Reunidos em audiência pública da Comissão de Minas e Energia da Assembleia
Legislativa de Minas Gerais (ALMG), parlamentares, prefeitos e lideranças
sindicais protestaram, nesta segunda-feira (12/3/18), contra a intenção do governo
federal de vender Furnas Centrais Elétricas, empresa
subsidiária da Eletrobras que tem forte ligação com o Estado.
Durante a reunião, foi lançada a Frente Parlamentar Contra a Privatização de Furnas,
idealizada pelo deputado Emidinho Madeira (PSB).
Emidinho Madeira e seus colegas João Vítor Xavier (PSDB), presidente da
comissão, Antonio Carlos Arantes (PSDB), Dalmo Ribeiro Silva (PSDB), Durval
Ângelo (PT), Rogério Correia (PT) e Cássio Soares (PSD), de forma unânime e
representando um movimento suprapartidário no Parlamento mineiro, condenaram a
possibilidade de venda da empresa.
Em linhas gerais, os deputados usaram como argumento a necessidade de manter
sob o controle do Estado a gestão de ativos relacionados à soberania nacional,
o custo financeiro, ambiental e social envolvido na construção de Furnas, assim
como prováveis consequências da medida, como o aumento da tarifa de energia.
“Para a construção de Furnas, muitas terras foram inundadas, famílias foram
divididas. Muito investimento foi feito para vendermos a empresa a preço de
banana”, destacou o deputado Emidinho Madeira, ao se referir à expectativa do
governo de arrecadar cerca de R$ 12 bilhões com a privatização, enquanto
estima-se que tenham sido utilizados R$ 400 bilhões para a estruturação da
Eletrobras.
Formada por várias outras empresas, a Eletrobras controla 233 usinas e possui
61 mil quilômetros de linhas de transmissão, que atuam em toda a cadeia
produtiva do setor. Furnas, especificamente, está presente em 15 estados
brasileiros e no Distrito Federal. Integram seu parque gerador 18 usinas
hidrelétricas, duas termoelétricas e três parques eólicos. Por seus mais de 23
mil quilômetros de linhas de transmissão, passam 40% da energia nacional.
Estatais chinesas seriam principais interessadas na venda
Os participantes da audiência compartilharam o temor de que o
setor energético vá parar nas mãos de companhias chinesas, cogitadas como as
principais interessadas no negócio e vistas como braços do governo do país
asiático. Dessa forma, a China poderia intervir diretamente em um dos
principais setores estratégicos do Brasil.
“A prova do valor de Furnas é vermos estatais estrangeiras cobiçando esse
patrimônio do qual queremos nos desfazer”, comentou o prefeito de Capitólio
(Sul de Minas), José Eduardo Vallory. “Como será o olhar dessas empresas para a
piscicultura, o desenvolvimento do turismo, os interesses dos cidadãos?”,
acrescentou o gestor, que também é presidente da Associação dos Municípios do
Lago de Furnas.
“Vamos deixar o governo chinês tomar conta do nosso patrimônio?”, indagou o
deputado federal Leonardo Quintão. Presidente da Federação Nacional dos
Trabalhadores em Água, Energia e Meio Ambiente (Fenatema), Eduardo Annunciato
ponderou que não está em jogo apenas a venda de energia, mas de todos os
componentes do sistema, que passariam a ser importados da China, transferindo
empregos para lá.
Ao final da audiência, outros requerimentos foram aprovados para dar
encaminhamento às questões discutidas, Uma das proposições foi transformar, de forma
simbólica, São José da Barra na capital de Minas, no dia 22 de março próximo,
data em que se comemora o “Dia Mundial da Água”. O requerimento foi encaminhado
ao governador do Estado.