Publicado em 07/08/2020 - cesar-vanucci - Da Redação
“O racismo no Brasil é tão cruel, dói tanto, que tu te negas a falar dele.” (Paulo Paim, Senador)
A
raça humana é uma só. Cor de pele é mero detalhe. Se negra, branca, amarela,
parda, rosada - em tons mais ou menos acentuados, consoante a diversidade
biológica natural – tudo isso, repita-se, não passa de detalhe. Assim como a
cor dos olhos, ou dos cabelos. Ou a estatura e o peso das pessoas.
A
raça humana é uma só. Em nada influem, para que essa verdade verdadeira deixe
de ser reconhecida, as circunstâncias de os indivíduos nascerem, ou viverem,
nessa ou naquela região específica deste planeta azul. Bem como as constatações
de que eles pratiquem cultos, cultivem hábitos e costumes, falem línguas e
enverguem trajes diferenciados, uns dos outros. A raça humana é única. A recusa
na aceitação plena desse preceito de vida universal, na efervescente
convivência social, gera uma aberração cruel e repulsiva chamada racismo. Um
vírus que, contaminando mundão de viventes por aí, produz enfermidades e
mortes, escancara instintos bestiais, alveja inclementemente a dignidade da
vida. Faz, também, com que humanistas da maior envergadura intelectual suscitem,
por vezes, dúvidas quanto à assertiva, sagrada para contingentes apreciáveis do
mundo civilizado, de que o homem é ser de luz moldado à imagem e semelhança de
Deus.
O
racismo, com todo seu cortejo de horrores e injustiças, é antigo e universal.
Contribui significativamente para que se perpetue o dramático problema das
desigualdades. De visibilidade permanente nos atos cotidianos, a questão é
exposta com abundância de evidências em tudo quanto é pesquisa de
comportamento, seja aqui, seja alhures. Fixemo-nos na situação brasileira.
Cá
estão alguns indicadores sociais apontados em levantamento recente do IBGE.
Retratam com fidedignidade as cores da desigualdade, as notórias fragilidades
econômicas e sociais enfrentadas pela população negra.
1.Desemprego
e subocupação – pardos ou negros, 66 por cento; brancos, 33 por cento. 2.Rendimento
médio mensal da mão de obra ocupada – R$2.796,00, brancos; R$1.608,00, negros
ou pardos. 3.Trabalho informal – 47%, pardos ou negros; 35%, brancos. 4.Cargos
gerenciais – 29,9%, pardos ou negros; 68,6%, brancos. 5.Hora paga no mercado de
trabalho para assalariados com diploma – R$33,00, brancos; R$23,00, negros ou
pardos. 6.Participação na vida política – negros e pardos representam 24% dos
quadros parlamentares formados nas eleições de 2018. É oportuno lembrar que a
população brasileira é composta, em mais de 55%, por negros e pardos.
De
um trabalho jornalístico divulgado na “Folha de São Paulo”, edição de 19 de
julho, assinado por Érica Fraga, recolhemos informações que fluem no mesmo sentido
das revelações do IBGE. Mulheres brancas desfrutam de vantagens salariais no
confronto dos holerites com as trabalhadoras negras ou pardas. A comparação,
envolvendo profissionais da mesma faixa etária, mesmo grau de escolaridade e
mesmo lugar de residência, acusa diferença média mensal de R$475,00. Mais um
lance perturbador. A desigualdade, no tocante a rendimentos femininos por conta
da cor da pele, ao invés de cair, só vem fazendo crescer. Em 2012, a diferença
apurada era de 11,5% (ao contrário dos 14% de 2019), equivalendo em valor a
R$364,00, descontada a inflação do período. No caso masculino, a diferença
salarial é, na atualidade, de 13%, observadas as mesmas circunstancias já
pontuadas (faixa etária, escolaridade e mesma região domiciliar). Esse
percentual representa R$624,00 a menos na folha de pagamento de negros ou
pardos.
“O
racismo no Brasil é tão cruel, dói tanto, que tu te negas a falar dele”,
denuncia Paulo Paim, Senador gaúcho, uma rara presença negra na Casa,
acrescentando que o Congresso espelha a tremenda desigualdade racial, com
conotações sociais chocantes, existente no País.
Tudo
quanto aqui relatado, flagrantes de tormentosa questão que abarca facetas a
perderem de vista, deixa soltas no ar perguntas que colocam em desconforto a consciência
coletiva. Por quê pretos e pardos ganham menos que brancos? Por que se lhes são
destinados tão poucos cargos de chefia? Por quê, embora sejam 55,8% da
população brasileira, eles ocupam apenas 24,4% das cadeiras parlamentares?
Indagações embaraçosas, que nem essas, obviamente brotarão de quaisquer
análises a respeito das condições vivenciadas pela comunidade negra em matéria
de moradia, infraestrutura básica, educação, saúde etecetera e tal...
Cesar Vanucci - Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)