Publicado em 18/02/2019 - cesar-vanucci - Da Redação
“Não deve haver facilitação à posse e ao porte (de arma).” (Coronel Klinger Sobreira de Almeida)
Personagem de frisante presença no panorama cultural
mineiro, presidente da conceituada Academia de Letras “João Guimarães Rosa”, da
Polícia Militar, o coronel Klinger Sobreira de Almeida é, além de tudo isso,
reconhecido especialista em questões de segurança pública. Ocupou ainda na
corporação em que fez carreira, entre outras relevantes funções, a chefia do
Estado Maior. Pois bem, é deste ilustre cidadão, dono de sólida formação
humanística, que recebo sugestiva mensagem, acompanhada de lúcidas
considerações, a propósito das gritantes inconveniências, para a paz e
tranquilidade comunitária, de um eventual afrouxamento no controle do comércio,
propriedade e porte de armas.
Tendo em vista a atualidade da questão, intensamente
debatida e objeto de flamejantes críticas por parte de ponderáveis segmentos da
sociedade, tomo a liberdade de reproduzir os textos recebidos neste espaço
democrático aberto a reflexões sobre a problemática da vida. A mensagem: “Prezado confrade Cesar Vanucci, A meu ver, o atual governo adentra por
um viés perigoso, facilitando a posse de armas de fogo à população. No meu
modesto círculo de influência tenho alertado sobre esse perigo. Lendo seus
artigos, vejo que você comunga na mesma linha de pensamento. Assim, envio-lhe
um artigo que difundi entre amigos brasileiros em outubro do ano passado.
Recebi aplausos, mas, também, críticas. Permaneço alertando, porque, pelo
“andar da carruagem”, caso essa política governamental continue, vamos, num
porvir breve, assistir ao retorno de atitudes impensadas na solução de pequenos
atritos. E mais: esses homens armados serão, por absoluta incapacidade de
confronto, os supridores de armas para os delinquentes contumazes. Saudações, Klinger
Sobreira de Almeida”.
O comentário: “População armada?Insensatez. “Homens desarmados, em caso de
briga, poderão ir aos pescoções; armados, vão com mais frequência à morte.”
(in Portaria sobre Porte de Arma –
Mar1956, Mantena – Cap. José Geraldo Leite Barbosa, Delegado Especial de
Polícia).
Em 1958, Leite
Barbosa, tarimbado policial, lançou o livro “Aspecto Policial de Mantena”. Essa
obra, para nós, iniciantes na carreira, desvendou os horizontes da profissão. A
maioria leu, releu, internalizou, comentou e discutiu em aulas.
Nas décadas de 60/70,
andarilho policial nos sertões mineiros e em outros Estados, ora comandante de
tropa, ora Delegado Especial de Polícia ou Capturas, tive de combater as duras
realidades descritas pelo autor: o porte indiscriminado de arma de fogo e suas
funestas consequências – tentativas e homicídios. O controle de armas no
interior – comércio, registro e porte – era uma ficção. Revólveres, garruchas e
munição de todos os calibres eram comerciados livremente em várias cidades de
porte médio. A população armava-se e municiava-se com facilidade. Os
adolescentes tinham, via de regra, como presente, uma boa garrucha.
Questiúnculas ou conflitos eram resolvidos à bala. O índice de crimes contra a
vida, assustador. Possuir arma de fogo, mesmo sem registro não constituía
infração penal. Portá-la, contravenção penal de pena irrisória, em que o
flagrado se livrava solto independente de fiança. Disparo de arma em via
pública, mera contravenção.
Visando conter os
crimes contra a vida, a polícia desdobrava-se na repressão. As autoridades
cônscias, naquele torvelinho de falta de controle, apreendiam centenas de armas
de fogo. Porém, em face da fragilidade da legislação penal, instaurar processo
contravencional era inócuo. Remetiam-se as armas para a Delegacia de Armas
Munições e Explosivos do antigo DOPS. O ciclo era realimentado.
Comandando o 14º
BPM/Ipatinga, de abril75 a Ago78, com jurisdição em 49 municípios, fizemos uma
experiência de avaliação das frações operacionais. Nas áreas e setores de baixo
índice de crimes contra a vida, ocorria uma repressão máxima ao porte de arma
de fogo. Posteriormente, constatamos o mesmo na RMBH.
Luta insana!
Felizmente, nos primórdios de 2000, os legisladores despertaram. Surgiu uma
primeira lei, depois outra. Estabeleceu-se rigoroso controle do comércio,
propriedade e porte. A polícia passou a contar com instrumentos eficientes de
repressão. Mas, apesar dos resultados positivos, nota-se, atualmente, uma
pressão para a volta ao status quo
anterior, ou alívio no controle. Lamentável se isto acontecer! Não deve haver
facilitação à posse e ao porte. Caso ocorra, o que vamos colher é a
intensificação dos atentados à vida. O cidadão armado, naqueles instantes de
desequilíbrio emocional, vai recorrer à violência. Além de resultados trágicos,
será o supridor de armas para os delinquentes. Arma de fogo é algo perigoso. Só
deve possuí-la em casa, ou portá-la, o policial ou militar bem treinado.
Veja-se que até estes se envolvem, às vezes, em acidentes trágicos. Outro
aspecto: vigilantes treinados, raramente, quando o alvo da vigia é assaltado,
levam vantagem; normalmente, acrescem o arsenal do bandido. Em suma: população
armada?Insensatez Humana e Jurídica.
Cesar Vanucci - Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)