Publicado em 22/06/2018 - marco-regis-de-almeida-lima - Da Redação
O mal da gente é achar que na democracia tudo se pode. Pior é
constatar-se que os maus exemplos, que tornam-se maus ensinamentos, são dados
por aqueles que melhor consciência teriam de ter acerca da democracia, quais
sejam: políticos, advogados, jornalistas e professores.
Minha inquietação a respeito da
democracia se avivou em decorrência de notícias da última semana, uma delas observada
em noticiário televisivo, que agora busco na página digital de ‘O ESTADO DE
S.PAULO’, do dia 19 de junho último, cujo título é o seguinte: MACRON REPREENDE
JOVEM FRANCÊS: ‘ME CHAME DE SENHOR PRESIDENTE’. O fato foi derivado de uma
abordagem provocativa feita por um estudante ao presidente francês, Emanuel
Macron, inclusive cantarolando a Internacional Socialista, por ocasião de uma
cerimônia no norte da França, em homenagem a um discurso do General Charles De
Gaulle convocando os franceses a reagirem à dominação nazista na Segunda Guerra
Mundial. Leiamos no Estadão:
Estudante – “Como vai Manu?”.
Macron – “Não, você não vai fazer isso não. Você está em cerimônia
oficial, deve se comportar. Pode bancar o palhaço, mas hoje é ‘La Marseillaise’
e o ‘Chant des Partisans’, que vamos cantar”, referindo-se ao Hino Nacional da
França e à Música da Resistência Francesa. “Então me chame de Senhor Presidente
ou Senhor”. Segundo o jornal o sermão continuou: “Você precisa fazer as coisas
do jeito certo. Mesmo que você queira liderar uma revolução um dia, precisa
primeiro ganhar um diploma e aprender a colocar comida na mesa. Aí, sim, você
poderá querer dar lição aos outros”.
Eu me sensibilizei com o assunto
logo que o vi na TV. Fiquei do lado do Presidente, tirando parte da arrogância
na resposta. O desrespeito é um mal que grassa por todos os cantos nas nossas
democracias. Há que se impor a obediência aos regulamentos, o respeito à
hierarquia. Não mais é tolerável que alunos de escolas públicas e particulares,
não vou longe em dizer, brasileiras, pois isto acontece aqui todas as semanas,
aqui em Muzambinho, continuem a agredir professores dentro dos limites dos
educandários, com o apoio de pais despreparados para a educação familiar. Deveria
ser proibida a permanente presença da polícia em escolas para procedimentos de
boletins de ocorrência por queixas de alunos. O caminho não pode ser este. Caso
haja abuso de autoridade do professor existe a diretoria da escola, conselhos
de professores/pais/ e alunos para a discussão da questão. Nem deveria haver o
mesmo para os frequentes descontentamentos contra profissionais da saúde.
Nestes casos, deveriam ser locais para as respectivas queixas e para os devidos
B.Os. as delegacias de polícia e os quartéis. E o que dizer de provocações às
autoridades, como no caso do Presidente Emanuel Macron? Lembram-se da horda
ignorante, agredindo em coro a Presidente Dilma Rousseff, com palavreado chulo,
por ocasião da Copa do Mundo no Brasil? Se democracia é isso, para mim é
inaceitável. Verifiquemos a Bíblia, Romanos 13:1-5: “Cada um se submeta às
autoridades constituídas, pois não há autoridade que não venha de Deus. De modo
que aquele que se volta contra a autoridade, opõe-se à ordem estabelecida por
Deus. E os que se opõem atrairão sobre si a condenação. Os que governam incutem
medo quando se pratica o mal, não quando se faz o bem. [...] Por isso é
necessário submeter-se não somente ao temor do castigo, mas também por dever de
consciência. [...] Dai a cada um o que lhe é devido: o imposto a quem é devido;
a taxa a quem é devida; a reverência a quem é devida; a honra a quem é devida”.
Uma segunda observação eu extraí
das imagens de TV em que um ativista ‘gay’, inglês, exibia um cartaz contra o
Presidente Vladimir Putin, em plena Praça Vermelha, em Moscou abordando suposta
perseguição aos homossexuais na região russa da Chechênia. Pois bem, a
jornalista Sandra Annemberg, em um dos telejornais da Globo fez um comentário
condenando a prisão – por poucas horas – desse britânico mediante a legislação
local. Fiquei a matutar: seria a Rússia ainda um regime ditatorial como nos
tempos da União Soviética? Houve ou não houve o estabelecimento de uma
democracia naquele país? Aquele povo disciplinado da era soviética estaria
optando pela anarquia de valores como costuma acontecer em muitas democracias
capitalistas?
No “site” Opera Mundi,
encontrei a matéria, de 20-DEZ-2013, “A democracia russa: como os russos a
explicam? Opinam o cientista político e ex-deputado federal, Sergey Markov, e o
Prof. Leonid Polyakov, da Escola Superior de Economia de Moscou: “O fato de
Putin ter sido eleito três vezes, ter eleito o seu sucessor, Dmitry Medvedev, e
de seu partido, o Rússia Unida, contar com mais de 60% dos votos nas eleições,
é um indicador de que a vontade popular está sendo realizada”. Nessa mesma
matéria há o comentário: “Putin centralizou o poder, fortaleceu as instituições
estatais, estruturou a economia, combateu as oligarquias e enfraqueceu os
movimentos separatistas”. A título de ilustração lembro que na Rússia existe a
separação dos poderes executivo, legislativo e judiciário. O Legislativo
funciona à semelhança do Brasil: a Câmara Baixa ou DUMA, dos deputados
federais, e o Conselho da República, a Câmara Alta, como o nosso Senado, sendo
que o processo legislativo percorre ambas as câmaras e chega ao executivo para
sanção ou veto. Atualmente, conforme quadro gráfico encontrado na Wikipédia, a
DUMA é composta de 450 deputados, eleitos em 18-Set-2016 e assim distribuídos
por partidos: Partido Comunista (42), Partido Liberal Democrata (39) Partido
Rússia Justa (23), Rodina (1), Plataforma Cívica (1), Independente (1), Vacante
(1) e Partido da Rússia Unida, do Presidente Putin (342). O caro leitor poderá
conhecer mais em: guiadoestudante.abril.com.br/blog/atualidades-vestibular/entenda-como-funciona-o-sistema-politico-da-russia.
O jornal português PÚBLICO, nas
versões impressa e digital, que tem edições em Lisboa, Porto e ilha da Madeira,
comentando a legislação rigorosa contra a propaganda LGBT na Rússia, ou
manifestações públicas de afeto entre homossexuais, em confronto com a
democracia, escreve: “Na Rússia, a rejeição da homossexualidade é uma coisa
séria. A lei que torna crime a propaganda da homossexualidade junto de menores não
é apenas uma ideia do Presidente Putin – é realmente apoiada pela população”.
Segundo o Instituto Pew, pesquisas apontam que 80% da população russa apoiam a
lei contra a propaganda e manifestações públicas de afeto. O que pude ler, em
sítios eletrônicos diferentes, é que o homossexualismo praticado com discrição,
na Rússia, não sofre restrições, inclusive existem clubes gays.
Há, ainda, uma outra
pesquisa sobre os que consideram que a homossexualidade deve ser aceita
socialmente, em vários países, e citaremos alguns: ACEITAM 88% na Espanha; 87%
na Alemanha; 80% no Canadá; 79% na Austrália; 74% na Argentina; 70% no Brasil;
43% na Bolívia; 21% na China; 16% na Rússia; 8% no Kenia; 3% na Indonésia; 1%
na Nigéria.
Serão leis contra o aborto,
contra o homossexualismo, a favor da tortura e da pena de morte, que descaracterizam
uma democracia? Assim sendo, a decantada democracia dos Estados Unidos da
América é uma farsa, pois todos sabem da existência da pena de morte em muitos
dos estados federados, da tortura oficial praticada contra supostos terroristas
afegãos presos há muitos anos na prisão de Guantánamo e, nos dias de hoje,
crianças filhas de imigrantes ilegais, aos milhares, separadas dos pais e
depositadas em abrigos inadequados. Temos que observar a cultura e a história
dos povos.
Entretanto o Prof. Luiz
Fernando de Camargo Prudente do Amaral, advogado, professor universitário,
doutorando e mestre em direito pela PUC/S.Paulo, especialista em Direito Penal,
Econômico e Europeu pela Universidade de Coimbra/Portugal, membro da OAB-SP,
não tergiversa em seu artigo publicado no Blog Cidadania, Direito e Justiça,
sob o título “A perigosa relativização da democracia”. Com citações dele
extraídas concluo este artigo. “Há diversas concepções jurídicas e filosóficas
para a democracia. Todavia é preciso admitir que democracia é o regime que deve
conciliar liberdade individual e o funcionamento de instituições. Neste ponto,
a teoria de Justiça de John Rawls é uma boa lição, afinal essas são as bases do
Estado Democrático de Direito [...] Ninguém é maior do que a instituição que
integra [...] Assim, não concordamos com juízes, promotores, advogados ou
políticos que busquem conferir “rosto e seu próprio nome” às instituições que
integram e de maneira passageira, porque eles passam, mas elas devem permanecer
em pleno funcionamento. [...} A liberdade não é absoluta, assim como nenhum
outro direito fundamental. Há colisão entre eles, sendo necessária a realização
de juízos de ponderação. Entretanto, não haverá efetividade de direitos humanos
através da aniquilação da liberdade individual. Por conseguinte, não será
possível garantir direitos humanos fora do Regime Democrático”.
*Marco Regis de Almeida Lima é médico, foi prefeito de Muzambinho
(1989/92; 2005/08) e deputado estadual-MG (1995/98; 1999/2003) -
marco.regis@hotmail.com