CRISE NO CAFÉ: Deputado Melles comenta medidas e critica governo

Publicado em 29/11/2013 - politica - Da Redação

Na sexta-feira, 22/11, o governo federal, através do Ministério da Agricultura, anunciou a prorrogação das dívidas da cafeicultura por cinco anos, com dois anos de carência. A medida visa aliviar os efeitos da forte crise que abate o setor, que amarga preços abaixo dos custos de produção. Falando com exclusividade à nossa reportagem, o deputado federal Carlos Melles (DEM), liderança com vasta experiência de luta em prol da cafeicultura, comentou a medida anunciada. Para ele, a iniciativa não será suficiente para amenizar os problemas enfrentados pelo setor.

GOVERNO CONTINUA ERRANDO - Melles observa que o governo federal vem cometendo muitos erros quanto à política do café. “O presidente Lula errou demais e a presidenta Dilma continua errando”, criticou. Reconhece que o Ministro Guido Mantega (Fazenda) tem conhecimento a respeito, mas o governo federal está mal orientado dentro do Palácio. Além disso, entende que o Ministro Antônio Andrade (Agricultura) tem vontade, mas não tem força. Como deputado federal, há quatro anos vem tentando alertar o Ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) sobre a necessidade do problema do café voltar para o Ministério de Indústria e Comércio, onde teria mais força do que no Ministério da Agricultura.

R$ 843,00 E 20 ANOS - O deputado comentou que a safra de 2013, considerada normal, gerou uma perda de praticamente R$ 10 bilhões para o Brasil, sendo que Minas Gerais perdeu mais de R$ 7 bilhões. Neste contexto, o produtor é o maior perdedor, pois os outros apenas deixam de arrecadar. Melles informa que tem mantido reuniões permanentes com o Ministro da Agricultura, sempre apresentando o momento de crise enfrentada pela cafeicultura. Principalmente, argumentando sobre as dificuldades do produtor com o preço da saca de café a R$ 243,00. Acredita que se o preço do café tivesse sido reajustado igual ao salário mínimo, energia elétrica, insumos e maquinários, o valor atual deveria ser de R$ 834,00. “Este prejuízo é irreversível. A prorrogação de dívida alivia para pensar, mas não é a solução”, explicou. Melles defende uma prorrogação das dívidas pelo período de 20 anos. Também entende que o produtor não tem condições para pagar os 20% de imediato, conforme anunciado na última semana.

Melles ainda afirmou que a “palavra de esperança” deverá surgir em nova reunião do Conselho fixando um preço de R$ 347,00, através do PEPRO (prêmio de escoamento). Acredita ainda no adiantamento da execução das opções, com o governo utilizando recursos do Funcafé. Estas medidas, certamente, poderão diminuir o prejuízo.

A liderança aconselhou o produtor a não pagar a dívida, pois para isto precisará vender a produção. Até porque as medidas deverão estar mais claras nos próximos dias. “O não pagar é o mínimo que o governo poderia fazer. E cinco anos é pouco e precisa ir para vinte anos”, falou. A expectativa é que novas soluções surjam neste final de ano e início de 2014. Isto através da pressão e necessidade do cafeicultor.

PACTO DO CAFÉ - Melles ainda revelou que o Pacto do Café, que já tem quase dez mil adesões, apresenta uma proposta de política emergencial e médio/longo prazo para o café. Lembrou que 2014 é um ano eleitoral e o café já está entrando na pauta política. Durante encontro de governadores em Poços de Caldas, Geraldo Alckmim (SP) deixou claro que não existe uma política para o café. O governador Casagrande (ES) revelou que o seu estado já está perdendo quase R$ 1,4 bilhão em café. Já Melles entende que a crise no setor vai passar, sendo necessária a resistência do setor. Porém, é preciso manter os cuidados com a lavoura e apoio das cooperativas.

“A nossa solução agora é muito política”, disse Melles. Aproveitou para lamentar não ter observado pronunciamentos de deputados da base do governo e votados na região em defesa do café. E criticou: “Escondem debaixo da saia do governo”. Comentou que a safra do próximo ano será menor, não representando excesso de oferta, mas um erro pela falta de política de ordenamento de oferta.

FUTURO DO CAFÉ DE MONTANHA - Indagado a respeito, Melles afirmou que o custo do café mecanizado não é muito diferente do manual. Portanto, é preciso política pública como ocorre em outros setores com desoneração de impostos e trabalhistas. No caso do café, defende mudanças na lei trabalhista, além de subvenção para o café de montanha pela sua qualidade. E não é tão fácil a substituição do café de montanha, que deverá ocorrer muito lentamente. Assim, defende preços mais competitivos e prêmio pela sustentabilidade social, econômica e ambiental. Sua maior preocupação é com o empobrecimento da região. Um estudo está sendo elaborado para identificar o cenário do café para os próximos quinze anos.

CAFÉ NOS GOVERNOS DO PSDB E PT - Fazendo um comparativo e citando a extinção do IBC – Instituto Brasileiro do Café, o deputado lembrou que durante o governo FHC houve a criação do Conselho Deliberativo da Política de Café. Em 2002, quando foi registrada uma grande safra, o presidente FHC reuniu todos os Ministros, mostrando visão e ação política. Por outro lado, observa que a ação política do governo do PT nos últimos dez anos foi desastrosa para o café. Foi o período de maior perda da cafeicultura. Entende como pior fator: “A falta de política do Brasil para o café empobreceu o mundo cafeeiro como um todo”. Com isso, houve um brutal empobrecimento do produtor brasileiro.

ERRO IDEOLÓGICO - Melles considera a falta de política para cafeicultura um “erro ideológico” do governo petista. Comentou que o café ainda é observado por um grupo radical dentro do PT como a “cultura dos ricos”. Para o deputado, a situação é totalmente contrária e o debate deve ser mais profundo. Prova disso, que a crise afeta todos os setores da sociedade. “Lá em Brasília há uma resistência interna ideológica contra o café”, voltou a declarar.