Publicado em 02/05/2016 - variedades - Da Redação
Remanescentes de duas duplas de relevo do sertanejo-raiz, Milionário e Marciano se juntam em nova formação e seguem cantando os hits imutáveis dos corações partidos
Ainda ontem choravam de saudades milhões de fãs do sertanejo clássico, também conhecido como new sertanejo – o estilo que, por volta dos anos 1970, “gourmetizou” a figura do jeca, cobrindo-o de botas de couro, calças justas e camisas xadrezes. Ok: ainda hoje tais fãs continuam aos prantos e assim permanecerão, dado que o tom melodramático é marca registrada do gênero, verdadeira ode à fossa, à dor de cotovelo, à navalha (para cortar os pulsos), e ao Rivotril.
A choradeira de que aqui se fala, contudo, não diz respeito às dores decorrentes do fim dos relacionamentos amorosos que tantos curtem expurgar ouvindo um bom modão caipira, mas do término de duas uniões lendárias, que marcaram um dos primeiros banhos de urbanidade que a indústria fonográfica deu nos Mazzaropis da viola, a fim de torná-los palatáveis aos consumidores do asfalto: João Mineiro & Marciano e Milionário & José Rico.
A primeira dupla acabou em 1991, com a separação conflituosa dos artistas, após 16 anos de estrada. Marciano seguiu carreira solo e João Mineiro continuou trabalhando com outro parceiro, que adotou o nome artístico “Mariano”. O público? Também seguiu em frente, mas foi sonhando com a reconciliação dos veteranos, até ver enterradas suas esperanças em março de 2012, com a morte de João Mineiro. Já Milionário & José Rico prosseguiram juntos e ativos até março de 2015, quando, após 45 anos de carreira, 29 discos gravados e 35 milhões de cópias vendidas, faleceu José Rico.
Ainda bem que, quase tão poderoso quanto a morte, é o showbiz. E, assim, para a alegria dos fãs dos ícones sertanejos, ainda em outubro do ano passado nasceu a dupla Milionário & Marciano, pelo toque estratégico e endinheirado da FS Produções Artísticas, empreendimento dos astros Fernando & Sorocaba.
PACTO “O Sorocaba nos chamou para uma reunião um dia, no escritório dele. Não demoramos muito para topar a ideia, mas ficamos um tempo sem falar nada para ninguém, fizemos um pacto de sigilo. Só que, pouco depois, a notícia vazou, aí não teve jeito mais de esconder!”, conta Marciano, entre sonoras risadas. Como se ele mesmo, aliás, acreditasse na “casualidade” do vazamento desse tipo de informação no metiê artístico, em que fofoca é publicidade gratuita.
O pontapé da empreitada foi dado no dia 10 deste mês, com o lançamento da turnê Lendas, homônima do DVD, recém-chegado ao mercado. O primeiro show do tour, que vai rodar o país inteiro, foi realizado em Ituporanga, no interior de Santa Catarina, durante a 23ª Expofeira Nacional da Cebola. Os 25 mil presentes, garantem os cantores, sabiam de cor quase todo o setlist, composto por 10 sucessos da carreira de cada um – como Seu amor ainda é tudo, Ainda ontem, A carta, e Estrada da vida – além de uma inédita (a faixa O localizador), que eles esperam emplacar em breve.
“Do início ao fim, o show foi muito pra cima. Esse e o da gravação do DVD, que foi em novembro. E o mais impressionante é que o público era muito diverso, tinha muitos jovens, que também nos acompanhavam em todas as músicas”, comemora Marciano. Inicialmente temoroso em relação a uma possível rejeição da plateia, Milionário agora é puro contentamento. “A gente, quando perde o parceiro, fica muito perdido. E eu fiquei meio apreensivo com a reação que o Brasil ia ter ao nos ver numa nova formação. Porque as antigas eram muito amadas. Mas todo mundo já aceitou e já pegou a ideia!”, celebra.
NOSTALGIA Difícil mesmo é que a ideia não pegasse, já que, como há muito sacaram os barões do entretenimento, toda receita cujo ingrediente principal é nostalgia raramente desanda. O que pode ser mais certeiro, no fim das contas, do que servir ao freguês exatamente o que ele pede – nesse caso, direta e ardentemente? E foi sem economizar em capricho que a produção dos célebres caipiras pôs a mesa. Ou melhor: armou o circo.
A direção artística dos espetáculos e do DVD é assinada por Marcos Frota, e trouxe cenários inspirados no universo circense, onde tanto Milionário como Marciano começaram a se apresentar, cerca de 45 anos atrás. “Temos muito respeito pelo circo. Os artistas populares todos devem muito a ele. Nossos shows eram parte das atrações realizadas ali. Quando acabava um número, cantava uma dupla. A gente cantava no picadeiro com a bota suja de esterco de boi, vaca”, relembra, bem-humorado, Milionário.
Não passa em branco ainda a quem assiste o vídeo a reverência demonstrada por diversas gerações de agroboys aos veteranos em questão. Em meio às 4 mil pessoas contadas na plateia pela produção durante a gravação do DVD, observa-se, por exemplo, a presença de estrelas como Gian & Giovani e César Menotti & Fabiano, visivelmente emocionados. Lágrimas de gratidão e respeito àqueles que lhes serviram de referência e, sobretudo, abriram-lhes caminho para os ouvidos e os cofres das metrópoles do Sudeste.
“O Sorocaba nos chamou para uma reunião um dia, no escritório dele. Não demoramos muito para topar a ideia, mas ficamos um tempo sem falar nada para ninguém, fizemos um pacto de sigilo. Só que, pouco depois, a notícia vazou, aí não teve jeito mais de esconder!”
“A gente, quando perde o parceiro, fica muito perdido. E eu fiquei meio apreensivo com a reação que o Brasil ia ter ao nos ver numa nova formação. Porque as antigas eram muito amadas. Mas todo mundo já aceitou e já pegou a ideia!” - MARCIANO
FONTE: ESTADO DE MINAS