A amizade sincera

Publicado em 09/04/2021 - raul-dias-filho - Da Redação

A amizade sincera

Eu ainda era moço quando alguém me disse que temos que valorizar muito, muito mesmo, os amigos que temos e, principalmente, preservá los. Principalmente porquê, segundo essa pessoa, depois que atingimos uma certa fase na vida dificilmente fazemos novos amigos.  Na época eu concordei com o argumento lembrando que, de fato, todas as minhas amizades até então haviam sido feitas entre a infância e adolescência. Pensando nisso agora, fico imensamente feliz e emocionado ao lembrar que quase todos esses amigos de infância continuam ao meu lado. E esse ‘quase’ só entra aqui porque dois deles resolveram ir embora antes do combinado. Mas a vida foi generosa comigo e mesmo depois de ‘véio’ continuei fazendo amigos. E hoje, sortudo que sou, tenho que usar as duas mãos para contar os amigos que fiz ao longo do tempo. Acha pouco? Então te proponho uma reflexão, quase um desafio. Conte agora nos dedos os amigos que você tem. Mas só valem os amigos mesmo, de verdade, aqueles que você gosta de estar junto nas horas boas e ruins, confia, conta segredos, divide confidências que nem sob tortura você contaria para outros, empresta dinheiro, roupa, sapato, carro, cachorro e, sendo preciso, pede tudo isso emprestado também, com a máxima certeza que nada será negado. Tá vendo? Não é tão simples. Por isso os amigos são tão preciosos. Raros. Quase em extinção. Mesmo assim, hoje em dia, muita gente se ilude. As redes sociais criaram um novo conceito para a amizade e agora muita gente se gaba por ter milhares ou milhões de amigos. E até ganham dinheiro com isso. Empresas remuneram, e bem, aqueles que tem muitos amigos. Ou melhor, ‘seguidores’. É assim que os ‘amigos’ são chamados nas redes sociais. Para falar a verdade, não gosto desse termo, ‘seguidores’, viu?  Lembra, sei lá, zumbis, robôs, mas, enfim, são as novas possibilidades e definições de amizade que o mundo nos oferece. Lembrando que esse negócio de querer juntar muitos amigos não começou agora, não. No longínquo ano de 1974, Roberto Carlos cantou aos quatro ventos que queria ter um milhão de amigos para bem mais forte poder cantar. Óbvio que, naquela época, nem passava pela cabeça dele que um dia isso seria possível. Pelo menos virtualmente. Depois disso, a amizade continuou inspirando poetas e músicos e algumas canções se tornaram marcantes, senão na vida, pelo menos em festas e bailes. Quem nunca se emocionou numa formatura quando ouviu Milton Nascimento cantar que ‘amigo é coisa pra se guardar debaixo de sete chaves, dentro do coração’? Agora então, nestes tempos de pandemia, onde a solidão insiste em nos rodear, qualquer música que lembre os amigos já faz os olhos se encherem d’água e deixa o coração aflito. Por isso tenho evitado Belchior e alguns ‘sertanejão raiz’ por enquanto. Mas só por enquanto. Quando tudo isso passar, essas músicas serão trilha sonora para nossas conversas, nossas risadas e nossos abraços. De verdade, hoje queria ter a sensibilidade dos poetas para escrever a todos os meus amigos e traduzir em palavras a imensa falta que me fazem. Como isso não é possível, faço minhas as palavras deles, poetas e músicos. Mário Quintana dizia que a amizade é um amor que nunca morre. Definição mais que perfeita para um sentimento que requer basicamente carinho e lealdade. Renato Teixeira diz que ‘a amizade sincera é um santo remédio, é um abrigo seguro...’ E é mesmo. Feliz daquele que tem amigos! Ah, se por acaso você se decepcionou com a contagem de amigos que fez, porque não foram suficientes para encher os dedos de uma só mão, não se preocupe. O número padrão, que a realidade nua e crua nos oferece, é bem baixo mesmo. E se for apenas um amigo, não se entristeça. Pelo contrário, comemore! Porque tendo um amigo, meu amigo, você nunca estará sozinho. 

Por hoje é isso. Semana que vem tem mais. Até lá.  


RAUL DIAS FILHO - O autor é jornalista e repórter especial da Record TV

E-mail: rauldiasfilho@hotmail.com