Publicado em 26/02/2016 - politica - Da Redação
Ações do governo contribuem para a derrocada da cadeia produtiva, diz deputado Arantes
A audiência pública do leite realizada na quinta-feira (25/02/16), a pedido do presidente da Comissão de Desenvolvimento Econômico da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), deputado Antônio Carlos Arantes (PSDB), em parceria com a Comissão de Agropecuária e Agroindústria, presidida pelo deputado Fábio Tolentino (PPS), reuniu dezenas de produtores de várias partes do Estado, representantes de cooperativas, sindicatos, associações, sistemas Faemg e Ocemg, além de técnicos do governo estadual.
Também participaram os deputados Inácio Franco (PV), Nozinho (PDT), Felipe Attier (PSDB), Galycon Franco (PTN), Rogério Correia (PT) e Emidinho Madeira (PT do B).
O encontro, que tinha o objetivo de discutir e propor soluções para a crise, acabou como palco para o desabafo de quem se aventura a produzir leite no Estado. Nas palavras do deputado Antônio Carlos Arantes, "é um trabalho de herói. O produtor é obrigado a trabalhar 365 dias do ano, como escravo, e a recompensa está cada vez mais decepcionante", afirmou.
O deputado criticou ainda a falta de uma política do governo do PT para o setor. "Quando todos esperavam pela ação do poder público, ele contribuiu negativamente, aumentando os impostos sobre produtos que afetam a cadeia produtiva, como a ração, os medicamentos veterinários e, sobretudo, a energia elétrica, que é cara e de baixa qualidade, cujas interrupções no fornecimento, principalmente no Sul de Minas, estão provocando mais prejuízos a quem precisa dela. Quem tem ordenhas mecânicas, por exemplo, está sendo obrigado a tirar o leite na mão, e os laticínios estão perdendo seus produtos por falta de refrigeração", lamentou.
Maior bacia leiteira do país
Minas Gerais é o maior produtor de leite do Brasil, com 9,4 bilhões de litros por ano, e tem o segundo maior rebanho bovino, com 23,7 milhões de cabeças. Para os produtores, a crise é antiga e se agravou nos últimos meses. Eles foram unânimes em apontar o baixo valor do leite no mercado diante dos altos custos de produção. A isso, somada a inflação, que na visão dos produtores é maior do que a anunciada pelo PT, torna a situação insustentável. "Enquanto tudo aumentou, o preço do leite caiu. Tem região no Estado em que o produtor está recebendo menos de R$ 0,90 centavos pelo litro. Até uma dose de cachaça custa mais do que o leite", observou Arantes.
O deputado Fábio Tolentino se declarou preocupado com o futuro. "A perspectiva de crescimento da produção leiteira para os próximos 10 anos é de apenas 25%, mas resta saber se vamos conseguir isso. Podemos ficar nos 12 ou 13%", previu.
O deputado Inácio Franco (PV), que faz parte da base aliada do Governo do Estado, criticou a falta de incentivos. "Eu tirei leite durante 25 anos, até que me decepcionei. Vendi as vacas num leilão e agora mexo só com gado de corte. A política do governo é só a de aumentar impostos. Estive ontem (21/02/16), na Cidade Administrativa, para o lançamento do Programa Minas Pecuária, do governo Pimentel, achando que seria uma ação importante para beneficiar o produtor rural e o que vi foram só estatísticas. Só estatísticas. Poderiam ter mandado os dados que a gente nem precisava ir lá. Eles se esquecem que é através do agronegócio que o governo federal está segurando a balança comercial brasileira", afirmou.
O vice-presidente da Federação da Agricultura de Minas Gerais (Faemg), Eduardo de Carvalho Pena, que é presidente da Comissão Técnica do Leite, falou da criação do Conseleite, Conselho do Leite, que envolve a produção, a indústria, as universidades e as instituições de pesquisas. "É um projeto que está dando certo em Santa Catarina e no Paraná, e que trabalha por um preço básico do leite, um preço padrão, discutido junto com a indústria", anunciou.
O diretor executivo do Sindicato das Indústrias de Laticínios de Minas Gerais (Silemg), Celso Moreira, pontuou que há alguns meses o mercado pagava acima de US$ 5 mil a tonelada do leite e que hoje esse valor está abaixo de US$ 2 mil, uma realidade considerada difícil tanto para o produtor quanto para a indústria. Nesse contexto, ele defendeu o Conseleite como uma ferramenta importante.
Para o presidente da Associação dos Sindicatos Rurais do Sul de Minas (Assul), Arnaldo Bottrel, o problema é de ausência de governo. "O agronegócio está tirando o país do atoleiro, sustentando a roubalheira que está aí e eles fecham os olhos. O governador Pimentel fala em cortes, mas aumenta o número de secretarias. Que economia é essa? Sabe o que é isso? É mentira! Na Emater tem uma fila de profissionais competentes saindo da empresa e onde estão os substitutos? As fazendas da Epamig estão no mato, abandonadas. E a Ruralminas nem parece que existe mais. É tudo mentira!", afirmou
Falta de segurança no campo desestimula o negócio
Outro grande problema mencionado por todos os presentes é a falta de segurança no campo. Segundo os produtores, é difícil saber quem ainda não foi assaltado na roça. Não existe mais o tempo em que se podia dormir sossegado.
O diretor do sindicato rural de Monte Carmelo, Clyton Luz de Lima, confirmou que ele e a esposa já foram assaltados. Diante de tantas dificuldades, perguntou: "Nós passamos por tudo isso e ainda assim participamos do PIB mineiro com uma grande porcentagem, então eu gostaria de saber qual é o orçamento que a secretaria estadual de Agricultura tem para colocar no setor. Alguém sabe?". E ao ser informado pelo deputado Arantes que o Estado tem apenas 2,7% da receita para investir nos programas de desenvolvimento, ele foi enfático: "Não adianta bater em couro que não dói", ressaltou.
Assessoria de Comunicação Deputado Estadual Antônio Carlos Arantes