Publicado em 01/05/2015 - agronegocio - Da Redação
O deputado federal Carlos Melles (DEM) concedeu ampla entrevista exclusiva na última semana. A liderança comentou a realização do 1º Fórum da Cafeicultura em Muzambinho, outras ações em prol do setor e chegou a criticar um deputado estadual da região.
TERCEIRIZAÇÃO - Melles primeiro justificou sua ausência no 1º Fórum da Cafeicultura em Muzambinho afirmando que estava em compromisso com outros parlamentares tratando do projeto de “terceirização de serviço”, talvez o assunto mais importante para o produtor rural na atualidade. Explicou que o homem do campo usa o “contrato de safrista”, mas que pouco atende setor. Com isso, o produtor vive um infernal problema de reclamações trabalhistas. Para ele, a possível legalização da terceirização “é quase que uma Lei Áurea”, acrescentando que os sindicatos são contrários. O deputado acredita que, através deste projeto, o Brasil não continuará atrasado como ocorre no momento. Hoje, segundo ele, são em torno de 20 milhões de brasileiros que trabalham como terceirizados. Para o meio rural, Melles explicou que a terceirização tem duas características: atividade meio e atividade fim. Numa propriedade cujo foco é a cafeicultura, o produtor pode terceirizar diversos tipos de serviços, inclusive a administração do negócio.
Foi justamente por esta discussão que não teve condições para estar em Muzambinho durante o Fórum da Cafeicultura. “Queríamos derrotar o atraso do governo que não queria esta terceirização”, falou.
ATRASOS E BENEFÍCIOS - Falando exclusivamente sobre a terceirização para o homem do campo, Melles considera que a condição atual não é favorável a ninguém. Até porque enfraquece a confiança da relação no trabalho. O produtor fica refém de um sistema trabalhista. Muitas vezes, um grupo de advogados “não tão bem intencionados” estimula e incita o trabalhador rural, com valores absurdos nas causas. Porém, na maioria dos países, capital e trabalham caminham juntos. “Quanto mais forte estiverem, melhor para os dois”, disse.
FÓRUM DEMAGÓGICO - Melles considerou que o Fórum da Cafeicultura realizado em Muzambinho “foi um pouco demagógico” sob o aspecto político. Para ele, é preciso cobrar resultados dos dirigentes e lideranças. Até porque é justamente quando as respostas não são dadas que surgem movimentos paralelos como o Fórum em Muzambinho. E conclamou: “Vem prá rua cafeicultor, vamos ver o que está acontecendo”. Para ele, é preciso que as lideranças tenham propostas definidas para o setor. O parlamentar manifestou seu respeito aos organizadores do Fórum, considerando que foi bem dirigido e debateu o custo de produção. Porém, ressalta a necessidade de apresentação de propostas ao governo de Minas.
PREÇO DE GARANTIA - O deputado acredita que neste momento a cafeicultura não precisa de política, mas de um real custo de produção. Hoje, uma saca de café custa R$ 430,00 (custo de produção), enquanto que o preço de garantia é de R$ 307,00. Portanto, é preciso subir o preço de garantia para o mínimo de R$ 430,00. Acrescentou que a colheita custa hoje R$ 150,00 a saca, sendo que o produtor não conta com este recurso. Além disso, o FUNCAFÉ tem R$ 5 bilhões que estão sendo aplicados em custeio dentro do Ministério da Agricultura, quase R$ 50 milhões por ano. “Quem defende o produtor e trabalhador nos últimos quarenta anos é Carlos Melles”, afirmou. Ele considera um grande atraso e bobagem a ideia de aplicar R$ 5 milhões num levantamento sobre o parque cafeeiro. O produtor precisa de dinheiro ou uma ação efetiva para viabilizar a sua colheita e não precisar vender seu café com o valor abaixo do custo de produção.
POPULISMO - Para o parlamentar, o produtor precisa deixar de ser “tapeado e iludido”, visto que alguns movimentos são simplesmente não apresentam resultados. Melles também questionou a atuação do deputado estadual Emidinho Madeira (PT do B), umas das lideranças envolvidas em movimentos que debatem a cafeicultura: “Esse moço é um ponto fora da curva. Ele critica a Cooxupé, que é a maior cooperativa de café do Brasil e que faz um belo trabalho; critica as cooperativas e a todos. Criticar é fácil. Fazer festa da queima do alho para todos é uma maravilha e populismo, mas não resolve o problema da classe”. Reconhecendo a força, popularidade e representação de Emidinho Madeira, Melles defendeu a somatória de forças em prol da cafeicultura.
PROBLEMA CHAMA-SE “PT” - O parlamentar afirma que desde o SOS Café, numa luta superior a dez anos, identificou o PT como o grande problema para o setor. Relatou que por muitas vezes pediu a Fernando Pimentel (então como Ministro da Indústria e Comércio) uma ação conjunta em prol da cafeicultura. Na sua visão, o café somente será mais valorizado quando sair do Ministério da Agricultura e voltar para o Ministério da Indústria e Comércio.
Melles comentou que o Estado do Espírito Santo já está com sua safra em pleno andamento. Porém, o produtor não tem preço de garantia, financiamento para a colheita ou custeio. Ou seja, mais uma vez o produtor está entrando numa situação difícil.
O deputado observa que desde outubro do ano passado, após as eleições, o governo federal cortou a sua obrigação de crédito com todos. No governo de Minas, o Banco do Brasil deixou de pagar bilhões. Justamente pela falta de pagamento dos financiamentos as obras foram paralisadas no estado.
Para Carlos Melles, se o governo desenvolver o mínimo de ações, na atual safra o produtor estará vendendo a saca de café a um preço entre 500 e 600 reais. Isto porque existe escassez de café no mundo, causada justamente pela seca no Brasil.
CLIENTELISMO - No Fórum da Cafeicultura, uma das ideias ocorre no sentido de contribuição financeira das prefeituras para o desenvolvimento do marketing do setor cafeeiro. Comentando a respeito, Melles considerou a iniciativa um grande atraso. Até porque não é preciso tirar dinheiro das prefeituras, porque existem recursos no FUNCAFÉ e no Fundo Mineiro do Café.
O deputado criticou a organização distorcida do setor. Para ele, as cobranças devem ser direcionadas ao Conselho Nacional do Café (CNC) ou Conselho Deliberativo do Café. Se a alegação é que estes órgãos não funcionam da forma adequada, a cobrança deve ocorrer no sentido de que funcionem. “Criar mais alguma coisa é um clientelismo de atitude demagógica e populista”, criticou. Lembrou que o então presidente Lula e depois a presidente Dilma estiveram em Varginha, prometeram e nada fizeram em prol da cafeicultura. “É um atraso. Quem estiver do lado desse povo está contra o cafeicultor”, atacou.
AUDIÊNCIA EM NOVA RESENDE - No dia 30/04, foi promovida audiência pública no município para o lançamento da Frente Parlamentar em Defesa da Cafeicultura da Assembleia Mineira. Para Melles, nas audiências públicas promovidas, é preciso primeiro fazer um nivelamento da realidade. Ou seja, conhecer os motivos da mobilização e suas intenções.
Melles ainda esclareceu que a Frente Parlamentar do Café, do Congresso Nacional Federal, foi reorganizada e lançada na última semana. Conta com 30 senadores e 200 deputados federais. O objetivo é desenvolver ações em defesa do produtor e trabalhador da cafeicultura. Entende, inclusive, que a lei de terceirização será um a avanço para o produtor rural que depende da mão de obra.
MARKETING PARA O CAFÉ É UM ATRASO - Com esta afirmação, Melles justificou que atualmente o Brasil é praticamente o primeiro consumidor de café do mundo. O marketing utilizado foi a própria qualidade do café que cresceu nos últimos anos. “É tirar dinheiro para uma coisa que não tem necessidade e enfraquecer as outras organizações”, disse. Para ele, é mais simples cobrar o funcionamento dos diversos órgãos do setor, até mesmo substituindo as lideranças.
OUTRAS CRÍTICAS - Carlos Melles ainda criticou o governo federal pela ausência do plano de safra para a cafeicultura. Da mesma forma, considerou o PRONAF um desastre e uma verdadeira tapeação. “Nunca vi uma resistência política tão grande com o café como existe no governo do PT”, falou.