Publicado em 31/08/2018 - marco-regis-de-almeida-lima - Da Redação
Às vésperas de escrever esta
coluna e depois de um sumiço aqui mesmo justificado na semana passada, bateu um
alerta na minha mente. Naturalmente que gosto de escrever sobre política. Nem
poderia deixar de fazê-lo quando mais de cem milhões de eleitores brasileiros
começam a tomar consciência de que as eleições gerais brasileiras estão batendo
à nossa porta. Não será um acontecimento qualquer, pois elegeremos o presidente
da República Federativa do Brasil para um suposto prazo de quatro anos, enquanto
não se concretiza uma reforma eleitoral. A partir da Constituição Federal de
1988 havia uma ideia de que criáramos um presidencialismo forte, mas, o viés
constitucional era parlamentarista. Hoje, com a desmedida proliferação
partidária e a consequente tibieza dessas estruturas partidárias não
vislumbramos nem presidencialismo nem parlamentarismo, mas um amontoado de
congressistas que destoam das ideias dos seus partidos, que colocam seus
interesses acima dos interesses da nação, passando um sentimento de
descompromisso com o País e uma exacerbação dos interesses individuais. Mais do
que um presidente da República, iremos eleger governadores de todos estados de
uma rachada federação, senadores, deputados federais e deputados estaduais.
Assim sendo, temos o dever de propagar de que não estamos diante de um
acontecimento qualquer. Desilusões com a política todos nós temos. A minha, por
exemplo, foi ter reconquistado a democracia, depois de haver passado o fulgor
da minha juventude e o princípio da minha maturidade debaixo da censura, das
meias verdades e do medo de um período ditatorial, vendo tanta luta e tanto
sacrifício sucumbirem diante do recente golpe de estado “constitucional”, que
alijou do poder uma presidente legitimamente eleita pelo voto popular. Porém,
essa desilusão tem de ser suplantada pela perseverança na democracia, no voto
livre, pois não há jeito melhor do que nos engajarmos, sendo a omissão ainda pior.
Mas, qual foi o alerta que
zuniu na minha cabeça? Na verdade ele foi
induzido por um consagrado radialista mineiro, Eduardo Costa, enquanto eu
ziguezagueava de automóvel pelas ruas belorizontinas, escutando a Rádio
Itatiaia. Comentando a respeito de política, esse radialista invocou a
legislação eleitoral vigente para dar um corte em determinado assunto que
adentrava o plano político, pois correria risco tanto ele como a sua emissora
de serem punidos pela lei eleitoral. Não pensem os leitores que trata-se de uma
punição qualquer. Um escorregão na fala ou na escrita representa uma multa que
pode quebrar um cidadão bem ou mal intencionado, sobrando ainda para o veículo
de comunicação.
No entanto, fico pasmo de ver
nas redes sociais os mais absurdos e esdrúxulos comentários sobre este ou
aquele candidato, principalmente a respeito dos presidenciáveis. A cada debate
ou a cada entrevista uma verdadeira enxurrada de comentários são postados a
favor ou contra, mas sem embasamento em teorias políticas ou econômicas,
simplesmente nos “achismos” pessoais, recheados de agressividade ou mesmo ódio.
Eu não poderia invocar a impunidade de que se revestem tais comentários porque
podem ser passíveis de processos e punições desde que denunciados. Mas, eles
são milhares ou milhões. Escapam das garras das instituições fiscalizadoras. Os
ofendidos, que poderiam tentar um basta nisso, então, vão ter mais trabalho e
gastos buscando a reparação das ofensas, deixando por isso mesmo.
Dessa maneira, fica mais
vulnerável a imprensa, que não pode cometer tropeços. Também, há que se
considerar que o poder de manipulação de uma imprensa partidarizada é mais
pernicioso que os achismos de simples cidadãos que opinam através da internet.
Certo é que esta era
tecnológica fez todo mundo perder as rédeas da informação. Se antes os boatos
nasciam nas esquinas e nos botequins, agora nascem na solidão de um cômodo e de
um computador. Se antes o jargão era de que a propagação se daria como um
rastilho de pólvora, hoje tudo acontece na inimaginável velocidade dos algoritmos.
Nessa teia fica toda uma decorativa legislação eleitoral de controle de
propaganda, informação, gastos e financiamentos eleitorais. Ela demonstra uma
aparência de tudo saber ou controlar, mas, apenas pega alguns como bodes
expiatórios. Não teria sido este o exemplo das condenações de Lula e de Eduardo
Azeredo?
*Marco
Regis de Almeida Lima é médico, tendo sido prefeito de Muzambinho (1989/92;
2005/08) e deputado estadual-MG (1995/98; 1999/2003)