Publicado em 02/03/2020 - ponto-de-vista - Da Redação
Não gosto deste termo ‘qualquer
coisa’. Não afirma nada, não é incisivo em nenhuma escolha. Falta poder de
afirmação. E isto é péssimo, principalmente em gente indecisa. Às vezes aceita
uma condição que não a satisfaz. Veja só, o cantor e compositor baiano Caetano
Veloso, como arranha tudo: qualquer coisa, esse papo seu, já tá qualquer
coisa, mexe qualquer coisa dentro, doida, já qualquer coisa dentro mexe, deixe
de manha, meça tamanha! Esse papo seu já tá de manhã! Quero que você
ganhe. Acabou sem terminar. Perceberam? Doido demais. Qualquer coisa
mais. Alguma coisa indeterminada. Alguma coisa: algo, certa coisa, um tanto, um
quê, alguma quantidade, o que quer que seja: seja o que for tudo aquilo que,
tudo quanto. Cante qualquer coisa, fale qualquer coisa, escreva qualquer coisa,
dance qualquer coisa, compre qualquer coisa, tanto faz. Qualquer coisa que
sonhara, pode dar ou não dar certo. Mas que coisa! Ainda bem que existem outras
coisas: saudade, por exemplo, não é uma coisa qualquer: saudade de um amigo,
saudade de um salgado, daquele doce, não é qualquer coisa. Uma linda história
de amor não é uma coisa qualquer. Enfim, qualquer coisa tem que ser outra coisa
qualquer.
Fernando de Miranda Jorge
Acadêmico Correspondente da APC
Jacuí/MG – e-mail: fmjor31@gmail.com