Publicado em 01/03/2019 - marco-regis-de-almeida-lima - Da Redação
Vive-se uma época de promissoras
oportunidades para profissionais de ‘marketing’, estatísticos, matemáticos,
engenheiros e técnicos da informação, pois tudo é submetido a pesquisas e
avaliações, gostemos ou não, acreditemos ou não. Nem bem bateu o gongo de 60
dias do novo governo brasileiro e já é divulgada, nesta 3ª feira, 26, pesquisa
da CNT/MDA – Confederação Nacional do Transporte, que é cliente da Mercados de
Atuação (MdA) que, por sua vez, é parceira da UFLA – Universidade Federal de Lavras.
Mais do que uma demonstração de ansiedade, antes que cheguemos ao velho e
chatíssimo marco dos 100 dias de governo, os dados estão aí para satisfazerem
variados interesses e objetivos a começar pelo aperfeiçoamento dos
universitários da UFLA.
Aqui não interessa o destrinchamento
dos inúmeros dados divulgados pela pesquisa. Apenas queremos destacar que o
governo de Jair Bolsonaro recebeu 38,9% de avaliação positiva, ou seja, de
respostas como bom ou ótimo. Porém, esse resultado já foi munição suficiente
para o preenchimento de espaços na imprensa e no debate do Congresso Nacional,
principalmente na Câmara dos Deputados, conforme tive a oportunidade de
acompanhar ao vivo, através da TV Câmara, diretamente do plenário. Lá mesmo
disseram que “é a pior avaliação de um presidente brasileiro em começo de
mandato”. Mas, não é bem assim. Isto não foi feito no período presidencial de
Fernando Henrique Cardoso. Com Luiz Inácio Lula da Silva houve uma avaliação
por um diferente instituto, o Sensus, em janeiro de 2003, ocasião em que ele
obteve 56,6%. Já Dilma Rousseff foi avaliada em agosto de 2011, obtendo 49,2%
de aprovação positiva. Portanto, as comparações entre todos eles não são reais,
considerando-se ao menos a diferença entre institutos de pesquisa e os períodos
de mandato avaliados. Deve-se ressaltar apenas um outro dado: o de que 7,5% dos
pesquisados que votaram em Bolsonaro estão arrependidos, um “mea culpa” muito
cedo.
Todavia, o que tem chamado a
atenção daqueles entendedores da política, com alguma repercussão no povo, tem
sido o entrechoque de opiniões dentro da cúpula governamental. Pelo menos vinha
sendo, com a interferência dos filhos de Bolsonaro junto a ele ou até em
ambiente internacional. O vereador do
Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro, que foi o principal utilizador das redes
sociais durante a campanha política, acabou sendo o pivô da queda prematura do
ministro Gustavo Bebiano, presidente do PSL e principal articulador e
conselheiro do Presidente durante o período eleitoral. Foram idas e vindas de
opiniões, que passaram a ser contornadas com a nomeação do sisudo General
Otávio Rêgo Barros como porta-voz, em meados de janeiro passado. Eduardo
Bolsonaro, eleito deputado federal por São Paulo, depois das eleições teve divulgado
um vídeo em que ele desmerecia e subestimava a nossa mais alta Corte de
Justiça, dizendo: “prá fechar o STF basta um soldado e um cabo”. Já o
primogênito dos filhos, Flávio Bolsonaro, que era deputado estadual-RJ e hoje
ocupante de uma cadeira no Senado da República, segundo publicações dos jornais
O Globo e Extra, do Rio, em 22-Jan-2019, e do digital BBC News Brasil, em
25-Jan-2019, teve um assessor muito próximo dele e da sua família, Fabrício
Queiroz, que foi pego pelo COAF, órgão do Ministério da Fazenda, com uma
movimentação de cerca de R$7 milhões em sua conta bancária no período entre
2014/2017, incompatível com o salário de uns R$8 mil reais, que recebia como
funcionário da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ). Além do mais publicou o Extra, na referida
data: “Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) empregou em seu Gabinete na ALERJ a mãe e a
mulher de um policial acusado de liderar uma organização criminosa com atuação
em milícia, Capitão Adriano, que está foragido após ter sua prisão decretada”.
Tirante os envolvimentos
familiares do atual Presidente, que teve inevitáveis consequências, queremos
abordar as trapalhadas de alguns dos seus ministros civis, que têm causado mal
estar no País. O ministério montado por Jair Bolsonaro tem o destaque de muita
presença de militares do Exército, Marinha e Aeronáutica, que tem lhe dado
maior sustentação e credibilidade, inclusive do Vice-Presidente da República, o
General Hamilton Mourão, uma figura mais acessível, simpática e inatacável a
não ser por determinados posicionamentos ideológicos, tipo o que tem
manifestado na crise da Venezuela, pregando que Nicolás Maduro “saia do país”.
Os trapalhões são um amontoado de
ministros despreparados e distantes da condição de estadistas, que deles se
esperava. Eles formam um conjunto de assessores presidenciais que pautam pelo
amadorismo na política e na gestão das suas pastas.
A titular do Ministério da
Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Regina Alves, tem se
comportado como se estivesse no exercício de um ministério religioso. Sempre
escrevemos que a formação das nossas crianças e jovens carece hoje de três
pilares básicos, que são a família, a religião e a escola. No entanto, Damares
transpassa tais pilares e se revela cheia de si e cheia de equívocos. Falta a
ela isenção e compreensão para lidar com os sentimentos de uma população que
ainda tem outra religião dominante e uma legião de agnósticos e ateus.
Talvez
o principal trapalhão seja o ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodriguez, um
colombiano naturalizado brasileiro, que faz pouco tempo se referiu aos jovens
brasileiros que viajam para o exterior como “canibais”, que roubam de tudo até
assentos ejetáveis de avião. Pois nesta semana ele tomou a absurda iniciativa
de dar ordens às escolas públicas e particulares que filmassem as crianças
perfiladas cantando o Hino Nacional e declamando o ‘slogan’ da campanha de
Bolsonaro: “Brasil acima de todos e Deus acima de tudo”. Acirrados debates
ecoaram na tribuna da Câmara dos Deputados durante esta semana acerca destas
medidas. A oposição bateu pesado em Vélez Rodrigues e foi ao Ministério Público
Federal denunciá-lo pelos crimes de filmagem de menores, proibição esta contida
do Estatuto da Criança e do Adolescente, e violação do Artigo 37 da
Constituição Federal pelo uso de símbolos de partido ou de campanha. Em menos
de 24 horas o ministro revogou o que fizera, sem explicar se fora pura
ignorância às leis ou pura má fé. Sobre o colombiano-brasileiro o principal
“site” anti-PT, O Antagonista, tempos atrás havia publicado que ele foi
emplacado ministro pelo ideólogo e polemista Olavo de Carvalho, o “guru
ultraconservador de Bolsonaro, que já havia emplacado o Trumpista, Ernesto
Araújo, nas Relações Exteriores”. Conclui O Antagonista que “o Olavismo passou
de piada a doutrina oficial de governo”. Esquecíamos de acrescentar que a
bancada do PSL na Câmara Federal tentou desvirtuar as críticas da oposição como
que esta fosse contrária que crianças cantassem o Hino Nacional, o que hora
alguma aconteceu. Até porque a Lei Federal nº 12.031, de 21-Set-2009,
sancionada pelo Vice-Presidente no exercício da Presidência da República, José
Alencar, tornara obrigatório que escolas públicas e particulares uma vez por
semana cantassem o Hino Nacional.
Finalmente, ao me referir a mais
um trapalhão, a quem o “site” O Antagonista (repito, o mais feroz anti-PT)
escreve ser ele um adepto de Donald Trump, o atual ministro das Relações
Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo. Queremos de antemão isentá-lo da polêmica
proposta de transferência da embaixada brasileira em Israel, de Tel Aviv para
Jerusalém, pois é uma decisão de um governo eleito nas urnas e nos cabe
respeitar. Mesmo assim ele é um dos mentores dessa mudança, que tem nossa
frontal discordância. Ernesto Araújo nunca chefiou uma embaixada, embora tenha
sido promovido para esse escalão somente em 2018. Na matéria de Lisandra
Paraguassu, da agência Reuters, publicada na versão digital da revista Exame de
14-Nov-2018, ‘fontes diplomáticas’ dizem: "Nunca um chefe de departamento,
um cargo de terceiro escalão na diplomacia, foi alçado a Chanceler”; a outra
fala que “É uma pessoa de perfil bem baixo. É de se questionar que tipo de
liderança ele terá”. A mesma revista, no dia seguinte, na matéria de João Pedro
Caleiro, transcreve opiniões do próprio Ernesto Araújo em seu blog que apenas
resumiremos como temas: antiglobalismo; combate ao marxismo cultural; ao
antinatalismo da esquerda; críticas ao climatismo; ao racialismo; à sociedade
materialista; sobretudo odiosos ataques ao PT. Na sua posse no Itamaraty,
exagerou na recitação de frases em grego e em latim, demonstrando sua ampla
cultura, mas, também o seu lado sombrio do atrasado conservadorismo. No último
domingo, na cidade divisória do Brasil com a Venezuela – Paracaima – foi
pessoalmente comandar a entrega das “doações humanitárias do Brasil”,
participando de uma entrevista coletiva ao lado da Embaixadora do governo
paralelo do usurpador Juan Guaidó e de um representante do governo dos Estados
Unidos. Como ministro excedeu-se na desconstrução do governo de Maduro e
parecia comemomorar a queda do governante venezuelano e a entrada de dois
acanhados caminhõezinhos com carregamento de gêneros alimentícios e remédios –
que foram barrados tanto nessa fronteira como na da Colômbia-Venezuela sob a
afirmação de Nicolás Maduro de que seu povo não é mendigo. A mim, cabe-me por
dúvidas nas filmagens de venezuelanos comendo alimentos retirados de um caminhão
de coleta de lixo, pois podem simplesmente terem sido pagas para isso pela
tendenciosa rede de TV Univisión, sediada em Miami-USA. Ou, se verdadeiras, são
cenas vistas aos montes nas grandes cidades brasileiras, principalmente pessoas
com alienação mental provocada pela dependência química.
A constatação é a de que
estamos diante de um governo que espelha o que foi o parlamentar Jair Bolsonaro
em seus 30 anos de carreira: polêmico, acomodado e corporativo. Segundo
publicou o “site” DCM, reproduzindo o “Estadão”, de São Paulo: as elites e o
conservadorismo começam a denotar preocupação com os destinos do novo governo.
Então pergunta: o que esperar de democracia de um político que passou toda a
sua carreira defendendo a ditadura, a tortura e as milícias? Seria então motivo
de mudança no nosso título de Trapalhões por Ignorância Política para
Trapalhões por Distorção Político-Ideológica?
*Marco Regis
de Almeida Lima é médico, foi prefeito de Muzambinho (1989/92; 2005/08) e
deputado estadual-MG (1995/98; 1999/2003)
- marco.regis@hotmail.com’