Vereador de Muzambinho presta homenagem a Leonel Brizola

Publicado em 27/06/2014 - politica - Da Redação

O vereador Cristiano se pronunciou na segunda-feira (23), como líder de partido, na Câmara de Muzambinho, em homenagem a Leonel Brizola, falecido há 10 anos, lendo um pronunciamento.

“Na politica o nacionalismo brasileiro não teve outra voz à altura. Herdeiro direto da obra de Vargas e do seu trabalhismo deu a este um viés mais popular e acrescentou-lhe outros elementos, como uma verdadeira obsessão pela educação pública. Acertadamente dizia que a questão central do nosso atraso, a demora em nos firmamos como nação soberana, estava nas perdas econômicas, na sangria financeira que hoje atende pelo pomposo e eufemístico nome de superávit primário. Não podia ser diferente, pois Leonel de Moura Brizola está entre os que beberam na fonte inspiradora da Carta testamento de Vargas, o manifesto por um Brasil independente e considerado por Brizola o documento que norteou sua vida politica.

Brizola é um verdadeiro herói do povo brasileiro. Um desses políticos que via na politica um proposito, um caminho, que na verdade é, para a consecução de um projeto nacional, a possibilidade real de darmos certo como nação.

Toda a sua formação permitiu a coerência constante na defesa dos interesses nacionais. A vida politica iniciou seguindo o legado nacionalista de Vargas. Deputado, prefeito de Porto Alegre e finalmente governador do Rio grande. Nesse cargo encampou empresas estrangeiras de energia e telefonia.

Como governador, liderou pessoalmente do palácio Piratini, sede do governo gaúcho, e com a ajuda de militares legalistas a campanha pela posse se Jango.  Com uma vida publica com ações inteiramente voltadas para povo, como educação, saneamento e reforma agraria, Brizola se transfere para o Rio de janeiro, onde se elegeria deputado federal com esplendida votação.

Nessa fase da nossa historia, o trabalhismo nacionalista representava, em termos de esquerda, a efetivação de uma tentativa real de realizar no Brasil as reformas estruturais de que o pais tanto necessitava, de romper com as estruturas coloniais e que a rigor até os dias que nos ocupa teimam em não serem debatidas e implantadas: as chamadas reformas de base, cujo principal ponto era a reforma agraria.

A história todo mundo já conhece, com o desfecho do golpe militar de 64, quando o país entrou no seu período politico mais obscuro. Brizola estava entre as primeiras vitimas do golpe e sua cassação foi logo decretada. Só voltaria ao país com a lei da anistia em 79. No Brasil, tentou reorganizar o velho PTB, mas este por uma manobra da ditadura, mais exatamente do seu bruxo politico, Golbery do couto e silva, foi-lhe confiscado e entregue a um bando de oportunista que transformaram a sigla criada por Vargas, atualmente num arremedo de partido politico, um partido na verdade de aluguel que se limita a se inserir em coligações, na maioria das vezes conservadoras, com o objetivo de eleger seus caciques.

Próprio da sua personalidade, não se arrefeceu e fundou o Partido Democrático Trabalhista (PDT) pra onde migraram os verdadeiros trabalhistas, entre eles outro grande brasileiro, Darcy Ribeiro. Candidatou-se em 1982 ao governo do Rio de Janeiro e mesmo enfrentando as manobras do Globo, que visavam manipular a vontade popular, fraudando a contagem dos votos, ganhou a eleição mostrando o reconhecimento do povo fluminense apesar da longa ausência forçada. No governo desse Estado realizou uma verdadeira revolução educacional com as escolas de tempo integral, os CIEPS.

Sobre sua relação com a rede Globo, não  houve politico mais perseguido e difamado pela grande rede de comunicação  do que o velho Brizola. Fez dele seu alvo predileto e ele por sua vez sabia que um projeto de nação democrático e popular tinha relação direta com a democratização da mídia, por isso respondia corajosamente e abertamente, sem rodeios, os vilipêndios e insidias da poderosa rede. Sem duvida custou-lhe caro essa postura, pois a mesma faria de tudo pra que Brizola nunca chegasse a presidência da republica.

Com o restabelecimento das eleições diretas para presidente, Brizola enfrentaria sua primeira eleição para o cargo máximo da nação. O quadro politico já era inteiramente diferente daquele que antecedeu o golpe. A esquerda era uma colcha de retalhos e já se encontrava hegemonizada pelo PT. Cria-se a partir daí uma divisão planejada pela ditadura, uma verdadeira herança maldita que colocaria em lados opostos as duas maiores lideranças populares do pais: Lula e Brizola.

Essa divisão remete a discussões dentro da própria esquerda sobre o papel do modelo econômico no desenvolvimento de uma nação, tendo no trabalhismo Varguista/brizolista uma resposta bem clara que já vinha desde era Vargas, ou seja, o Brasil precisava resolver seu problema da dependência econômica, isto é, precisava de instrumentos e ai entra o Estado, que planeje as politicas de desenvolvimento de acordo com os interesses da nação atendendo as demandas seculares na área de educação, saúde, etc. Em resumo havia no trabalhismo uma primazia da questão econômica. No PT, desde os seus primeiros tempos isso nunca ficou bem claro. A indefinição quanto ao caráter do partido, as confusões ideológicas, o conceito de um “tal partido popular”, sua característica trotskista, democrático pequeno-burguês, não priorizavam a questão do nacionalismo, que aliás era alvo de preconceito por parte da linha politica petista, cujo o estatismo tinha mais a ver com um regime do tipo socialista. O PT num desses rompantes de esquerdismo doentio, chegou a combater a unicidade sindical, pois esta era herança da era Vargas, e a não assinar a constituição de 88.

O velho Brizola nunca foi de ressentimentos e no segundo turno da eleição de 1989, transferiu todos os seus votos para Lula. Essa divisão, refletida  em projetos diferente, foi-se diluindo num único rumo que se tinha como viável eleitoralmente, que era o apoio sucessivo as candidaturas de Lula, chegando certa vez o próprio Brizola a se colocar como vice na chapa do ex-metalurgico.

Nos últimos anos de sua vida dedicava-se a organização do seu PDT e a lançar duvidas sobre as urnas eletrônicas, base de um sistema de votação que não dava margem a verificação dos votos. A influencia eleitoral já não era a mesma, sofria as consequências do combate sem tréguas a nefasta influencia da rede globo cujo alvo maior sempre foi o nacionalismo varguista e seu maior arauto, o velho Brizola. Mesmo com problemas de saúde não se afastava da cena politica. Entendia e assimilava a missão do verdadeiro homem publico e deixou esse plano da maneira que apregoava: “cavalo de raça morre na pista”.

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