Publicado em 06/05/2019 - cesar-vanucci - Da Redação
“E de repente
nós percebemos o significado dos sinais.” (Robert Prost, poeta estadunidense)
Atentar para os
sinais é preciso. São preocupantes. Provocam espanto. Geram inquietação
intelectual. Não há como deixar de admitir algo estranho no ar, algo além dos
aviões de carreira, relembrando dito jocoso do Barão de Itararé.
Sinalização
indesejável. Para quem possua olhos pra enxergar, ouvidos pra escutar e
percepção aguçada, deixa à mostra reações comportamentais merecedoras, a esta
altura, de reflexões e ações serenas, mas resolutas. Os segmentos da sociedade
comprometidos com as crenças humanísticas e espirituais que conferem dignidade
à aventura da vida não podem ignorar tais sinais.
As reações
comportamentais sob o foco de nossa atenção neste comentário são detectadas,
envoltas em variados pretextos e em diversificadas escalas, aqui dentro e lá
fora. No atacado e no varejo, pode-se mesmo dizer. São abundantes esses sinais
de que muita coisa anda escapulindo ao controle social regido pelo bom-senso.
Alguns desses sinais chegam a parecer, a um primeiro olhar, falsidades
disseminadas com o intuito de confusão. “Fakes”, como é de moda dizer. Há,
ainda, indicações brotadas de episódios que resvalam bizarrice, mas nem por
isso despojados de componentes corrosivos.
Na contemplação do
que vem rolando, ocupemo-nos primeiramente de acontecências no cenário
internacional. Longo aí o desfile de revelações perturbadoras. Febricitantes
articulações geopolítico-econômicas levantam interrogações sem conta. Algumas
delas, alinhadas na sequência. Como explicar o “ensurdecedor silêncio” que
presentemente rodeia a sanguinolenta guerra na Síria, se até indoutrodia esse
confronto bélico rendia, em todas as edições jornalísticas, estrondosas
manchetes? De outra parte, qual a razão de haver arrefecido o noticiário a
respeito do terrorismo praticado pelas legiões fundamentalistas do EI, depois
que as ações desses fanáticos passaram a se concentrar na parte de lá do mundo,
como sucedeu, dias atrás, no pavoroso atentado no Sri Lanka? Explique, quem for
capaz, os motivos pelos quais as grandes lideranças políticas mundiais, com
inestimável cooperação midiática, mantêm-se em sepulcral mutismo diante das
estarrecedoras violações aos direitos humanos cometidas, continuamente, na
Arábia Saudita e no sultanato de Brunei? Para quem ainda não sabe, nesses dois
países, governados por déspotas de mentalidade medieval - donos de riquíssimas
jazidas petrolíferas exploradas por poderosos consórcios norte-americanos e
europeus –, os “códigos penais” prevêem mutilações de órgãos, decapitação a
golpe de sabre, apedrejamento e crucificação em praça pública de criaturas que
infrinjam normas de vida que não estejam ao agrado dos poderes dominantes.
Os sinais de que
coisas bastante estranhas, ou, quando pouco, “diferentes”, vêm pipocando no
cenário mundial são sem dúvida significativos. Reclamam, voltemos a anotar,
atenção. Que interpretações, por exemplo, extrair-se dos anúncios, feitos com
algum estardalhaço, tanto pela Casa Branca como pelo Kremlin, de que não mais
se lhes interessa participar de acordos, celebrados com euforia na época em que
foram firmados, em torno da contenção da corrida armamentista? Qual o
significado do, chamemos assim, “banho Maria” em que foram largados os
entendimentos, tidos de início como altamente promissores pelas partes, entre
os Estados Unidos, de Donald Trump e a Coréia do Norte, de Kim Jong-un?
Como analisar, dentro do mesmo contexto, o recente encontro do ditador coreano,
recepcionado com extrema gala, em Moscou, pelo colega Vladimir Putin?
Comentadas com
exagerada parcimônia, as recentes manobras militares conjuntas de chineses e
russos, primeiras a ocorrerem em longo espaço de tempo, são de molde a
sinalizar, pela mesma forma, algo que clama por interpretação adequada de
qualificados estudiosos da conjuntura política planetária. E o que não dizer do
drama dos refugiados? Acossados pelas loucuras bélicas em tantos pontos do
atlas, milhares de seres humanos continuam a enfrentar esse drama em toda sua
inteiriça perversidade. Mas, por razões que a própria razão desconhece, a
tormentosa questão andou tomando “chá de sumiço” no noticiário nosso de cada
dia...
Ficando hoje por
aqui nessas narrativas, juntamos agora a esse conjunto de lances, que sinalizam
situações no mínimo confusas, mais um desconcertante registro. É irrazoável e
incompreensível o desinteresse dispensado pela comunidade internacional à
inacreditável história das centenas e centenas de menores, filhos de
imigrantes, recolhidos a “abrigos”. Eles
foram desapartados dos pais, latino-americanos, à hora da travessia, quando os
mesmos tentavam penetrar ilegalmente em
solo estadunidense. O cativeiro de muitas dessas crianças já se estendeu por
tempo demasiado.
Cesar Vanucci - Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)