Publicado em 17/02/2020 - agronegocio - Da Redação
O rebanho bovino brasileiro, segunda principal fonte de emissão de gases de efeito estufa no país, é também o segundo maior do mundo, com mais de 213 milhões de animais, de acordo com a Pesquisa da Pecuária Municipal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2018. O artigo Large-scale pasture restoration may not be the best option to reduce greenhouse gas emissions in Brazil, publicado por pesquisadores da UFMG no portal IOPScience, aborda sobre a redução do rebanho e o aumento da produção de carne bovina, além de apontar como insustentável a estratégia de reformar pastagens degradadas.
“Embora sejamos os maiores exportadores de carne bovina no planeta, nossa produtividade é baixa, se considerado o tamanho do rebanho e do território usado nas pastagens”, afirma o professor Britaldo Soares-Filho, do Departamento de Cartografia do Instituto de Geociências (IGC) da UFMG, um dos autores do artigo.
Impulsionado pela demanda da China pela carne bovina
brasileira – o país asiático recentemente perdeu 40% da sua criação de porcos
em razão da peste suína –, o Brasil pretende aumentar a produção nacional,
saltando de 9 para 12 milhões de toneladas anuais de carcaça. Segundo Britaldo
Soares-Filho, o cumprimento dessa meta passaria pela reforma de 30 milhões de
hectares de pastagens degradadas – estratégia que, em sua avaliação, é
ambientalmente insustentável. “As pastagens já ocupam quase 25% do território
do país. Um foco apenas na reforma vai incentivar o crescimento do rebanho”, prevê
o professor.
Para ele, um mix de estratégias fundamentadas na pecuária intensiva –
método que prescreve o abate do gado com menos tempo de criação – seria a
solução para alavancar a produção, proteger o meio ambiente e reduzir a emissão
de gases de efeito estufa. “Reunimos o conhecimento de muitos especialistas em
um sistema computacional, com o qual é possível simular diferentes estratégias
de manejo. Não basta só reformar as pastagens, é preciso aplicar um conjunto de
estratégias para potencializar os resultados”, observa.
Confinamento
Como explica o professor, cada cabeça de gado emite, anualmente, o equivalente
a uma tonelada de CO2. Para reduzir o rebanho e, consequentemente, a emissão de
gases de efeito estufa, é necessário intensificar a criação, estratégia que
requer o confinamento do gado em espaços menores e complementar a alimentação
dos animais com grãos e ração, incluindo os bezerros em aleitamento. “O tempo
para se chegar ao ponto de abate cai de três anos para apenas 24 ou mesmo 20
meses. A carne do animal criado em confinamento é mais saborosa, porque contém
gordura acumulada entre as fibras musculares (marmoreio). É o produto gourmet,
que se compra em butiques de carne”, descreve o professor.
No entanto, esse tipo de carne é mais nocivo à saúde humana,
pois contém mais componentes químicos, como hormônios e antibióticos. “De fato,
o consumo de carne bovina não é ambientalmente sustentável. O mais correto
seria mudar o hábito alimentar dos brasileiros, incluindo mais pescados, aves e
carne suína. Enquanto isso não acontece, precisamos de uma pecuária que seja
menos impactante ambientalmente”, analisa Britaldo Soares-Filho. Ele lembra que o Brasil se
comprometeu a reduzir em 37%, até 2025, as emissões de gases de efeito estufa
(em relação a 2005), em cumprimento às cláusulas do Acordo de Paris, aprovado
em 2017.
Pressão internacional
De acordo com Britaldo Soares-Filho, o Brasil paralisou suas
políticas nacionais ambientais, razão pela qual os estudos levados a cabo em
seu departamento são também úteis para alertar a comunidade internacional sobre
os riscos ambientais impostos pelo país. “Nosso intuito é provocar pressão
internacional para que o país proteja o seu meio ambiente”, afirma.
O incentivo ao desmatamento, bem como à ocupação de terras indígenas e terras
públicas, é prática que, de acordo com o pesquisador, compromete a imagem do
agronegócio nacional, sobretudo perante o mercado europeu. Para ele, o
cumprimento comprovado da lei ambiental (leia-se Código Florestal) no Brasil
seria capaz de ampliar o mercado para os produtos brasileiros. “Os chineses,
nossos principais compradores, poderão exigir, em futuro próximo, uma
comprovação de que a nossa carne não esteja associada a atividades ilegais,
como o desmatamento criminoso. Se o setor ruralista começar a sofrer prejuízos
com boicotes internacionais, poderá pressionar o governo a mudar sua postura”,
argumenta o professor do IGC.