Publicado em 09/03/2018 - politica - Da Redação
Tathiane Araújo é a primeira mulher trans a fazer parte da direção nacional do PSB. Eleita secretária nacional do segmento LGBT do partido, no último final de semana, Tathiane ocupará um dos 43 assentos na Comissão Executiva Nacional.
À frente da Secretaria, o principal desafio da socialista será sensibilizar deputados federais e senadores para a agenda LGBT e incentivar as gestões do PSB a formularem políticas públicas voltadas para essa parcela da população.
“Precisamos
trabalhar cada vez mais para tirar o Brasil da triste realidade de não ter
nenhuma lei que garanta os direitos da população LGBT. E também levar boas
proposições para as gestões do PSB”, afirma.
“A lei que criminaliza o racismo, por exemplo, é um instrumento para se fazer justiça ao discriminado. O homofóbico, por sua vez, não é tratado com a seriedade que merece”, afirma Tathiane.
A socialista atribui, em grande parte, a liderança do país em crimes contra LGBTs à ausência de legislação específica. “Talvez este seja o maior responsável pelo fato de o Brasil liderar os casos de assassinatos de LGBT no mundo, e, por isso, é possível dizer que o Congresso tem as mãos um pouco sujas desse sangue”, critica.
Tathiane também é conselheira nacional de Saúde e de Assistência Social e coordena, em Sergipe, a ONG Astra, responsável há 17 anos pela Parada LGBT no estado.
Como é ser a primeira mulher trans que representará a pauta LGBT numa instância superior do partido?
Tem dois vieses nessa questão. O primeiro é ter a responsabilidade de representar a pauta trans, que já é a mais sacrificada em termos de direitos, justamente por que a identidade de gênero é menos compreendida e causa grande exclusão social. Por outro lado, a grande responsabilidade de buscar o respeito e as mesmas conquistas que buscamos na sociedade também no campo partidário. Sou uma trans com experiência em outras instâncias que não tratam só da pauta da identidade de gênero. Sou conselheira nacional LGBT e presido, no meu estado, uma instituição LGBT local. Então tenho uma certa bagagem nessa representação, o que aumenta a minha responsabilidade no campo político partidário, sabendo que o PSB prega um socialismo com respeito às questões das minorias, com a propriedade de reconhecer o seu lugar nessa sociedade, que não é da exclusão, e sim do protagonismo. Isso é uma grande diferença para um partido.
Como você avalia o preconceito contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros no país e o que é preciso fazer para superá-lo?
O
preconceito ainda é grande. Há uma grande exclusão, principalmente no campo
educacional. O LGBT é excluído em um momento crucial da sua adolescência, no
âmbito da capacitação, que é desigual em comparação às pessoas heterossexuais.
Há também um grande descompasso no mercado de trabalho, que muitas vezes é
perverso e não compreende que a orientação e a identidade de gênero das pessoas
em nada influi na sua capacidade de produção. Eu acredito que o Brasil ainda
precisa avançar bastante em temos de conscientização. O machismo ainda impera.
Como
você avalia o momento atual de extremo conservadorismo no país, seja na
política, na cultura, ou em outras áreas?
O que você achou da decisão do Tribunal Superior Eleitoral de permitir que candidatos transgêneros e travestis usem o nome social nas urnas e que também seja considerado o gênero e não o sexo biológico para a cota prevista na Lei das Eleições?
O TSE mostrou também avanço ao considerar a realidade onde você vê, a realidade em que o sexo biológico não deve ser imposto, e sim como você se reconhece na sociedade e como a sociedade lhe reconhece. Meu ser político em Aracaju é Tathiane, nunca foi o meu nome de registro, que eu tive a felicidade de alterá-lo em 2014. Mas vivi como fantasma muita das vezes de uma identidade, de um documento que trazia um nome que não condizia com a minha realidade, com a minha representatividade social. Então a sociedade me via como uma mulher Tathiane, e meu documento apresentava um nome que não trazia essa realidade. Eu acredito que essa decisão revela uma maturidade do TSE ao se adequar a uma nova realidade da sociedade.
Qual a sua avaliação sobre a participação de LGBTs na política?
Os
partidos precisam dar mais apoio às pessoas LGBTs. Nós também precisamos
qualificar mais o discurso justamente nos segmentos, na atuação dos nossos
secretários nos estados. Precisamos fazer do PSB referência na qualificação de
candidaturas LGBTs. Temos exemplos de pessoas trans e de gays. No nosso partido
mesmo temos o Maurício, no Mato Grosso. Ele é um dos que mais se destaca com
propostas apresentadas na Câmara de sua cidade, mostrando que LGBT não discute
só a ‘caixinha LGBT’, só para a população LGBT, não. Mauricio faz um trabalho
excelente e vasto na questão social do Mato Grosso. Fora outros exemplos no
Brasil que nos fazem pensar na hora de, talvez, ter uma mulher trans, uma
mulher lésbica, uma cidadão bissexual, assumidamente, discutindo e sendo
referência nessa pauta na Câmara Federal. O PSB matura para essa realidade.
A criminalização da homofobia, com certeza, pela simbologia e pressão que isso fará contra a violência praticada contra LGBTs. A lei que criminaliza o racismo, por exemplo, é um instrumento para se fazer justiça ao discriminado. O homofóbico, por sua vez, não é tratado com a seriedade que merece. Então seria um grande passo pois talvez a ausência de uma lei que criminaliza a homofobia seja o maior responsável pelo fato de o Brasil liderar os casos de assassinatos de LGBTs no mundo. E aí dá pra dizer que o Congresso tem as mãos um pouco sujas desse sangue.
Assessoria
de Comunicação/PSB Nacional?