Publicado em 07/01/2013 - ze-nario - Zé Nário
Fim de ano, início de ano. Tudo junto e misturado. Sem o foguetório, que perturba a paz de alguns incrédulos como eu, fica difícil saber onde começa um e termina o outro. Fronteiras invisíveis e indivisíveis.
Mas, todos sabemos, existe um calendário a dizer que um morreu e o outro nasceu. Porém, convenhamos, recentemente um calendário, formulado por um povo antigo e extremamente sabido, deu muito que falar.Só o que falar. Suspeito que estava tudo errado: o calendário maia e a sua interpretação. Será que esse negócio de calendário (sempre ele!) é pra se levar a sério? Pelo jeito, não! Em todo caso, tome cuidado! Se te disseres que hoje é hoje, podes duvidar: talvez hoje não seja hoje. Nem ontem. Pode ser outro dia que ninguém sabe. Ou pode nem ser um dia.
Também não dá pra saber se amanhã será realmente amanhã ou depois de amanhã. Enfim, essa história de afirmar que muitas coisas estão de acordo com o calendário é de se duvidar!
Cada povo, de acordo com seus interesses, tem o seu calendário, definindo a forma de utilizar o tempo. Aliás, calendário é coisa de mandatário. Ou o tempo seria o próprio mandatário? Afinal, é ele que define a hora de trabalhar, a hora de pagar a prestação, os impostos, o aluguel, a energia; a hora de nascer e de morrer etc.
Esse nosso calendário, que diz que um ano acaba num dia e outro ano começa no outro, também deve ser pura armação, a exemplo do calendário maia. Nunca vi diferença nenhuma. Há mais de meio século que eu tento ver essas mudanças que muita gente vê. Por isso, não faço festa pra elas.
Sinceramente, há mais de meio século que também espero que as coisas mudem no novo ano e nada! Sai ano, entra ano e nada! A não ser que essas transformações sejam muito sutis, visíveis somente por pessoas especiais, como aquelas que acreditaram nas mudanças previstas no calendário maia.
Assisti na TV uma reportagem sobre um monte de gente que viu todas as mudanças lá em São Tomé das Letras, por ocasião do fim do mundo dos maias.
Viram o velho ciclo se acabando e coisa e tal... Viram o novo ciclo do calendário maia surgindo atrás das montanhas e coisa e tal... Cantaram louvores para os duendes da nova era (ou do novo ciclo) e coisa tal... Brincaram de roda murmurando mantras sagrados e coisa e tal...
Pode ser que tais mudanças só sejam visíveis e palpáveis depois que tais pessoas ingerem umas boas doses de champanha, ou cerveja, ou uísque, ou cachaça, ou outros produtos inaláveis e ingeríveis. Sei não...
Só sei que as únicas mudanças que eu consigo ver com relação à minha vida, são: a cor dos cabelos mudando e as rugas da cara aumentando. Além, é claro, de sentir a proliferação das dores pelo corpo todo.
Mesmo sem enxergar as mudanças apregoadas a cada fim de ciclo de doze meses, acredito que o começo de ano é bom para brincar de rearrumar as coisas, de mentirinha, é claro. Pelo menos em pensamento, a gente consegue consertar um pouco dos fatos errados que ocorrem no mundo.
Exemplo? São muitas as coisas que precisam ser arrumadas nas atividades humanas corriqueiras. No campo da música: seria muito bom brincar de acabar com o funk (que, aliás, não é música) e o pagodinho, que é terrivelmente chato.
E essas aberrações estão sempre acompanhadas da falta de educação, que faz com seus fãs pensem que todo mundo adora essas merdas. Por isso andam pela rua tocando essas degenerações musicais em altos brados. Então seria muito bom também brincar de acabar com a falta de educação das pessoas que nos obrigam a ouvir as músicas e ruídos que eles gostam.
Aliás, seria ótimo brincar de ver a polícia agindo contra esses indivíduos barulhentos, móveis ou fixos, que não respeitam os direitos alheios. Seria maravilhoso brincar de ver tais pessoas sendo presas por perturbação da ordem pública, sem que precisasse denunciá-los. Seria...
Seria sensacional brincar de ver as pessoas levando a sério o respeito pela natureza, principalmente nessas festas sem sentido do fim do ano. Isto porque durante essas festas impera o consumismo desenfreado, o desperdício e os abusos gerais. E, pesarosamente, a produção de resíduos chega quintuplicar.
Mas sabemos que as coisas não são assim, ou seja, não dá pra consertar nada! Por isso, o melhor é brincar de “cabra-cega” (e surda) o ano inteiro, para não ver e nem ouvir as iniquidades praticadas diuturnamente pela maioria das pessoas.
Infelizmente, uma regra não escrita deixa bem evidente que os contraventores é que estão certos. Eles infestam a sociedade e, como não há punição, ganham cada vez mais seguidores.
Ficamos por aqui porque todo o espaço do jornal seria pequeno demais para descrever todas as coisas que precisam ser consertadas neste nosso brasil, que a cada dia se parecesse mais com o nome que recebeu dos portugueses.
José Nário / Muzambinho/MG