Publicado em 14/09/2018 - marco-regis-de-almeida-lima - Da Redação
Desastres, tragédias, atentados
e mortes inesperadas causam comoção no povo. Alguma explicação buscada e
dirigida para isso encontrei no texto postado em 01-09-2017 pela “Net Nature Wordpress.com:
“Comportamento de manada – quando o homem age em bando”. Nele se ressalta que
os primeiros filósofos a fazerem referência ao comportamento de “multidão”, no
século XIX, foram o dinamarquês, Sören Kierkegaard, e o alemão, Friderich
Nietzche, sendo que este chamou de “instinto de rebanho” a esta conduta
coletiva. Isto viria a ser substituído por “comportamento de manada”, em 1914,
no livro “Peace and War”, publicado pelo cirurgião britânico Wilfred Trotter. “O
termo origina-se do comportamento dos animais em rebanhos, bandos de aves, ou
peixes em cardumes, além dos seres humanos em manifestações, motins, greves,
eventos esportivos ou encontros religiosos”. Sobre isso, Freud faz referências
como “psicologia das massas”; Jung como como “inconsciente coletivo”; e Le Bon
de “mente popular”. O texto digital reforça que: “Então notamos que o mesmo
comportamento tem diferentes nomes”. Além disso, percebe-se pelo texto em
questão que são numerosas as teorias e conclusões pela literatura científica. “Manstead
e Hewstone, 1996, e Reicher, 2.000, afirmam que o médico e antropólogo francês
Gustave Le Bon se tornou o teórico mais influente neste assunto”. Le Bon
descreve que “os indivíduos na multidão perdem o seu sentido de
auto-responsabilidade pessoal e individual, sendo fortemente induzidos pelo
anonimato da multidão”. Depois vem “a segunda fase, o contágio, na qual
refere-se a propensão que os indivíduos em uma multidão tem em seguir cegamente
as ideias e emoções predominantes da multidão”. Em outro trecho da Net Nature
Wordpress.com extraímos: “Uma outra perspectiva deste assunto advém da teoria
da desindividualização que defende que em certas situações típicas de multidão,
fatores como o anonimato, unidade do grupo, e excitação podem enfraquecer
controles pessoais tais como a culpa, vergonha, comportamento e
auto-avaliação”.
Transponho o tema para estudo
das redes sociais da atualidade. Dentre os inúmeros artigos abordados, preferi
me utilizar de uma fonte mais abalizada de informação, a BBC Brasil, de
Londres, em matéria de Juliana Gragnani, intitulada: “Como ‘comportamento de
manada’ permite manipulação da opinião pública por ‘fakes’, de 9-DEZ-2017”.
Passo a transcrever trechos da matéria em questão. “A estratégia que vem sendo
usada por perfis falsos no Brasil e no Mundo para influenciar a opinião pública
nas redes sociais se aproveita de uma característica psicológica conhecida como
‘comportamento de manada’. O conceito faz referência ao comportamento de
animais que se juntam para se proteger ou fugir de um predador. Aplicado aos
seres humanos, refere-se à tendência das pessoas de seguirem um grande
influenciador ou mesmo um determinado grupo, sem que a decisão passe,
necessariamente, por uma reflexão pessoal. Se muitas pessoas compartilham uma
ideia, outras tendem a segui-la. [...] Você escolhe (alguma coisa) porque
acredita que, se outros já escolheram, deve ter algum fundamento nisso, diz
Fabrício Benevenuto, professor da Universidade Federal de Minas Gerais, sobre a
atuação de usuários nas redes sociais. Ele estuda desinformação nas redes e
testou sua teoria com um experimento: controlou quais comentários apareciam em
um vídeo do You Tube e monitorou a reação de diferentes pessoas. Quanto mais
elas eram expostas só a comentários negativos, mais tendiam a ter uma reação
negativa àquele vídeo, e vice-versa”.
A sociedade humana é por
demais diferenciada, principalmente do ponto de vista racial da cor da pele e
passando pela língua e dialetos, pelos costumes e tradições, pelas crenças e
religiões, pelas ideologias políticas e muitas outras características. Composta
por seres dotados de racionalidade, essa sociedade logo viu que a divisão de
tarefas a tornava mais eficiente nas suas atividades e na sua sobrevivência.
Porém, a divisão do trabalho se imporia a partir da Revolução Industrial, cada
um executando a sua tarefa nas produções em série. Uma evolução gigantesca em
relação aos chamados “insetos sociais”, comunidades de cupins, abelhas e
formigas, cujos componentes possuem tarefas bem definidas como operários,
soldados e procriadores.
Apesar da enorme distância
de anos-luz entre a simplicidade das espécies invertebradas de insetos sociais,
pertencentes às ordens Isoptera (cupins) e Hymenoptera (abelhas e formigas) e a
espécie dos vertebrados humanos, um denominador comum as une, que é a
organização social e a divisão de tarefas. No entanto, os insetos sociais
cumprem suas tarefas e aptidões com impecável disciplina, através da
transmissão de ordens por um mecanismo químico contida nos ferormônios por eles
secretados e repassados por toques de ferrões ou mandíbulas. Os seres humanos
são infinitamente superiores e evoluídos, constituídos de um cérebro, milhões
de neurônios e inúmeras substâncias químicas, que conectam os neurônios,
executando o papel de neurotransmissores. Enfim, o cérebro é um fantástico
computador orgânico que recebe, processa e emite informações, dotando os
humanos da chamada racionalidade. Nem sempre, no entanto, ele é capaz de
interpretar a veracidade das informações que recebe, retrocedendo-os ao
comportamento de manada e aviltando a sua condição humana. Entrementes, isto
não acontece nas sociedades de seres mais primitivos como os mencionados
isópteros e himenópteros, nos quais meros ferormônios dão conta de regular
operários e soldados, esterilidade e fertilidade, enquanto produzem verdadeiras
obras de engenharia como túneis, colmeias, cupinzeiros, além de higiênicas e
nutritivas agrobioindústrias. Alguma coisa precisa ser feita senão jamais serão
detidas essas manadas estouradas e galopantes das redes sociais.
*Marco
Regis de Almeida Lima é médico, foi prefeito de Muzambinho (1989/92; 2005/08) e
deputado estadual-MG (1995/98; 1999/2003) – marco.regis@hotmail.com