Publicado em 24/05/2019 - marco-regis-de-almeida-lima - Da Redação
Existe o conhecidíssimo e antigo questionamento
popular - "quem nasceu primeiro o ovo ou a galinha?". Na mesma
linha de pensamento indagaria se os conflitos são antigos ou modernos?
Logicamente que conflitos sempre existiram na face da Terra, antes mesmo da
existência dos seres humanos, porquanto consta de achados arqueológicos e
paleontológicos que outros tipos de animais, que não os humanos, povoaram o
nosso planeta em outras eras. Fósseis de animais são achados mundiais e sua
datação depende de vários processos: físicos, químicos e geológicos. Para
ficarmos somente em solo brasileiro, podemos citar sítios arqueológicos reais,
assunto levantado na recém-finda novela O Sétimo Guardião, da TV Globo. Os
principais, que demonstram que também por aqui viveram os dinossauros, em
períodos que remontam de 60 a 100 milhões de anos, são os de Peirópolis, no
município de Uberaba-MG, onde existe o Museu dos Dinossauros; o de Monte
Alto-SP, divulgado em jornal de 1921 e citado em matéria do g1.globo.com;
ainda, outros diversos sítios nordestinos tombados pelo IPHAN - Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - localizados no Vale dos
Dinossauros, em Souza-PB, ou na Chapada do Araripe, nos estados do Ceará e
Pernambuco, sem deixar de mencionar áreas do Rio Grande do Norte, revelando a
presença do homem entre 3 e 5 mil anos atrás, sempre mais recentes do que
aqueles sáurios, o que pode ser lido em www.brechando.com.
Para mais valorizarmos o nosso estado, Minas Gerais, há que se lembrar do
pré-histórico Homem de Lagoa Santa, descrito pelo naturalista dinamarquês e
radicado naquela cidade mineira, Dr. Peter Lund (1801/1880). Assim sendo, e
sabendo do instinto dos animais na demarcação de seus territórios, deduzimos
que conflitos entre animais ou humanos existem desde tempos remotos.
Nada melhor do que pinceladas de história e de
ciência para nos colocar na realidade mundana, na nossa insignificância. Isto
porque os seres humanos continuam a vivenciar suas querelas pessoais ou
coletivas como se fossem exclusividade do seu ciclo de vida. Ou como se
possuíssem poder para aniquilá-las.
Digo tudo isso para criticar o voluntarismo do PSL
- Partido Social Liberal - no momento uma trincheira civil-militar, que
acredita que chegou ao poder para reescrever a História e conduzir o Brasil
para o destino que criaram no seu imaginário, muitas vezes retrógrado, porque
previsto pelo astrólogo Olavo de Carvalho, o guru da família Bolsonaro. Mas,
velho é esse filme na história da humanidade. Tribos, reinos, nações, impérios
e repúblicas surgiram e se dissiparam considerando pensamentos assemelhados. Em
quadras recentes, a política brasileira viu o fulgor e o fracasso de tucanos e
petistas, que estabeleceram metas de 20 anos para sua permanência no poder.
Muitos municípios aqui da nossa região, somente para se ter a oportunidade de
identificá-los, tiveram administrações, e ainda têm, que se julgaram
sobranceiras e presunçosas, crendo serem as melhores e mais eficazes, cujo
destino, ao longo do tempo, simplesmente é fazerem parte da História como todas
e quaisquer, cada uma com marcas positivas e negativas, indubitavelmente. Cada
uma construtora ou mantenedora das leis e progresso do seu tempo, jamais de
todos os tempos.
Dou um exemplo singelo da minha primeira
administração, no começo da década de 1990. A cidade progredia, tinha uma
cooperativa agrícola ufanista, outros empreendimentos promissores. Então, eu
era cobrado pela deficiência na comunicação, porquanto o principal meio de
então era a telefonia fixa, havendo menos de meia centena de aparelhos
telefônicos no município. Não se falava em telefonia móvel, ou seja em
celulares, pouco da internet. Na gestão seguinte à minha chegaria à Prefeitura,
através do prefeito José Ubaldo, a informatização de alguns setores. Pois bem,
lutei denodadamente até obter junto ao governo estadual, que detinha esse
monopólio estatal, com a execução de uma empresa terceirizada - a Garra - mais
que a duplicação dos nossos serviços telefônicos. Consequentemente. e até hoje,
Muzambinho ainda aparece nos antiquados catálogos telefônicos em listagens por
assinantes e por endereços, condição esta, que se pode observar, atingida
somente por Guaxupé e São Sebastião do Paraíso, na Lista Telefônica do Médio
Rio Grande, por terem acima de mil linhas telefônicas fixas. Hoje se pode
concluir que darão risadas se eu apontar isso como uma conquista
administrativa. Porém o foi naquela época. Se o feito foi ofuscado pelo tempo e
pela tecnologia, também as empresas que faziam o nosso progresso, davam
empregos, geravam impostos, em sua maioria feneceram. Outras surgiram, e a
economia cresce e se sustenta.
Entretanto, há uma vocação que
dinamiza e engrandece Muzambinho - a Educação. Várias instituições de ensino
mantêm a chama e o vigor daquela que foi a nossa pioneira, em 1901: o Lyceu de
Muzambinho, depois estadualizado e até hoje um símbolo. Outra, que nasceu na
gestão do prefeito Messias Gomes de Melo, foi a Escola Agrotécnica Federal,
através dos esforços dele e de outros muzambinhenses, como o então deputado
federal Lycurgo Leite Filho, sem esquecer de que foi uma benesse dos governos
federais de Eurico Gaspar Dutra (1946/51) e Getúlio Vargas (1951/54).
Recentemente, transformada em "campus" do Instituto Federal Sul de
Minas Gerais, um das dezenas de institutos criados Brasil afora e implementados
pelo tão criticado "analfabeto", Presidente LULA, que alavancou
o Brasil com creches, FUNDEB, ensino técnico e tecnológico e universidades.
Nosso "campus" é o maior alimentador da economia local, através das
dezenas de professores e funcionários, centenas de estudantes que aqui passaram
a aportar, vendo-se que a Educação é mesmo fonte de conhecimento e
desenvolvimento.
Os conflitos atuais ampliaram seu dimensionamento devido às redes sociais. Nelas, todos falam, todos opinam. Mas, uma maioria reproduz fatos que outras fontes criam e disseminam. São robôs a espalharem verdades e mentiras. Talvez, muito mais mentiras - as "fake news". O desrespeito grassa por todos os cantos, atingindo politicos, magistrados e, mesmo, pessoas. As redes sociais tornaram-se a Babel dos dias de hoje, dividindo pessoas, classes sociais e o que é pior, as famílias. Não se pode dizer mais que é a língua humana a maior responsável pelas intrigas e confusões de agora. Os conflitos continuam a existir, agora mais contundentes, muito perigosos embora desarmados. São os conflitos de pensamentos os nossos contemporâneos.
*Marco Regis é médico, foi prefeito de Muzambinho (1989/92;
2005/08) e deputado estadual-MG (1995/98; 1999/2003)