzidas
pelos candidatos aos mesmos, tornando o processo de apuração dificultoso, lento
e passível de erros. Ainda havia a vulnerabilidade da troca dos votos das
pessoas mais simples pelos cabos eleitorais dos partidos políticos, antes da
chegada do eleitor às seções eleitorais, ou mesmo o rastreamento e a revelação
desses votos não somente pelo estabelecimento de marcas dissimuladas, como
também, pela composição das marmitas, checagem que era delegada aos
espertíssimos fiscais da apuração, indicados que pelas estruturas partidárias. Essas
cédulas individuais foram substituídas, na década seguinte, por uma cédula
única, fornecida e rubricada pela Justiça Eleitoral no momento da votação. Ela
continha os nomes dos candidatos aos cargos majoritários, em linhas diferentes,
antecedidos por um “quadradinho” no qual o eleitor marcava em cruz ou com “X”,
o seu escolhido, anulando-se as duplicidades de escolha nas mesas de apuração. Para os legislativos, a escolha se formalizava
com a escrita do nome ou número do candidato. Chegamos, atualmente, à ampla
numeração e imagem do candidato nas atuais urnas eletrônicas que, informam, não
estão conectadas à internet, impedindo a ação dos “hackers” e, por
consequência, de fraudes. O impedimento para que o eleitor receba o comprovante
do seu voto está justamente na manutenção do seu sigilo. O voto impresso se
torna fonte de ameaça das organizações criminosas e de políticos venais. Mas,
falávamos do “ditado das surpresas”, sendo que, aqui, a instituição e
legalização do procedimento estatístico das pesquisas eleitorais veio,
praticamente, a antecipar o resultado das eleições, quase que acabando com um
mistério, que chegava a durar dias tanto pela lentidão das apurações como da
sua transmissão aos órgãos superiores da justiça eleitoral, conforme se
tratasse de certas regiões isoladas do país.
Sobrou, então, o mistério
da cabeça dos juízes, nos mais variados despachos e sentenças e nos diversos
campos da Justiça. O que não é segredo para ninguém é que a magistratura não
somente se modernizou como se politizou. A aura divina do juiz se dissipou ante
às transgressões humanas e aos preconceitos, tornando-o um ser do plano
terrestre como nós todos somos, portanto falível como qualquer humano. O advento de um canal televisivo da Justiça –
uma conquista do ainda ministro do STF – Supremo Tribunal Federal – Dr. Marco
Aurélio de Mello, trouxe os mais elevados tribunais do nosso Judiciário para
dentro das nossas casas, fazendo com que eles sejam bem ou mal julgados pela
população.
Se cabeça de juiz tem seus
mistérios, inaceitável tem sido a possibilidade de influência deliberada do
Juiz Titular de 1ª Instância, Sérgio Moro, da 13ª Vara da Justiça Federal de Curitiba,
no voto dos brasileiros. Suas declarações assim parecem. Em 25 de julho
passado, falando no Fórum Estadão, do diário paulistano “O Estado de S. Paulo”
ele abordou os “riscos de retrocesso” e a necessidade do “exemplo de lideranças
honestas” em relação às eleições deste ano como se fosse ele o grande condutor
do pleito deste fim de semana e não o conjunto da população nacional. O assunto
pode ser revisto em: https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/moro-ve-resultado-daeleiçao-como-risco-a-lava-jato.
Na edição brasileira do diário El País, de maior tiragem na Espanha, do último
dia 2 de outubro assim fala da retirada do sigilo, e da consequente divulgação,
da delação premiada do ex-ministro de Lula, Antônio Palocci: “a menos de uma
semana da eleição do primeiro turno, joga uma bomba no comitê de campanha do
candidato Fernando Haddad”. Atitudes como esta têm se repetido ao longo da
Operação Lava Jato, inclusive na campanha da reeleição de Dilma Rousseff, quando,
em 9 de outubro de 2014, em plena decisão do 2º turno entre a Presidente e
Aécio Neves, o mesmo Juiz tornou públicos os áudios dos depoimentos de
ex-diretor da Petrobrás, envolvendo a própria mandatária do País, causando
indignação de um lado e até reação do próprio STF, que revogou sua decisão.
Já tratamos antes da
influência das pesquisas eleitorais na decisão do eleitorado, estimulando o
chamado voto útil e o comportamento de manada, isto é, de parcela dos votantes
que se ufanam de “votar em quem ganha”.
Enojantes e nocivas são
as divulgações em redes sociais, mormente dentro de grupos fechados de
famílias, de amigos, de grupos corporativos de profissionais liberais e outros,
totalmente fora de controle da Justiça Eleitoral, causando estragos em
determinados candidatos e seus partidos políticos, principalmente num período
eleitoral atípico como este, curto e eivado de boatos e agressividade.
Para piorar, o candidato
que lidera as pesquisas em primeiro turno, vem a público falar que a sua
derrota significaria uma fraude nas urnas eletrônicas, colocando mais lenha na
fogueira de um país já tão conflitivo e dividido, criando um caldo de cultura
propício para o esfacelamento das nossas instituições. Certo é que ele foi
interpelado e contido por setores da nosso imprensa, principalmente pela Rede
Globo.
Não poderia me omitir
sobre a acertada decisão de impedimento do financiamento empresarial de
campanha, uma das principais causas da corrupção crônica que assola o Brasil,
que estourou no colo do Partido dos Trabalhadores, no qual certos setores
partidários se chafurdaram, talvez num rápido aprendizado com o PMDB dos tempos
do Presidente Fernando Henrique, na época conluiado com o antigo PFL – hoje DEM
– e com alguns quadros do próprio PSDB, nas escandalosas privatizações. Mas,
temos percebido que o Caixa 2 continua, precisa de novas contenções. E os
fundos partidários não chegam a todos os candidatos, muito particularmente aos
marinheiros de primeira viagem.
Falam tanto em
democracia. Seja quem for o Presidente eleito, da direita ou da esquerda, é
imperioso respeitar sua eleição. Minha preocupação é com essa direita uivante,
que somente respeita o que lhe interessa. Eu, da esquerda, prometo respeitar a
vontade da maioria.
Marco
Regis de Almeida Lima é médico, foi prefeito de Muzambinho (1989/92; 2005/08) e
deputado estadual-MG (1995/98; 1999/2003) – marco.regis@hotmail.com