COCÔ QUEIMADO PARA APAGAR INCÊNDIO

Publicado em 24/04/2013 - ze-nario - Zé Nário

No dia 07 de abril de 2013 o programa Fantástico, da Rede Globo, trouxe uma extensa reportagem sobre a falta de postos de bombeiros no país inteiro. As equipes da emissora enviaram matérias de todo o país e evidenciaram o tamanho do descalabro que impera na área. 

O pagamento de taxas de prevenção e combate a incêndios, por estabelecimentos comerciais e industriais, ainda que a cidade não tenha posto do corpo de bombeiros, foi uma das mais evidentes e disparatadas constatações das reportagens.

De acordo com o que foi mostrado, no caso do Estado de Minas Gerais, que tem oitocentos e cinquenta e três (853) municípios, apenas cinquenta e quatro (54) tem assistência direta do corpo de bombeiros. Os demais setecentos e noventa e nove dependem de assistência de outras municipalidades.

Muitos outros absurdos foram apontados pelas reportagens, em vários estados do país. Equipamentos (veículos, escadas, mangueiras e outros) literalmente sucateados e sem a mínima condição de uso. Além, é claro, de outros entraves como a falta de combustível e pneus para os veículos.

Mas o caso de uma cidade da região central de Minas Gerais, chamada de Jaboticatubas, localizada a oitenta quilômetros ao norte de Belo Horizonte foi, certamente, o mais marcante.

Durante um incêndio naquela cidade, recentemente, os moradores da vizinhança – enquanto aguardavam o bombeiros de uma cidade vizinha - se juntaram para tentar combater as chamas, mesmo sabendo que seria uma batalha perdida.

No desespero de debelar as labaredas, usou-se de tudo. Tinha gente empregando balde de plástico. Alguns usavam a caneca de fazer café e a panela de pressão. E outros utilizavam aquelas bombinhas de matar pernilongo. Havia até alguns usando a própria boca para carregar água e cuspir no fogo.

Até um caminhão limpa-fossa, que passava pela rua, foi convocado para combater o incêndio. E eu, impressionado com a situação e baseado na narrativa do motorista do caminhão, fiquei a imaginar a cena bizarra:

Os voluntários que tentavam apagar o fogo, ao verem o caminhão-pipa passando pela rua imaginaram que ele seria a salvação. Assim, pararam o veiculo e perguntaram ao motorista:

- O senhor tá carregando água?

- Não. São fezes.

- O quê?

- Cocô...

- Quanto tem aí?

- Quatro mil litros de fezes.

- Tudo bem! Também serve!  Quem não tem água, usa merda mesmo! Tem como o senhor jogar as fezes no fogo?

- Tem! Vamo lá!

Então o condutor do caminhão, usando a bomba instalada no próprio veículo, lançou o conteúdo do tanque diretamente sobre as chamas. Aí os voluntários presentes ficaram muito satisfeitos com a ajuda. Houve várias manifestações. Eles pulavam e gritavam pela rua (com sotaque da região, arrastando os erres):

- Agora o fogo tá na merrrda!

- O fogaréu tá na bosta, mêrrrmo!

- É, agora ele não escapa!

Os mais entusiasmados resolveram contribuir de forma mais efetiva:

- Vamo ajudarrr tamém! Vamo bebê água e mijarrr no fogo!

E assim foi feito. Com a mobilização de todos, além do caminhão de cocô, o fogo foi controlado. Só que, nessa altura, já havia queimado toda a casinha de uma aposentada que tinha dificuldades de locomoção - com ela dentro, infelizmente.

Veja só a que ponto chegamos. A população, mesmo pagando as taxas devidas, tem que usar até merda para apagar incêndios.

Apesar da licença criativa, para mim não existe fato mais exemplar e significativo do que este para ilustrar a situação do povo frente a este problema, ou seja, a falta de postos do corpo de bombeiros pelo país todo.

Do jeito que vão as coisas, com a falta de investimento na área, o melhor seria todos voltarem a usar fossas sépticas escavadas no quintal para receber o esgoto doméstico, instalando nelas bombas de sucção para, em caso de incêndio, jogar urina e fezes no fogo.

Além de não depender dos bombeiros, a economia de água seria muito grande, contribuindo de forma positiva para o meio ambiente, que deixaria de receber os esgotos domésticos armazenados nas fossas.

Uma excelente solução, né não?

José Nário F. Silva

Muzambinho/MG