Publicado em 07/08/2020 - raul-dias-filho - Da Redação
Você já parou para pensar em quantas datas marcantes acumulou na memória ao longo da vida? Pois vou te falar: não são poucas! Começa pelo nosso próprio nascimento. Depois, memorizamos outros aniversários, como os dos nossos pais, irmãos, tios, avós, primos, sobrinhos, amigos, e isso simplesmente não tem fim porque, à medida em que envelhecemos, outras datas vão se incorporando, como vestibulares, empregos, casamentos, enfim, tudo que nos marca fica anotado lá. Mas o calendário das nossas vidas não é feito só de comemorações. Datas que falam de perdas irreparáveis também ficam anotadas, em cores fortes e tristes. Esse calendário particular define, de certa forma, as diferentes fases de nossa vida. Começa com a aurora das datas mais festivas, prossegue com o belo entardecer das conquistas e termina com o crepúsculo das perdas. Sobre datas a comemorar, a mais emblemática é mesmo o aniversário, né? Tão marcante que, embora nem todos gostem, ele tem todas aquelas convenções obrigatórias, tipos, bolo, parabéns pra você e a clássica pergunta que fatalmente alguém irá fazer: ‘quantos anos mesmo ele(a) está fazendo?’ Aliás, sobre idade, tenho comigo que todos temos três. A de registro, que está na certidão de nascimento. A de espírito, que está em nossa alma. E a da vivência, que está em nossa... vivência! A de registro marca a data em que fomos apresentados ao mundo. É burocrática e é a que comemoramos. Ela é definida simplesmente pelo tempo. A de espírito, ah, essa é emblemática. Define sua alma. Se você tem 40 mas age como se tivesse 20 não é porque é imaturo. É porque, enquanto seu corpo envelheceu, seu espirito permaneceu jovem. E a de vivência conta as experiências que acumulamos ao longo da vida. Não é definida por carimbos em passaportes. Não se trata de viajar muito, conhecer lugares, estar em ambientes sofisticados, mas de conhecer gente, assimilar conhecimento, olhar nos olhos, respeitar QUALQUER pessoa, dar muitas risadas, derramar algumas lagrimas e aproveitar cada minuto onde quer que seja. O ideal é que a idade de espirito seja sempre menor que a de registro, e a de vivência, sempre maior. E manter essa chama acesa pelo maior tempo possível. Ainda mais agora, quando vivemos tempos sombrios, onde as comemorações pelos aniversários, quando acontecem, são feitas à distância, sem o calor fundamental dos abraços. Esses tempos também ficarão eternizados no calendário das nossas vidas. Só que lá na frente, ao contrário de outros aniversários, nos referiremos a eles sem nostalgia e nenhuma saudade. Também por isso, devemos, a partir de agora, comemorar também nossos desaniversários! São, simplesmente, todos os dias em que não fazemos aniversário! O termo aparece numa passagem do livro “Alice no país das maravilhas”, escrito pelo britânico Lewis Carrol, e ganhou várias interpretações. Eu gosto daquela que valoriza a comemoração por mais um dia, mesmo que a data não represente nada particularmente especial. Sabe porquê? Porque não existe nada mais especial que acordar toda manhã, pela simples razão de poder começar de novo. Na cultura japonesa, ao comemorar 60 anos, o aniversariante se veste de criança e recebe honras, homenagens e presentes como se fosse criança. Representa renovação interior. Mais ou menos como renascimento. Nestas ocasiões, nestas datas especiais, devemos pedir a Deus que nos ensine a envelhecer sem lágrimas e sem preguiça. Que Ele não permita que nos isolemos ou cruzemos os braços, a lembrar tarefas passadas como desculpa que nos livre de novos esforços. Isso se chama perseverar. E podemos fazer isso todos os dias. Comemorar cada dia vivido, relembrar ou homenagear pessoas que fizeram parte de nossas vidas, marcar todas as datas especiais no calendário de nossa existência, sejam elas felizes ou não e, mais que isso, repensar no que elas significaram em nossas vidas. Porque, além de lembranças, elas devem nos trazer reflexões. Portanto, exatamente hoje, 07 de agosto, refletirei um pouco e festejarei como for possível. É a data que está registrada na minha certidão de nascimento. Agosto marca também um de meus renascimentos, já que foi num certo dia 17 deste mês, poucos anos atrás, que meu coração ficou um longo tempo sem bater no ritmo certo. Quase parou, ficou ferido mas, teimoso que é, com a ajuda de médicos que muitas vezes parecem anjos, ou vice versa, rejuvenesceu. Um brinde, então! À nossa saúde, aos nossos aniversários, e a todos os nossos desaniversários.
Por hoje é isso. Semana que vem tem mais. Até lá.
RAUL DIAS FILHO - O autor é jornalista e repórter especial da Record TV