Publicado em 21/06/2016 - paulo-botelho - Da Redação
“O sonho de voltar a cantar no trabalho vale a pena ser sonhado. Talvez não mais através do socialismo utópico de cem anos passados” lembra René Mendes, médico especialista em Medicina do Trabalho. O sonho a que René se refere antecede a realidade. Esta somente pode ser mudada se houver o sonho. E a ação. O sonho é poder trabalhar sem adoecer ou morrer por causa do trabalho.
É do senso comum e do dicionário que vem a ideia do sofrimento: do estresse, do desastre e do agravo. O agravo dá a ideia de prejuízo, dano. Vem daí o espectro da pathos (do grego, patologia) e, portanto, doença. Nada pior do que ficar doente e ainda ter que trabalhar.
A origem da palavra trabalho vem da forma latina Tripallium, instrumento de tortura criado e utilizado pela Igreja Católica desde o Século IV para punir os seus serviçais e os seus desafetos. Feito com três estacas de madeira encravadas no chão eles eram amarrados e torturados até ficarem “bem bonzinhos”! – Não é por acaso que as relações de produção mal estabelecidas possuem – ainda hoje – essa desprezível denominação.
A quadra abaixo refere-se ao grau de situação dos trabalhadores no Sertão Nordestino. Retrata o drama dos trabalhadores sob permanente ameaça de seus patrões. E cantam assim o trabalho para espantar os seus males, os seus agravos:
“No campo da divina luz,
Onde tudo se consome;
há quem come e não produz,
há quem produz e não come!”
Em “Morte e Vida Severina”, obra prima de engenharia literária do poeta João Cabral de Melo Neto, temos:
“Essa cova em que estás,
Com palmos medida,
É a conta menor
Que tiraste em vida!”
A única coisa que uma pessoa pode fazer durante 8 horas, ou mais – todos os dias – é trabalhar. Nem sempre pode-se dormir por 8 horas, tampouco comer ou descansar por 8 horas. Só se pode trabalhar por 8 horas ou mais. E é por essa razão que tantas pessoas fazem de si mesmas tão infelizes, tão miseráveis. Claro está que isso depende, muitas vezes, das circunstâncias que precisam ser enfrentadas no sentido de colocar o axioma do trabalho em evidência, isto é: dando destaque o seu valor qualitativo. O trabalho verdadeiro contém axia que quer dizer justiça e amor!
Paulo Augusto de Podestá Botelho é Professor, Escritor e Consultor de Empresas. WWW.paulobotelho.com.br