Palavras Cruzadas

Publicado em 03/07/2009 - amauri-jr - Amauri Júnior

AÇÃO & REAÇÃO – EDIÇÃO 943 - 11.07.2009

POR AMAURI JÚNIOR, mais sênior do que júnior. Radialista, repórter e Mestre de Cerimônias. Um pouco de tudo e praticamente nada. E sempre surpreendido pelas coisas da vida. Quando acho que já vi quase tudo que envolve o ser humano, confesso minha surpresa em atos inesperados. Há poucos dias, estava eu sentado na área de entrada do Hospital Amaral Carvalho, em Jaú/SP. Aguardava a Van da Prefeitura e o horário para o retorno à Muzambinho. Pessoas entravam, outras saíam ou muitas também esperavam. A poucos metros estava Fiodermundo Marolla Júnior, o goleiro “Marolla”, vice-campeão brasileiro em 1983, perdendo a final para o meu Flamengo.
Em determinado momento, um fato me chamou a atenção. Uma senhora entrou no local carregando uma sacola cheia com algo que não consegui visualizar. Ela parou na entrada e conversou com o funcionário Sr. Antônio, do qual recebeu um sinal positivo. Aquela senhora, de aparência simples e caminhar tranqüilo, se aproximou de onde eu estava, abriu a sacola e perguntou:
- Quer uma palavra cruzada?
Talvez pela surpresa do inusitado, respondi que sim e de forma instantânea me movimentei para pegar um trocado na carteira e pagar. Imediatamente, foi impedido pela senhora, que se justificou:
- É de graça, pois este é um trabalho voluntário!
Convenhamos! A vontade de ajudar por parte de algumas pessoas não tem limite. Mais que isto, uma criatividade que surpreenderia a qualquer pessoa, em qualquer lugar. Pessoalmente, fiquei paralisado com tamanha surpresa. Pessoas distribuindo “palavras cruzadas” nos corredores do hospital foi um fato inesperado.
Analisando com mais calma, sem o calor do espanto ou emoção do gesto, é preciso dizer que a idéia é simplesmente “brilhante”. Em grandes hospitais públicos, aquele que é chamado friamente e sem piedade de “cliente”, só faz ESPERAR. Nos corredores gelados, apertados e com cheiro de tristeza no ar, as pessoas ficam sentadas em duras cadeiras, olhando umas nas outras, por horas e horas. E não adianta chorar!
A ação daquela senhora vai além de “passar o tempo” com a “palavra cruzada”. Sua importância está no espírito de doação do tempo. Na vontade de ajudar a quem precisa de atenção, assistência e carinho. Está em reconhecer a deficiência do serviço público, fazendo com que crianças, idosos e todos “penem” nas filas intermináveis ou nas cadeiras enfileiradas. E como diria Zé Ramalho: “Vida de gado, Povo marcado Êh! Povo feliz!”
Acho que mais conformado do que feliz com a vida de gado! Enquanto o cenário não muda, palavras cruzadas tentam preencher os espaços, amenizar as dores e passar o tempo. De tudo isso, fico com a lição de que podemos fazer mais do imaginamos. Fica a impressão de que atos completamente inusitados são importantes e fazem a diferença. E que a criatividade que vem do coração não tem limites. Sete de julho foi o Dia do Voluntário Social. Pense nisso!

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Muzambinho-MG