Publicado em 16/03/2018 - marco-regis-de-almeida-lima - Da Redação
A civilização humana já trilhou
uma longa jornada. Ainda assim, muitos entendem como apropriado o lema: “Cada
um por si e Deus para todos!”. Essa é uma conduta discrepante diante da solidão
galáctica dos terráqueos, da consciência da nossa pequenez cósmica e, em
decorrência disso, dos apelos mais recentes para a nossa vida globalizada. Não
dá mais para se admitir essa tese do “cada um por si”. Porém, ela está exposta
no cotidiano. Cada vez mais as pessoas se tornam mais individualistas,
exaltando o consumismo e o descartável, cultivando e cultuando dinheiro e bem
estar pessoal acima de todas as coisas. Não
é de agora que escuto as pessoas dizerem que “se Jesus Cristo de novo vivesse
entre nós de novo seria crucificado”, numa constatação e manifestação eloquentes
de que o ser humano, em sua maioria, não avançou moral, social e
espiritualmente nestes dois milênios transcorridos. No entanto, persiste a hipocrisia
de bradarmos por um Deus justo que nos socorra nos infortúnios e desgraças que
se abatem sobre esta sociedade humana sem conserto. Sobretudo a crença de que
os mantos das religiões são os passaportes para o paraíso.
Este raciocínio que conduzo
longe está da negação de Deus ou do Deus-Homem, ou de quaisquer religiões, ou
de seus verdadeiros e convictos fiéis. Está sim a repudiar certo tipo de
gentinha falsa, hipócrita e volúvel que continua a infestar nosso receptivo e
aprazível planeta. Repetitivamente, vou me ater à advertência contra os perigos
dos últimos tempos, citada em artigo anterior, através da transcrição do
capítulo 3:1-5 da 2ª Epístola bíblica de Tímóteo: “Sabe, porém, o seguinte: nos
últimos dias sobreviverão momentos difíceis. Os homens serão egoístas,
gananciosos, jactanciosos, soberbos, blasfemos, rebeldes com os pais, ingratos,
iníquos, sem afeto, implacáveis, mentirosos, incontinentes, cruéis, inimigos do
bem, traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres do que de Deus,
guardarão as aparências da piedade, negando-lhe, entretanto, o poder. Afasta-te
também destes”.
Não sei até onde posso
generalizar minha crítica ao nosso estágio civilizatório considerando o
inegável avanço científico e tecnológico e as benesses decorrentes para a espécie
humana. Mas, o progresso não foi harmônico em todas as latitudes e longitudes.
Mesmo aonde chegou não chegou para todos. Na maioria dos lugares do nosso mundo
há um fosso entre riqueza e pobreza. Em poucos deles poderíamos dizer que é um
simples desnível. Na maioria é mesmo um grande fosso. Nem todos se enriqueceram
à custa de suor e trabalho. A esperteza, o compadrio e a corrupção têm
gerado castas minoritárias de bem aquinhoados por todos os cantos do mundo. Mas
a riqueza a que me refiro não é de simples ricos, mas de bilionários que
preenchem as listas dos “cem mais” de algumas publicações fúteis. Dessas que
fazem apologia da ostentação.
Defendo a solidariedade, a cooperação e o
coletivismo; combato o “cada um por si e Deus para todos”. Não sei o que é pior, arremedos de democracia
nas quais proliferam a chantagem e a corrupção, ou regimes fortes,
disciplinadores de populações insatisfeitas e insaciáveis. Entendo como o nosso
planeta se aproximou pelo avanço fantástico das comunicações e o quanto isto
tem sido benéfico para desenvolvimento planetário sustentável. Entretanto, fico
feliz pela derrocada de duas ideias – pelas quais sofri. A primeira delas foi a
não concretização da Aldeia Global, do filósofo canadense Marshall Mc Luhan, na
década de 1960, que falava em “retribalização”, onde “barreiras culturais,
étnicas e geográficas, entre outras, seriam relativizadas nos levando a uma
homogeneização sócio-cultural e marcharíamos para uma sociedade mundial”; a
outra, a que me referi inúmeras vezes foi o rotundo fracasso da teoria do
nipo-americano, Francis Fukuyama, escrita após a queda do Muro de Berlim, com a
publicação do livro “O Fim da História e o Último Homem”, em 1992, odiado pela
esquerda mundial, no qual ele afirmava que “com o colapso do comunismo a
procura por um modelo moderno de sociedade havia chegado ao fim”, ou seja
vencera o liberalismo. Isto pode ser uma verdade relativa, se considerarmos
modelos diferentes como China, Cuba, Vietnam, Coreia do Norte, Irã e outros. Além
do mais, não foi uma vitória solidificada haja vista a crise que estourou nos
Estados Unidos, em 2007, e quase parou o mundo por alguns anos. Por essa
ocasião, governos capitalistas injetaram bilhões de dólares em instituições
financeiras e grandes empresas, em prejuízo da população, uma contradição dessa
doutrina.
Enfim, diante da
História Universal, minhas palavras pouco significam. A mudança para melhor da
humanidade passa pela transformação do homem e esta tem sido proporcionalmente
mínima em quantidade e qualidade.
Marco Regis - O
autor é médico, foi prefeito de Muzambinho (1989/92; 2005/08) e deputado
estadual – MG (1995/98; 1999/2003) - marco.regis@hotmail.com