Publicado em 04/02/2019 - cesar-vanucci - Da Redação
“Nenhuma das 400 barragens que operam no Estado é segura” (Informação do IBAMA)
O flagelo imposto à comunidade é de tal proporção que
as pessoas, atordoadas, andam encontrando dificuldades em descobrir palavras
capazes de traduzir com precisão suas emoções.
Em que pese a explícita retumbância, até a expressão
INDIGNAÇÃO (assim mesmo, em caixa alta) revela-se insuficiente para descrever o
estado d’alma da gente do povo, diante de mais essa estridentemente anunciada
tragédia de Brumadinho. A predatória exploração das avultadas riquezas minerais
guardadas nas entranhas das Minas Gerais agride, outra vez mais, de forma
impiedosa, de uma tacada só, a sacralidade do ecossistema, os brios da
coletividade.
Com a promessa de repetir, mais na frente, a
ignominiosa proeza – valha-nos Deus, Nossa Senhora! -, devasta propriedades,
desfigura paisagens, mata inocentes, destrói projetos de vida. Os desatinos
praticados tornam altamente recomendável que a opinião pública mantenha os
aparelhos de percepção ligados, olhos bem abertos e ouvidos atentos. As
advertências que vêm sendo feitas por personagens respeitados em políticas
ambientalistas não podem ser ignoradas.
A sirene de alerta de catástrofes - sirene essa que,
por sinal, não soou a tempo de poupar vidas preciosas no pavoroso acidente de
agora - já está emitindo sons prenunciadores de que, nalgum instante próximo,
poderá descer mais lama encosta abaixo. “Nenhuma das 400 barragens que operam
no Estado é segura”, sustenta o Ibama. A perturbadora revelação é acompanhada
de outros dados estarrecedores, que quebram o sossego público e geram um
clamor.
Segundo o Governo de Minas, sete outras “estruturas de
contenção” (pelo que se está a ver, “contenção” de araque) correm riscos de
iminente rompimento, minha Nossa Senhora da Abadia da Água Suja! (Trata-se da
venerada padroeira de aprazível recanto do Triângulo Mineiro que já foi
conhecido por esta denominação e que hoje se chama Romaria). Já a Agência
Nacional das Águas (ANA) afiança, a seu turno, que somam quarenta e cinco as
barragens de minério que oferecem comprometimento estrutural a ponto de
impactar a segurança. As previsões sombrias de que calamidades similares às de
Mariana e Brumadinho venham a provocar novas manchetes de sofrimento e dor são
acrescidas de mais informações chocantes.
Estudos procedidos pela Feam apontam o fato de que 12
barragens, situadas em 7 municípios mineiros, vários deles na Região
Metropolitana de Belo Horizonte, já não ofereciam em 2017, época da última
averiguação, garantia de estabilidade. Há uma anotação curiosa a respeito, que
concorre expressivamente para ampliar a intranquilidade pública: o dique que
desmoronou em Brumadinho não figurava nas listas das estruturas sob risco, tá
bem? Tão sonante circunstância dá vaza, obviamente, a que ganhe robustez a
suspeita de que os levantamentos técnicos disponíveis não retratem com
fidelidade rigorosa o que rola no pedaço. Não fica fora de propósito, por
conseguinte, o entendimento de que o problema das tais “barragens de
contenção”, destinadas ao armazenamento dos rejeitos minerais, não é apenas tão
grave quanto a gente imagina, mas muito mais grave do que a gente jamais
conseguirá imaginar.
Não é por outro motivo, certeiramente, que o geólogo e
membro do “Movimento pelas Serras e Águas de Minas”, Paulo Rodrigues,
classifica, sem vacilação, os arcabouços de “proteção” montados pelas
mineradoras como autênticas “bombas-relógio”. Explicando que a vulnerabilidade
das represas pode sofrer a influência de fatores aleatórios, sendo que um
deles, por exemplo, seria o de pequenos abalos sísmicos, como o registrado na
apavorante tragédia de Mariana, o geólogo diz que “os pequenos tremores são
recorrentes no quadrilátero ferrífero”. Mas anota, paralelamente, outro fator
de risco inesperado, inacreditável, inaceitável, derivado tão somente da
ganância por lucros maiores, ao criticar a maneira como são implantados esses
complexos, ditos de proteção de vidas e do meio ambiente. Nestes termos a
desnorteante denúncia que traz: “As mineradoras montam sempre a estrutura mais
barata.” Ora, veja, pois!
De tudo quanto posto emerge, pujante e implacável uma
certeza: a comunidade se recusa a continuar dormindo com um barulhão desses.
Aguarda, esperançosa, de suas lideranças, a começar das autoridades
governamentais, que aponham um basta a tudo isto. Saibam elas, nossas
lideranças, erguer sólida barragem no entorno dos sagrados interesses nacionais,
impedindo que o lamaçal das ambições desmesuradas, da insensibilidade social,
da irresponsabilidade técnica pare de rondar sinistramente nossas vidas, nossos
lares, nossos patrimônios, nossas paisagens.
O tema comporta mais considerações.
Cesar Vanucci - Jornalista
(cantonius1@yahoo.com.br)