Publicado em 28/10/2019 - paulo-botelho - Da Redação
Muitas são as lembranças de aniversário para quem
já pode antever a sorrateira chegada daquela senhora com a sua foice.
Foi no dia do meu aniversário – 7 de Outubro –
faz tempo, mas a dor ficou. Aquele dia amanhecera cinzento e branco, um dia
burocrático porque dava a impressão de que nada de interessante poderia ocorrer
naquele início de falsa Primavera. Se visualizo os tons cinzento e branco não é
por gostar dessas cores, mas para demonstrar a banalidade do mal – do mal
feito. Do bem feito, apenas uma singela lembrança prevista para o fim do
expediente de trabalho organizada pelos meus colegas.
Redator da segunda maior agência de publicidade
de São Paulo, eu tinha um chefe que atendia pelo nome de Carlos Maia de Souza –
Carlito para os íntimos. Autodidata ou ignorante por conta própria vestia-se de
forma impecável como um dândi. Por discordar apenas de um parágrafo de um texto
que eu elaborara, vociferou contrariado como um javali: “Não é isto que agrada
o mercado. – Você está demitido a partir de hoje!”
Algumas pessoas têm a maldade expressada pelos
olhos; ao contrário de um cavalo de corridas que expressa toda a sua índole, o
seu afeto, também pelos olhos.
O filósofo francês Jean-Paul Sartre já
questionava: “Est-ce que le monde serait meilleur sans les humaines?” ( Seria o
mundo melhor sem os humanos?)
Descobri algum tempo depois o que o Maia me fazia
lembrar: várias coisas, todas de caráter patológico, exceto uma que se resume
com um palavrão.
Segundo o psiquiatra americano Paul Babiac, autor
do livro “Snakes in Suits” (Cobras de Terno), quase 45% dos psicopatas estão
dentro das empresas, de qualquer ramo de atividade. Eles não matam, mas usam o
cargo para humilhar, assediar ou demitir sem dó. Chegam a cometer crimes. De
acordo com a Consultoria Price Waterhouse Coopers, um terço das empresas sofre
fraudes significativas, a cada ano, por conta dos psicopatas corporativos.
Manda quem pode; obedece quem tem prejuízo.
Naquele meu dia, peguei o paletó e fui para casa, sem comer o bolo de fubá com
café que os meus colegas prepararam.
Paulo Augusto de Podestá Botelho é Escritor.
Associado-docente da SPBC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.
E-mail: papbotelho5@gmail.com