Publicado em 06/03/2020 - cesar-vanucci - Da Redação
“Dialogar com talibã em rede social é como jogar xadrez com pombo.” (Observação de uma cidadã inconformada com o tom de intolerância reinante nos whatsapp da vida)
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O
vírus. “Tipo da história mal contada. Aposto que tem coisa por
detrás...” Este seria, com certeza, o comentário de Tonão, meu saudoso pai,
diante da intensa repercussão ocasionada pela propagação mundial do
coronavirus. Revejo-o, no vídeo cassete da memória, em sua proverbial postura
indagativa naqueles momentos em que se via provocado por situações
surpreendentes ou desconcertantes. História mal contada. O coronavirus,
batizado cientificamente de Covid-19, pode não ser bem o que aparenta ser. A
insuficiência de informações, além de causar compreensível e generalizada
perturbação, gera especulações incontáveis. Recapitulando os fatos. Essa nova
ameaça de flagelo que sobrepaira sobre a maltratada espécie humana teria se
originado numa região específica da China. A área foi colocada sob “quarentena”.
Ninguém entra, ninguém sai. Medidas emergenciais de controle foram adotadas em
todas as partes do mundo. Criou-se o que, a grosso modo, poderia ser denominado
“cordão sanitário de isolamento”. Turistas que circularam pela China foram
submetidos a exames rigorosos, dentro de um sistema preventivo recomendado
pelos órgãos de saúde pública. Mas eis que, de repente, inquietantes sinais da
presença do temido vírus passaram a ser detectados noutras paragens. Em locais
consideravelmente distanciados daquele que tinha sido, até então, oficialmente
reconhecido como foco central da enfermidade. E isso aconteceu sem que
quaisquer liames fossem anotados entre os novos elementos infectados e o local
e pessoas contaminados na fase inaugural do processo. E agora, José? Será que o
coronavirus é mesmo uma doença, com propensão epidêmica, provocada pela
ingestão de carnes exóticas ao agrado do cardápio tradicional chinês? Ou será
coisa completamente diferente, por exemplo, uma mutação de microorganismo
nocivo espalhado pela atmosfera? Ou, ainda, como sugeriu, em tétrica
observação, indoutrodia, o escritor estadunidense Dean Koontz, um engenho de uma invisível guerra
bacteriológica? Algo apavorante que teria escapado à vigilância dos doutores
nirvanas, de nacionalidades diversas, que se consagram em laboratórios secretos
a experiências voltadas para dizimar e não para celebrar a vida?
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As
redes. “Abdiquei, definitivamente, da prerrogativa de frequentar as
redes sociais para diálogos sobre quaisquer temas, sobretudo políticos e
religiosos.” É o que afiança, em tom resoluto, uma amiga querida, intelectual
festejada. Adepta do xadrez, ela já conquistou inúmeros troféus em torneios concorrendo
com bam-bam-bans dessa modalidade recreativa, que proporciona ao praticante,
segundo esclarece, higiene mental equivalente ao de uma caprichada meditação.
Acrescenta: - “Não está dando mais, jeito maneira, pra trocar “figurinhas”,
intercambiar opiniões, com a horda de hunos fanáticos que se apoderou, com
irremovível jactância, de fatias consideráveis do espaço franqueado a
bate-papos. Os “talibãs terraplanistas” soltos na praça – rotulemo-los assim –
se socorrem dos mais chiliquentos recursos para expor estapafúrdias teorias.”
Minha amiga complementa seu ponto de vista com outra curiosa observação.
Participar de algum debate com esse pessoal dá uma canseira dos diabos, só
debelada com cuidados terapêuticos esmerados. É como se alguém – exemplifica - se
dispusesse a disputar uma partida de xadrez, imaginemos, com um pombo. O
oponente – ou seja, o pombo – fita você com ar superior. Esparrama com as patas,
desordenadamente, as peças arrumadas no tabuleiro. Libera fétidos excrementos.
E, inopinadamente, sem lhe dar a chance de mover sequer um peão, cabeça bem
ereta, peito estufado, arrotando banca de enxadrista imbatível, abandona, todo
majestoso, o cenário da competição. E vai arrulhar noutra freguesia.
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O
motim. Esse episódio, pérfido e desassossegante, do motim dos policiais
cearenses faz mal, bastante mal à democracia. A Carta Magna proíbe a
participação de agentes de segurança pública em atos grevistas. A rebelião,
encontrando irresponsável apoio em segmentos políticos minoritários (conquanto influentes),
propagandistas de carteirinha do “quanto pior, melhor”, faz jus a frontal
repúdio por parte da comunidade. A ação de alguns amotinados foi pontuada por
façanhudas exibições públicas. Os grevistas deixaram indefesos cidadãos à mercê
da bandidagem. Foram flagrados nas ruas carregando, de forma intimidatória, armas
adquiridas com o dinheiro público para defesa única e exclusiva dos soberanos
interesses da população. Alvejaram, num lance inconcebível, um Senador da
República. Simplesmente estarrecedor. Alarmante. Mas, a bem da verdade inteira,
é preciso que se reprove também, com veemência, o gesto infeliz do
ex-governador de Estado. Pilotando uma retroescavadeira, ele tentou, no auge da
insensatez, invadir recinto em que os policiais indisciplinados se entrincheiravam.
Claro está que uma situação desse gênero colide em cheio com as normas
institucionais e com o bom-senso.
Cesar Vanucci - Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)