Publicado em 16/05/2018 - politica - Da Redação
Conta-nos
a história que foi pouco antes das 13 horas do dia 13 de maio de 1888, que Dona
Isabel, princesa regente, sancionou a Lei Imperial n.º 3.353, que abolia a
escravidão no Brasil. A Pátria do Cruzeiro ostentava enfim o título de último
País das Américas a não mais usar a exploração do ser humano como força de
trabalho compulsória. Noventa e nove anos depois da Inconfidência Mineira, e 67
após a Proclamação da Independência, nos tornarmos República, história
sequencial que carregava consigo o prelúdio do que viria a se tornar o maior
símbolo de Minas Gerais, a liberdade.
Séculos
se passaram, e a pujante vocação de Minas Gerais por emancipação permanece
latente, sobretudo, hoje, sob a nuvem densa de uma grave crise. Um Estado
convocado para ser grande, vem apequenando-se sob os desmandos de um governo
limitado, que hiberna no fisiologismo partidário e pouco faz para cumprir o que
prometeu em 2014. Parcelamento dos salários de servidores públicos, dívida de
R$ 7 bilhões na saúde para os municípios, hospitais filantrópicos e Santas
Casas, retenção de recursos do IPVA e do transporte escolar, são apenas
reflexos de uma incapacidade descomunal de gerenciar com responsabilidade e
competência o dinheiro suado do trabalhador mineiro.
Tempos
difíceis para trabalhadores, empresários e, claro, para os 1,2 milhão de
desempregados em Minas Gerais, de acordo com o IBGE. A situação se agrava com o
altíssimo nível de desconfiança da população brasileira nos políticos como
representantes de seus interesses. Infelizmente, parte da classe política se
divorciou da honra e da vergonha na cara e, com pesar, vemos crescer a fila de
processados, investigados, presos. Uma crise de valores e de virtudes
contaminou as engrenagens da gestão pública, o que catalisa a descrença e a antipatia
da população ao ser abordada pelos mais bem intencionados agentes políticos. É
imprescindível, nesse cenário, restabelecer a confiança e a esperança das
pessoas na boa política. Apresentar ao cidadão fatos e feitos verossímeis, bom
currículo e ficha limpa (que se tornou virtude, apesar de ser prerrogativa).
Apresentar projeto de futuro, mas amparado em um histórico digno.
Teremos
em alguns meses, mais uma vez, a oportunidade de conhecermos programas,
promessas ou planos de fuga para remover Minas Gerais da incerteza e da
desesperança. Vamos ser bombardeados por vídeos nas redes sociais, correntes de
WhatsApp com toda sorte de boataria digital, e o pai de todas as
campanhas, o marketing político, irá transmitir na sala de estar da maioria das
famílias mineiras o plano perfeito para a Minas Gerais dos sonhos de todos. E é
nesse contexto, preveem os analistas, que a tendência da polarização
ideológica, empurrada pelo movimento robusto das grandes agremiações
partidárias que comandam o País há décadas, se tornará, novamente, proposta
indecente a incidir sobre o nosso poder de escolha nas urnas.
Há
muito defendo um Estado sem excelências, com mais igualdade e verdadeiramente
republicano. Na escola do Parlamento de Minas Gerais, aprendi que representar o
povo é vocalizar vozes diversas, é sentir as dores não apenas dos que me
escolheram, mas buscar alívio para todos. Felizmente, esse saber não cabe em
siglas partidárias, porque vai além de ideologias, é tingido de muitas cores e
não está a serviço de ego algum. Ademais, a boa política é sacerdotal. O bom
político é comissionado ao serviço do bem comum e a vida pública é um pacto que
se estabelece entre o agente público e a sociedade, onde não há espaço para
vaidades, compadrio e privilégios anacrônicos.
Feita
a reflexão inevitável, a pouco tempo das convenções partidárias e das
confirmações das candidaturas em julho próximo, tenho para mim que evocar o
outro nome de Minas, como acertou Tancredo, a Liberdade, será o nosso
maior desafio. É urgente revisitar nossa história, o labor incansável dos
Inconfidentes, a sapiência das nossas revolucionárias tradições e não nos rendermos
mais uma vez aos que se conclamam invencíveis. Não há mais espaço para a
política do toma lá, dá cá. Não é possível mais tolerar os donos do poder a
qualquer custo, enfeitiçados por vantagens pessoais e corriqueiramente atrás de
um balcão de negócios. O Estado não pertence a um partido A ou a um partido B.
Minas Gerais é do tamanho do alfabeto, porque abriga brasis.
Não podemos nos furtar a certeza de que somos um povo que descende dos ideais mais nobres de emancipação e protagonismo nos rumos que o Brasil tomou nos últimos séculos. Nossa mineiridade contém o DNA do incansável desejo de lutar pelo que acreditamos e, ao mesmo tempo, o costume de ponderar sobre o que escolher e como escolher. Sábio, Guimarães Rosa deu-nos a senha, “Minas é montanha que se escala. [...] atrás de muralhas, caminhos retorcidos, ela começa, como um desafio de serenidade. Prossigamos.
Dinis Pinheiro
Ex-presidente da Assembleia Legislativa de
Minas Gerais