Publicado em 26/04/2019 - marco-regis-de-almeida-lima - Da Redação
Já era noite na quarta feira
de abril, 24, quando eu encetava minha saída pelos meandros da Assembleia
Legislativa do Estado de Minas Gerais, na capital mineira, após breves visitas
a alguns espaços da Casa, que mais significavam extremidades remotas de raízes
da minha vida. Já havia trocado revigorantes abraços e palavras com as poucas
pessoas que lá ainda restavam, de vinte anos atrás, como os seguranças Oliveira
e Godói; o ainda persistente Gilmar, vendedor de CDs (que insistiu em me ofertar
uma raridade do mineiríssimo Clube da Esquina, com melodias de Milton
Nascimento, Flávio Venturini e Lô Borges, que, neste instante, ouço através de www.ouvirmusicas.com.br/clube-da-esquina);
o Guaraci do cafezinho; o Zé Carlos, chefe da cantina privativa dos deputados; o
João Sales, ex-prefeito de Bonfim e fiel escudeiro do antigo deputado,
recém-falecido Pedro Gustín; a Luziana da TV legislativa; o Sávio Souza Cruz –
um dos raros remanescentes das lides parlamentares desse outrora – bem como
Lécio o último guardião do gabinete dele àquela hora noturna do expediente.
Foi assim que atingi as
proximidades da saída, passando pelo grandioso Espaço Político-Cultural
“Gustavo Capanema”, deparando-me com uma exposição de desenhos, pinturas e
gravuras em metal sobre papel, do artista plástico Guilherme Franco, e de
pinturas de uma coleção de “cartografias sem direção” de outro artista
plástico, Mateus Diniz, o Zuba, ambos graduados em Artes Visuais pela UFMG.
Apreciando suas obras de arte, apanhei um folder explicativo para melhor
conhecimento daquilo que se nos oferecia. Detive-me numa frase entre aspas,
atribuída a um filósofo, escritor e poeta francês, Paul Valéry: “nenhuma obra é
terminada, ela é apenas abandonada”. Sozinho naquele imenso cômodo, àquela hora
da noite, essa frase foi o passaporte para a minha nostálgica viagem
espiritual.
Refleti por instantes acerca
dessa expressão contida no folheto, discordando da sua assertiva. Afinal de
contas, eu poderia ter abandonado a minha profissão, a minha obra médica,
trocando-a pela política. Porém, aqui, quem me abandonou foram os eleitores,
porque, por mim lá estaria em plena e real capacidade. Que o digam os meus
insistentes artigos neste sentido, escritos nas páginas deste semanário. Aliás,
isto o demonstrei em todos os meus contatos, distribuindo exemplares de jornais
com os meus escritos, provando que eu continuo vivo no trato da política, enquanto
ia me desfazendo, pouco a pouco, do enorme volume de papéis com que lá chegara,
ao mesmo tempo que propagandeava a imprensa da nossa região.
De tanta coisa que me
lembrei, no lapso de tempo em que percorri os corredores da exposição, uma
delas foi a minha iniciativa, em um dos mandatos, concretizada com a dedicação
da minha assessoria, em que promovemos uma inédita mostra coletiva de pintores
e escultores sul-mineiros, que preencheram e engalanaram aquela mesma galeria
de arte. Foi uma demonstração rara de promoção cultural de um deputado e não da
Assembleia, apenas com o apoio da mesma, quando se congregaram durante duas
semanas, artistas de cidades como Muzambinho, Guaxupé, Boa Esperança, Pouso
Alegre, Itajubá, Poços de Caldas e Varginha, das quais me lembro. Em outras
ocasiões, através de entidade que idealizei, o CACES – Centro de Apoio Cultural
e Educacional Sul-mineiro – entidade formalmente legalizada pelo meu então ao chefe-de-gabinete,
Dr. José Roberto Del Valle Gaspar, que foi presidida pela caríssima professora
e vereadora, também muzambinhense como ele, Maria Antonieta Coimbra Campedelli,
foi bancada a impressão do livro biográfico do saudoso e inesquecível radialista
Joãozinho Dureza, escrito pelo cabo-verdense João Nicolau Torres, o qual foi
componente da equipe de jornalismo da EPTV de Varginha. Essa mesma entidade foi
aquinhoada com subvenções a ela destinadas especialmente por mim (PPS, hoje
Cidadania), mas, também utilizada pelo querido e saudoso colega de Poços de
Caldas, Sebastião Navarro Vieira Filho (era PFL = Democratas) e até mesmo por um
amigo e deputado do norte de Minas, com a finalidade de pagamento de
mensalidades de alunos em faculdades da nossa região, majoritariamente para a
UNIFENAS, época em que muita gente conseguiu sua graduação em cursos superiores
com a nossa inestimável ajuda financeira. Mas, o CACES, orgulhosamente,
patrocinou uma exposição internacional da pintora Amarylis, em Lisboa, fato
estampado na capa do convite, exaltando o nome de Muzambinho em território
português.
No afã de solucionar um problema com meu telefone celular, saí da Assembleia e dirigi-me a um “shopping” das imediações, o ‘Diamond Mall’, onde continuei preso a boas e más lembranças do mesmo período dessa viagem nostálgica. Do alto das suas esteiras rolantes ou dentro do seu elevador panorâmico ainda me sentia transportado no tempo. Solitário e reflexivo vi-me outra pessoa, pois aquela, que um dia transitou soberbo e confiante por aqueles mesmos lugares não mais existia. Felizmente eu já voltara à realidade bem antes desta quarta feira outonal. A viagem de agora foi apenas nostálgica, consequência de fortuitos encontros de espaços na caminhada inexorável do tempo.
*Marco Regis de Almeida Lima é médico, foi prefeito de Muzambinho (1989/92; 2005/08) e deputado estadual-MG (1995/98; 1999/2003) - marco.regis@hotmail.com