Publicado em 19/10/2018 - marco-regis-de-almeida-lima - Da Redação
A lida semanal de articulista deste semanário nos torna repetitivos. Ainda mais que os temas abordados são dominantemente políticos. Talvez seja eu menos tóxico que certos meios de comunicação que fazem da repetição uma maneira deliberada de penetração e de enquistamento da informação manipulada no cérebro das pessoas. Pior quando promovem isso massivamente, ao longo de um mesmo dia, e de todos os cantos do Brasil, tipo o que andou acontecendo nas manifestações pró-golpe contra Dilma Rousseff. De São Paulo, Rio, Brasília, BH, Salvador, Porto Alegre, Curitiba, Porto Velho, Belém, Recife, os “flashs” sobre o movimento das ruas eram precedidos de uma chamada com o mesmo padrão apelativo para todas as afiliadas de certa emissora televisiva – uma névoa que se enfiava pelos nossos olhos e ouvidos, indo para os cantinhos cerebrais, embaçando-os nas suas percepções.
Embora me comporte como um principiante nas navegações pela internet, na verdade me utilizo de modestos barquinhos para andanças em itinerários limitados, fugindo dos perigos dessa vastidão. No entanto, nos últimos dias, ousei acompanhar amigos nesse emaranhado com o propósito de aquilatar o andamento do embate presidencial brasileiro em seu 2º turno. Pois, fiquei deveras horrorizado com o nível rasteiro dos debates, com o escândalo dos vídeos, blogs e outras plataformas digitais. Até me deparei com uma rotineira tragédia mundana transformada em ato de conspiração. Coincidentemente, na mesma pensão de Juiz de Fora, onde se hospedava o esfaqueador do Capitão, e Deputado Federal por mais de 20 anos, Jair Bolsonaro. Na narrativa de página virtual de ‘O Antagonista’, e nos quase 300 comentários que lhe sucedem, há toda uma trama que estaria ocorrendo naquela pensão e no nosso país, com o “desconhecimento” da Polícia Federal, que ficou responsável pelo atentado. Em pouco mais de um mês, a proprietária da hospedagem teria morrido de câncer e, nos últimos dias, um cidadão da região e ex-policial foi encontrado nos seus aposentos em estado de rigidez cadavérica, sem evidências de alguma violência, quer no corpo quanto no quarto. Porém, a “bestagem” do enredo, e dos comentários, está numa dimensão ampliada e mais pútrida do que o estado do morto, sem misericórdia alguma para com o finado. Nada surpreendente, considerando-se um blog que tem no seu domínio uma mente insana e demoníaca do tal Diogo Mainardi, ex-Veja e atual Globo News (Manhattan Conection), não poderia disseminar outras coisa que não intriga, ódio e dissensão.
Mais grave do que tudo isso tem sido a deterioração das relações familiares, eis que irmãos, tios e primos já não se toleram no campo político em grupos de “whats app”, atracando-se mutuamente e sendo excluídos uns pelos outros, o que acontecia antes com estranhos e, no máximo, com amigos mais distantes. Porém, ainda entendo que o mais grave nessas contendas seja a ampla desinformação ou mesmo a ignorância dos assuntos por parte dos contendores, sendo as opiniões infundadas e adeptas de falsos líderes. Não estaríamos vivendo os últimos tempos – o dos falsos profetas?
O que dizer daqueles que defendem o ignóbil e selvagem ato da tortura não somente contra a bandidagem comum, mas nas divergências políticas? Fiquei estupefato dias atrás quando uma autoridade fardada, em conversa coloquial, debochou de mim quando me referi às torturas que sofrera a então estudante universitária, depois, Presidente da República, Dilma Rousseff, dizendo-me que “não sabia que ela foi torturada e que passaria a ter ‘peninha’ dela”. Mas, o que esperar de melhor para o nosso país, onde o favorito ao atual pleito presidencial, em plena sessão da Câmara dos Deputados, por ocasião da admissibilidade do processo de cassação da citada presidente, ilustrou o seu voto homenageando uma das mais comprovadas e nojentas figuras da tortura nos porões do DOI-CODI do II Exército/SP, entre 1970/74, o Cel. Carlos Alberto Brilhante Ustra? O Deputado Bolsonaro assim concluiu o seu voto pela cassação: “...(Ustra) o terror de Dilma Rousseff”. Se uma pessoa se utiliza da expressão terror com sabor de doçura, como pode se contrapor a terroristas? Ainda mais, agora, prometendo extraditar o italiano Césare Batistti, que foi beneficiado por dispositivo legal do Presidente Lula, o qual foi reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal. Estaríamos pavimentando uma nova ditadura através das urnas? Não é contraditório que os adeptos de um novo regime de exceção em nosso país, de viés fascistoide, critiquem a democracia venezuelana de Hugo Chávez, descambada para o autoritarismo militar bolivariano de Nicolás Maduro?
Nesta 5ª feira, 18, o programa jornalístico de TV, Bom Dia Minas, noticiou dois episódios de pichamento em ambientes universitários, motivos pelos quais se tornam mais preocupantes, ou seja, oriundos de uma elite intelectual. Um deles, na Universidade Federal de Juiz de Fora, com expressões tipo “morte aos gays”, ladeadas pela suástica nazista; outro, na Universidade Federal de Uberlândia, com ofensas raciais aos negros. Uma das entrevistadas, professora de Direito, atribuiu isso como consequência do discurso político da atualidade.
Mediante tantos campos minados pelo rancor, pela vingança, pela intolerância, pela violência, ainda há lugar para os espíritos desarmados e pacifistas. Alianças entre poderosos sempre são estabelecidas num campo sombrio, infértil para a solidariedade, para a compaixão e para o amor. Cristianismo para certo tipo de gente é passado remoto, dos tempos das bizarras crucifixações. As coisas hoje são tão mais simples e rápidas, isto é, na bala. Nesta perspectiva vejo o Brasil no caminho do retrocesso civilizatório. Muito distante do cristianismo ou do ideário do fundador da LBV – Legião da Boa Vontade – Alziro Zarur, que eu escutava quase todas as noites pelo rádio, na minha juventude, onde ele insistia que “o Brasil é o Coração do Mundo e a Pátria do Evangelho”. Do jeito que as coisas andam e diante da inversão de valores parece que esta Nação nunca mais será a mesma.