Publicado em 30/04/2021 - cesar-vanucci - Da Redação
“A democracia é nosso chão.”
(Manifesto
assinado por “presidenciáveis centristas”)
Apesar
de a pandemia, com sua estatística lúgubre, monopolizar, nesta hora, as
atenções, ou, talvez, até pelo contrário,
devido mesmo à circunstância deste flagelo humanitário assumir, a cada momento
que passa, feição mais assustadora, os setores políticos acharam conveniente
adentrarem logo a cancha e antecipar as confabulações pré-eleitorais mirando a
sucessão presidencial ano que vem.
Tendo
como signatários personagens tidos, na percepção de observadores da cena pública
como “presidenciáveis”, o “Manifesto pró-democracia”, vindo a lume, constitui
lance relevante nas manobras do tabuleiro de xadrez da campanha do pleito ainda
distante. Dá, sem dúvida notícia destacada da efervescente movimentação dos arraiais
partidários. Deixa expresso, antes de tudo mais, que a dolorosa questão do
coronavírus será tema fulcral dos debates na televisão, palanques, nos papos de
rua em todo percurso da retórica eleitoral. A outra conclusão extraída do pacto
que acaba de ser firmado por algumas influentes lideranças é de que existe, no
seio da comunidade, apreciável corrente de opinião desejosa de incluir na
disputa uma candidatura a chefe de governo com características renovadoras,
profissão de fé “centrista”, afastada prudentemente das lateralidades
ideológicas extremadas. O esquema se
aplica, obviamente, às governanças regionais.
O
entendimento dos autores do manifesto é de que o Brasil quer se ver livre da
polarização que prevalece, de há muito, no cenário em que se desenrolam acesos debates
das questões nacionais. O entre choque retórico ficaria absorvido, dentro dessa
linha de raciocínio entre grupos apontados como da direita e da esquerda. Uma
polarização, acentuam eles sumamente danosa ao interesse nacional. Daí a
proposta que trazem ao exame da sociedade, num memorial onde alegam estar
deixando de lado ocasionais divergências e interpretações diferenciadas dos
problemas políticos e administrativos, de uma terceira via quanto à próxima
disputa presidencial. Nessa altura das considerações, os responsáveis pela
divulgação do documento arguem a hipótese de que a indesejada polarização
colocaria, frente a frente Bolsonaro como candidato da direita e Lula como
candidato da esquerda. Os “presidenciáveis
sustentam a possibilidade de aglutinar forças dos assim chamados “centros”, “centro
esquerda e centro direita”, ganhando com isso chances de garantir a subida na
rampa do Palácio do Planalto, o candidato que venha a ser por eles consensualmente
lançado.
“A
conquista do Brasil sonhado por cada um de nós não pode prescindir da
Democracia. Ela é nosso legado, nosso chão, nosso farol. Cabe a cada um de nós
defendê-la e lutar por seus princípios e valores. Vamos defender o Brasil”, diz
o manifesto. Assinam o documento os ex-ministros Luiz Henrique Mandeta, do DEM,
até outro dia responsável pela pasta da Saúde do atual governo; e Ciro Gomes,
do PDT, que se candidatou em 2018; o governador de São Paulo, João Doria; o governador
do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, ambos do PSDB; o candidato do Novo no último pleito, João
Amoêdo, e o apresentador de televisão Luciano Huck, frequentemente mencionado
em listas dos chamados “presidenciáveis”. Existem informações de que o
ex-ministro e ex-juiz Sergio Moro participou, num primeiro momento, da elaboração
do manifesto, mas preferiu não apor sua assinatura no texto divulgado.
Nas
ações desencadeadas pelo “time da terceira via” não passaram despercebidas ao
arguto olhar dos analistas políticos, três situações em especial. O grupo consultou
o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, a propósito da posição tomada. Nos depoimentos
dos signatários, as críticas mais inflamadas têm como alvo o governo Bolsonaro.
Embora o ex–Presidente Lula haja manifestado interesse na formação de uma
coalisão de forças oposicionistas, os signatários do pacto não o convidaram a dele
fazer parte.
Cesar Vanucci - Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)