Mudança na previdência é alvo de críticas

Publicado em 14/11/2013 - politica - Da Redação

Sindicalistas e deputados da oposição são contra extinção do Funpemg e teto para futuras aposentadorias.

Uma reunião tensa, que teve duração de mais de sete horas, com servidores lotando as galerias do Plenarinho IV para protestar contra os Projetos de Lei Complementar (PLCs) 53/13 e 54/13 e a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 62/13, que alteram a previdência dos servidores estaduais. Foi com esse clima que se desenrolou a reunião conjunta das Comissões de Fiscalização Financeira e Orçamentária e de Administração Pública.

A audiência pública foi realizada na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), na quarta-feira (13/11/13), para discutir as três matérias que propõem mudanças na aposentadoria dos servidores. Ao final da reunião, os dois PLCs foram distribuídos em avulso a pedido do relator das matérias na comissão, deputado Lafayette de Andrada (PSDB).

O deputado Rogério Correia (PT), que solicitou a reunião na Comissão de Administração Pública, explicou que o Fundo de Previdência do Estado de Minas Gerais (Funpemg), que o PLC 54/13 propõe extinguir, atualmente soma cerca de R$ 3,5 bilhões. Desse total, R$ 2,3 bilhões foram recolhidos pelo Governo do Estado (19% sobre a remuneração dos servidores) e R$ 1,2 bilhão são oriundos das contribuições mensais dos servidores, que recolhem 11% sobre seus vencimentos.

Ele detalhou que o Funpemg foi criado em 2002 para custear as aposentadorias dos servidores que ingressaram no sistema a partir de 2002. Dessa forma, esse fundo, superavitário, passou a conviver com o antigo, o Fundo Financeiro de Previdência (Funfip), com grande déficit e que já custeava as aposentadorias dos servidores antigos. Além disso, segundo o deputado, o Funfip já teria sofrido um rombo de R$ 8,5 bilhões na gestão do governador Eduardo Azeredo. “Teve inclusive uma Comissão Parlamentar de Inquérito que apurou esse desvio”, afirmou.

Ainda de acordo com o parlamentar, o Estado está falido e agora o governo quer utilizar os recursos do Funpemg para ajudar no custeio da máquina pública. “O Funfip é um buraco sem fundo. Se o Funpemg vai bem, por que extingui-lo?”, questionou.

Posição do governo - Já o deputado Lafayette de Andrada (PSDB), que requereu a reunião na FFO, destacou que este era o momento para prestar esclarecimentos aos servidores e aos deputados sobre os projetos relativos à mudança do regime de previdência. “Surgiram várias indagações e inquietudes, todas legítimas, de pessoas que querem compreender a mudança. A crítica é louvável, somos democratas e pretendemos esclarecer todos os pontos”, salientou.

Segundo o deputado, para o servidor atual não haverá qualquer mudança em função da aprovação dos projetos em pauta. “O servidor atual fica com as mesmas garantias e responsabilidades que já tem: continua pagando os 11%, o Estado contribuindo com os 19%”. A mudança, disse o deputado, se dará para o servidor que fizer concurso a partir da aprovação da lei. Por fim, ele pediu calma aos manifestantes, solicitando que ouvissem a posição dos convidados antes de criticarem.

Para secretária, proposta segue modelo federal

A secretária de Estado de Planejamento e Gestão, Renata Vilhena, reforçou as palavras do deputado Lafayette de Andrada. “As propostas de mudança na previdência estadual não mudam nada na vida do atual servidor”. Ela reforçou que a maior prova de respeito que o governo pode ter com servidor é pagar a aposentadoria de todos em dia, “não importa se por meio de Funfip ou do Funpemg”.

Renata Vilhena enfatizou que o Tesouro é obrigado a arcar e vai continuar arcando com todas as aposentadorias de todos os Poderes. E informou que, para honrar esses compromissos, anualmente, o Governo do Estado complementa cerca de R$ 6 bilhões ao Funfip, justamente para garantir o pagamento das atuais aposentadorias.

Sobre a unificação dos dois fundos, com a transferência dos cerca de R$ 3,2 bilhões do Funpemg para o Funfip, a secretária declarou que esses recursos serão utilizados exclusivamente para o pagamento de benefícios previdenciários. Ela destacou que, se o governo não cumprir suas obrigações, será punido pela União. “Toda a contabilidade do Funpemg está muito clara e é enviada semestralmente ao Tribunal de Contas e ao Ministério da Previdência”, afirmou. “Não faz sentido ficar com três fundos ao se adotar o modelo de previdência complementar, que utiliza o modelo de um único fundo contábil”, completou.

Tratando do projeto de previdência complementar contido no PLC 53/13, Renata Vilhena afirmou que ele foi copiado da proposta do Governo Federal. O mesmo regime já foi replicado, de acordo com ela, pelos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Além disso, a proposta mineira estaria pré-aprovada pela Superintendência Nacional de Previdência Complementar. Por fim, ela disse que os conselhos fiscal e diretor do Funpemg teriam concordado a mudança na previdência estadual.

Sindicalistas rechaçam mudanças

Todos os representantes sindicais foram unânimes em reivindicar o plebiscito entre os servidores como pré-requisito para a extinção do Funpemg. Eles também questionaram a urgência com que os PLCs estão tramitando e pediram mais tempo para discutir a questão.

Andréa Mirra, do Sindicato dos Servidores do Ipsemg (Sisipsemg), rebateu Renata Vilhena, afirmando que, ao contrário do que a secretária disse, foi apresentado ao conselho do Funpemg apenas o projeto da previdência complementar. Além disso, Mirra, que é conselheira do Funpemg, disse que, de um total de 24 conselheiros, somente quatro se posicionaram favoravelmente aos projetos.

A sindicalista exigiu respeito ao conselho e a outras instâncias de representação dos servidores, como o Comitê de Negociação Sindical. Na avaliação dela, o governo quer acabar com o Funpemg porque o fundo é fiscalizado pelos conselheiros. “A fala da secretária e dos deputados governistas é de que não vai mudar nada com a aprovação dos projetos. Então por que mexer? Deixa o Funpemg como está!”, defendeu.

Já o presidente do Sindicato dos Servidores da Polícia Civil (Sindipol), Denilson Martins, afirmou que a categoria não aceita o fim do Funpemg. “Não podemos colocar laranjas boas num cesto de laranjas podres, e é isso que está ocorrendo no caso do Funpemg e do Funfip”, lamentou.

O presidente do Sindicato dos Servidores da Saúde (SindSaúde), Paulo Carvalho, chamou de desrespeito a decisão de extinguir o Funpemg mesmo contra a vontade do conselho. “O deputado Sargento Rodrigues disse que 11% pertencem ao servidor e 19% ao governo, mas discordo. Tanto os 11% quanto os 19% são dos servidores”, defendeu.

“Em 30 de outubro houve uma reunião do conselho, com a presença da secretária Renata Vilhena. Contudo, não fomos informados sobre o fim da exigência de plebiscito”, disse o presidente do Sindicato dos Servidores da Justiça (Sinjus) e conselheiro do Funpemg, Wagner Soares Ferreira.

A presidente do Sindicato dos Servidores da Justiça de Primeira Instância (Serjusmig), Sandra Silvestini, ressaltou que as lideranças sindicais não foram ouvidas sobre a proposição. “Fomos surpreendidos com a apresentação do PLC 54. Estamos indignados porque imploramos para sermos ouvidos e não fomos”, afirmou.

A presidente do Sindicato dos Servidores da Educação (Sind-UTE), Beatriz Cerqueira, lembrou que o debate sobre a reforma da previdência teve início em 1998. “Nessa época, a discussão era a respeito da ausência de planejamento. Assim, as reformas que vieram na sequência trouxeram essa ideia de planejamento. Nesse contexto, o Funpemg representa algo bom e sadio, dentro de um planejamento a longo prazo. Por que, então, unificar os fundos?”, questionou.

Diretor do Ipsemg explica como funciona previdência complementar

O diretor de Previdência do Instituto de Previdência dos Servidores Públicos de Minas Gerais (Ipsemg), Marcus Vinícius de Souza, fez uma exposição sobre a previdência complementar, proposto pelo PLC 53/13. Segundo ele, com a criação dessa nova modalidade, o Estado arcaria com as aposentadorias até o teto do Regime Geral de Previdência Social (RGPS), que atualmente é de R$ 4.159,00. Essa mudança gerará uma economia para os cofres do Estado de R$ 414 milhões em 12 anos, afirmou.

O diretor explicou também que no regime atual, prevalece o benefício definido, de forma que o servidor tem a garantia de que sua aposentadoria será equivalente ao valor recebido na ativa. Já na previdência complementar, tem-se a contribuição definida, que gerará o total a ser pago quando o contribuinte se aposentar.

Na previdência complementar, o servidor tem a liberdade de contribuir com o valor que quiser ou até mesmo não contribuir com nada, explicou o diretor. No caso da contribuição, patronal, a alíquota será de, no máximo, 7,5% da parcela da remuneração que exceder o teto do RGPS. Ainda de acordo com ele, as contribuições patronal e do servidor são paritárias, ou seja, o governo contribui com o mesmo percentual do servidor, mas somente até o limite de 7,5%. Se o servidor quiser contribuir com mais, pode fazê-lo, mas o governo mantém o percentual máximo.

Por fim, Marcus Souza deu um exemplo fictício de um aposentado já no regime de previdência complementar. Para um servidor que recebesse R$ 14 mil e contribuísse por 35 anos com 7,5% da remuneração, sua aposentadoria seria de R$ 12.032,00, mais os R$ 4.159,00 bancados pela previdência oficial, portanto, maior até que seu salário da ativa. “Esse é um modelo bem sucedido no mundo inteiro”, concluiu.

Maioria dos deputados quer maior prazo para discutir matérias

O deputado Paulo Guedes (PT) fez questionamentos à secretária Renata Vilhena em relação à real situação financeira do Estado. Por fim, ele questionou se o Funpemg é um exemplo de boa gestão, qual a necessidade de retirar a obrigatoriedade do plebiscito entre os servidores sobre a extinçao do Funpemg; e ainda, por que passar os recursos do fundo para um outro falido; e por que fazer isso com tanta pressa. “Só existe uma explicação: cobrir o rombo do Estado com o dinheiro do caixa dos trabalhadores”, afirmou.

Também para o deputado Adelmo Carneiro Leão (PT), os projetos da previdência se adequam ao ajuste financeiro que o Estado quer fazer para saldar sua dívida, que é altíssima, segundo ele. “Não se pode tratar de uma matéria crucial como essa de forma tão apressada. E os conselhos têm que ser respeitados, o que não vem acontecendo nesse caso”, defendeu.

O deputado Sargento Rodrigues lamentou os cartazes ofensivos que parte do público exibiu em determinado momento da reunião. Ao mesmo tempo, observou que a discussão dos PLCs não pode ser apenas por parte do governo, tendo em visa que o dinheiro do Funpemg não é só patronal.

Na avaliação da deputada Maria Tereza Lara (PT), houve uma quebra de confiança no Parlamento mineiro. “Oposição e situação são importantes numa democracia. É fundamental que a secretária Renata Vilhena convença o governo a repensar essa ação, para que consigamos mudar essa situação”, sugeriu.

Por sua vez, o deputado Pompílio Canavez (PT) qualificou como desconfortável a forma como está sendo conduzido o processo. “Seria importante, em respeito à democracia, retomar o plebiscito e retirar a previdência complementar”, reforçou. Para ele, a proposição tem reflexo na vida de várias pessoas, e por isso tem de ser reavaliada. “As pessoas trabalham a vida inteira pensando como será o seu futuro, mas neste momento há uma incerteza”, condenou.

Na opinião do deputado Adalclever Lopes (PMDB), o governo precisa votar os projetos imediatamente para conseguir pagar o 13º salário dos servidores e cobrir outros gastos.

Utilizando de ironia, o deputado Sávio Souza Cruz (PMDB) disse estar convencido de que a Polícia Militar tinha sido “discriminada” ao não ser incluída na fusão do Funpemg com o Funfip e que isso seria uma “injustiça” com os militares. O deputado Rogério Correia complementou dizendo que talvez fosse o caso de incluir na fusão a previdência dos deputados. Mas o deputado Sargento Rodrigues explicou que, em relação à Polícia Militar, havia um dispositivo na Constituição Estadual garantindo essa separação da previdência dos militares.

Resposta - Respondendo a fala dos deputados, Renata Vilhena disse que, ao contrário do que insinuaram vários parlamentares, os recursos para pagamento dos salários e do 13º dos servidores já estão garantidos. “Os servidores podem ficar despreocupados”, tranquilizou. Também rebateu a afirmação de que o Estado estaria com dificuldades de caixa. “A questão aqui é rever o modelo previdenciário para dar sustentabilidade ao pagamento das aposentadorias futuras”, concluiu.

Apoiando a secretária, o presidente da FFO, deputado Zé Maia (PSDB), disse que o déficit da previdência estadual não é obra do atual governo, e sim, de sucessivas administrações que não se preocuparam com o planejamento para pagar as futuras aposentadorias. “Até 1990, os servidores não contribuíam para custear sua própria aposentadoria. Não tinha como o sistema ser sustentável assim. Só depois desse ano é que essa situação mudou”, avaliou.

Fonte: ASSESSORIA DE IMPRENSA ALMG